‘A CBF tenta enterrar as pioneiras’, dispara ex-jogadora da Seleção Brasileira

Medalhista de prata em Atenas, atacante busca o reconhecimento da entidade para a sua geração

16 ago 2023 - 14h31
(atualizado em 17/8/2023 às 10h28)
Craque da seleção, Roseli de Belo fugiu de casa para começar a jogar bola
Craque da seleção, Roseli de Belo fugiu de casa para começar a jogar bola
Foto: Reprodução/Site CBF

Roseli de Belo fez parte do elenco que disputou o Mundial experimental na China em 1988 e esteve presente na estreia das mulheres do futebol nos Jogos Olímpicos de Atlanta. Foram 16 anos representando a camisa amarelinha. Destacada por sua habilidade, a atacante ficou conhecida como a artilheira dos gols bonitos. Há 19 anos aposentada da seleção, a jogadora segue batalhando por espaços e cobra apoio da CBF para as pioneiras.

Desde que deixou os gramados, a ex-jogadora tenta fazer uma especialização para trabalhar com a modalidade, mas esbarra nos valores dos cursos oferecidos pela entidade, que ignora a necessidade de ofertar bolsas e auxílio para as ex-atletas.

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Um curso completo para treinador, por exemplo, passando por todas as licenças para assumir um time profissional, custa em média R$40 mil.

Roseli decidiu fazer uma qualificação em gestão, para atuar nos bastidores do futebol. Ainda é uma função pouco ocupada por mulheres nos clubes masculinos e femininos. Também é raro vê-las em cargos dentro das Federações, ou da própria CBF.

Foi por meio de eventos feitos durante a Copa do Mundo da Austrália e Nova Zelândia, que a primeira camisa 10 da seleção feminina conseguiu verba para pagar por sua especialização.

 “A verdade é que a CBF tenta enterrar as pioneiras, mas não vai conseguir, vamos fazer os cursos. Nem que a gente faça vaquinha ou vá para a televisão, de uma forma ou outra vamos conseguir. A gente só quer trabalhar, não estamos pedindo nada para ninguém. Queremos nosso espaço. Servimos a seleção e foi bom para a CBF e para a mídia. Agora, a gente quer mostrar um pouco do que aprendemos lá atrás. Eu quero fazer o melhor pelo futebol feminino”, disse a ex-jogadora.

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Roseli e Pretinha firmaram parceria de sucesso com a camisa da seleção brasileira
Foto:

Com participação em três Olimpíadas (1996, 2000 e 2004), e dois Mundiais (1991 e 1995), a atacante tem grande experiência em competições internacionais.

Em entrevista ao portal Terra, Roseli avaliou a eliminação precoce da seleção brasileira neste Mundial.

“Faltou desempenho e interesse. Não vou crucificar só a Pia, porque não é ela que entra para jogar, mas em algumas situações, ela deixou a desejar, como na escalação. Eu escalaria três atacantes para o último jogo. Respeito muito a Marta, mas nessa partida ela não deveria ser titular, assim como não foi nas duas anteriores. Não é crítica, mas antes a gente não falava nada, a seleção perdia e morria o assunto. Hoje em dia, o futebol feminino está muito grande, precisamos falar”, analisou a atleta, que atuou pelo Brasil de 1988 até 2004.

Para ela, Pia Sundhage não deve continuar à frente da seleção, mas espera que a técnica fique até as Olimpíadas de Paris, já que resta menos de um ano de preparação.

Segundo Roseli, o técnico do Corinthians Arthur Elias tem as credenciais para ser o sucessor da sueca.

“Eu levaria o Arthur, mas diria para ele não cair na conversa da CBF para não se perder, não pode deixar que a entidade entre na mente dele. Ele é antigo no futebol feminino, precisa se fechar com as atletas, porque é o nome dele que estará na reta. Eu também indicaria Juliana Cabral para compor a comissão técnica”, falou.

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Sobre a aposentadoria de Marta da seleção, Roseli lembrou o momento em que ela também decidiu se despedir dos campos.

“É difícil deixar de jogar futebol. Com certeza a Marta vai estar sempre com a seleção. Quando eu parei de jogar foi horrível, porque eu sempre queria estar junto ao futebol feminino. Quero desejar boa sorte para a Marta que fez muito pela seleção brasileira. Não podemos esquecer que ela é a rainha”, destacou.

Mesmo com o respeito à companheira de seleção, Roseli não deixou de criticar a entrevista coletiva dada por Marta um dia antes do jogo contra a Jamaica pela Copa do Mundo, quando a atual camisa 10 disse não ter tido referências quando começou a jogar bola.

 “Na verdade, exemplo ela teve sim, falou besteira. Assim que ela chegou a São Paulo ela foi para o Vasco e morou na casa da Daniela Alves. Para mim, Dani, Sissi, Roseli, Pretinha, Kátia Cilene e Tânia Maranhã, são várias jogadoras para falar, então ela teve exemplo sim”, apontou.

Dias após a eliminação do Brasil, a própria Sissi fez um post em seu Instagram, pedindo reconhecimento às pioneiras. "A nossa geração merece respeito (..) Não esqueçam quem veio antes", dizia o texto.

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Sissi fez desabafo sobre o reconhecimento às pioneiras do futebol
Foto: Reprodução/instagram

A imperatriz não citou nomes, mas nos bastidores, surgiram comentários de que a publicação foi motivada pela entrevista de Marta, ou pela postura de algumas jogadoras do elenco atual que, segundo relatos, não cumprimentaram as pioneiras que estiveram presentes no estádio Mané Garrincha, para uma campanha de marketing no jogo de despedida entre Brasil e Chile em julho, antes do embarque para a Austrália.

Assim como Sissi, Roseli segue cobrando a valorização para as mulheres que pavimentaram o esporte no país.

A atacante escreveu seu nome com a camisa da seleção, onde ganhou cinco títulos. Além da medalha de prata em Atenas em 2004, Roseli conquistou os Sul-Americanos de 1991, 1995 e 1998 e o Ouro no Pan-Americano de 2003 em Santo Domingo.

Roseli conheceu o mundo por meio do futebol de mulheres
Foto: Reprodução/Site CBF

Mesmo com a falta de suporte da entidade nacional, a jogadora tem o reconhecimento de parte da torcida, e espera que as pioneiras não continuem abandonadas.

Nomes importantes como a ex-capitã da seleção Elane, atualmente ganha a vida como motorista de ônibus no Rio de Janeiro.

Comentarista da Copa na Cazé TV, Dani Alves teve sua carreira interrompida por uma lesão no joelho. A meia chegou a trabalhar como açogueira no comercio de sua família, antes de voltar ao futebol como treinadora.

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Com passagens por clubes como o São Paulo, Corinthians, Vasco, Radar além de carreira em times de fora do país, Roseli não pretende desistir de lutar para que suas colegas de profissão usurfruam do que plantaram no passado.

“Eu me emociono com o reconhecimento das pessoas por mim. Elas falam, aplaudem, e isso me faz lembrar o que passei com a minha família, como foi difícil chegar até aqui, pois ela não me apoiava. Hoje em dia, minha família até me idolatra e vejo que tudo valeu a pena”, completou a ex-atacante. 

Fonte: Redação Terra
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