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Beira-Rio: torcedores voltam com emoção, alegrias e críticas

Nova estrutura do Beira-Rio impressiona torcedores, mas obrigação de sentar e preços dos bares causam preocupação

16 fev 2014 - 09h14
(atualizado em 17/2/2014 às 09h59)

O reencontro dos torcedores do Internacional com o Beira-Rio foi marcado pela emoção e pela alegria. Mesmo sendo um evento-teste, com muitos problemas de mobilidade e com o pátio como canteiro de obras, os mais de 10 mil torcedores que voltaram ao estádio colorado não conseguiram esconder a sua satisfação com o retorno à velha casa.

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"Eu não tenho palavras. É espetacular, é lindo demais", disse a artista plástica Vera Cubas, 56 anos. Vera lembrou do pai, que a acompanhava no antigo estádio, e chorou muito tanto na entrada, como no intervalo. "Eu venho no Beira-Rio desde os nove anos de idade. A minha emoção, eu sempre direciono para ele. Eu sei que onde ele está, ele está feliz", afirmou Vera.

O evento era exclusivo para sócios, que fizeram o check-in pelo site do Internacional. Algumas pessoas tentaram vender ingressos no entorno do estádio, ainda que isso fosse proibido. Lá dentro, o clima era de confraternização, como se os torcedores estivessem reencontrando um velho amigo de concreto armado e agora, com cadeiras vermelhas. "Parece que os 10 mil ingressos foram para 10 mil conhecidos", disse Francys Abati.

"É muito f..., eu não tenho como explicar. Nem quero saber do jogo, que se dane, já vi tudo que tinha que ver", disse um torcedor que preferiu não se identificar. Renato Gomes, 22 anos, ficou impressionado com a climatização dos corredores, e disse querer repetir no estádio os títulos que viu, como a Sul-Americana de 2008 e a Libertadores de 2010. Ao lado dele estava o vendedor ambulante Beto Epifânio, 58 anos, que trabalha no Beira-Rio desde pequeno e esteve na inauguração, em 1969. "Sensacional isso aí. Tudo funcionando direitinho, nenhuma confusão", disse Beto, enquanto era abordado pelos colorados.

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Matheus, 4 anos, mal focava os olhos na partida. Olhava para as arquibancadas como se elas fossem a atração principal da partida. Era a terceira vez no Beira-Rio: nas outras duas, tinha 2 anos de idade. "Acho que tinha que melhorar as passagens pelos corredores, parecem meio apertadas. De resto, tudo bem", disse seu pai, Marcelo Aguirre, 40 anos, representante comercial. "Quero ver como vai ser ele lotado. A melhor coisa é o calor da torcida, essa banda tocando aqui do lado", disse.

Os meninos do projeto Genoma Colorado, do bairro Jardim Vila Leopoldina, em Porto Alegre, mostravam mais ansiedade que emoção. Queriam encontrar o ídolo D'Alessandro: o estádio novo era pouco mais que um acessório para o sonho maior de entrar em campo com o time. Todos eles jogam em um programa que pertence às categorias de base do Inter, que tem como objetivo ensinar "esporte e cidadania". Entre eles Michael, que ostenta cabelos crespos e castanhos como os de David Luiz.

"O que está achando do estádio? Qual a sensação?", foi a pergunta. "Legal", respondeu ele. "E o que mais?". "Deixa eu ver aquele lance".

Era uma falta do seu ídolo, D'Alessandro. Acabaria na barreira.

A auxiliar administrativa Bibiana Carvalho não conseguia esconder o sorriso ao ver o estádio, mas também teve suas críticas e citou a remoção de um torcedor mais exaltado. "Estranhei um pouco ficar sentada o tempo inteiro. Pessoal estava brigando ali, queria assistir ao jogo de pé, o pessoal pediu para ele sentar e deu um stress", disse. O torcedor referido xingou e fez gestos obscenos para os demais torcedores, até ser retirado da arquibancada por um orientador. 

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"Não sei como vai funcionar na Copa e depois disso, mas a fila para entrar estava bem complicada. Dava muitas voltas, ia até o estacionamento", afirmou. "Os preços das coisas estavam mais caros. Um picolé a R$ 7 é complicado, uma água a R$ 5 também", disse. O telão ficou ligado por pouco tempo - inclusive, quando foi ligado, os torcedores vibraram como se fosse um gol - mas o sistema de som mecânico apresentou problemas. "Não conseguia ouvir o que ele falava", disse Bibiana.

Daniel Fontana, 33 anos, historiador e empresário, se encostou na parede para absorver as novas sensações. "Estou tentando me acostumar. Uma das vantagens que a gente teve foi manter o local, mas estou sentindo falta de algumas referências. E o modo de torcer. Não estou acostumado, a gente se sente um pouco menos livre, dá a impressão que sempre estamos atrapalhando alguém quando temos uma reação mais espontânea". 

Daniel também se preocupa com a elitização do estádio. "No Rio Grande do Sul, o Internacional sempre foi identificado com classes mais populares. O processo (de afastamento das classes populares) não é novo, mas acho que vai radicalizar mais", disse Daniel. "Se eu estivesse tratando de uma loja, se viesse aqui consumir, eu diria que está tudo melhor, a copa, os banheiros...mas do ponto de vista emocional, parece tudo mais frio, e não é isso que a gente vem procurar no estádio", afirma o historiador.

Diana Oliveira, vice de administração do Inter, e Max Carlomagno, presidente da Comissão de Obras, passaram boa parte do jogo ao lado dos torcedores. Diana foi abordada, inclusive, por torcedores que reclamavam do fato de ter que assistir ao jogo sentados. "Houve problemas típicos da dinâmica da operação. Tivemos falta de luz hoje pela manhã, por exemplo. De resto, acho que é uma experiência proveitosa para os torcedores. Existem adaptações que precisam ser naturais, que fazem parte da dinâmica da torcida, e a gente não deve perder nossa alma", disse Diana.

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"É impressionante a fisionomia dos torcedores quando eles entram", afirmou Carlomagno. "Parece que o torcedor está voltando para casa e positivamente impressionado". 

Carlomagno disse que as comidas quentes (pastéis, cachorros quentes) não foram liberadas, e os preços deveriam se adaptar ao mercado. "O salgadinho custa R$ 7, agora é R$ 4,50, eles vão ter que se adaptar".

O próximo evento-teste do Beira-Rio poderá ter todo o anel inferior aberto, com cerca de 20 mil torcedores sentados. Para isso, Diana e Max afirmam que a pesquisa de opinião - um folheto com notas de 1 a 10 sobre 15 itens relativos ao estádio - é fundamental para colher as impressões e melhorar os próximos eventos. "É com isso que vamos saber o que o torcedor deseja", afirma Max.

Fonte: Terra
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