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RS: após reclamações na Copa, bares podem ser fechados

Moradores da Cidade Baixa reclamam de barulho e mau cheiro provocados por festas a céu aberto na Copa; prefeitura promete fiscalizar

17 jul 2014 - 08h06
(atualizado às 11h15)
Torcedores tomaram conta de ruas do bairro Cidade Baixa em dias de jogos em Porto Alegre
Torcedores tomaram conta de ruas do bairro Cidade Baixa em dias de jogos em Porto Alegre
Foto: Daniel Favero / Terra

Tradicional reduto de bares e restaurantes de Porto Alegre, o bairro Cidade Baixa foi tomado por milhares de turistas durante os dias de jogos da Copa do Mundo, transformando o cruzamento das ruas da República e General Lima e Silva em um grande Carnaval a céu aberto. Apesar de ter contribuído para a integração entre torcedores de todo o mundo, a festa não agradou aos moradores do bairro, que reclamam principalmente do barulho e tumulto provocados pelas grandes aglomerações. Em resposta às queixas, a prefeitura de Porto Alegre garante ter monitorado bares que tenham desrespeitado a legislação durante a Copa, e promete até mesmo interditar os estabelecimentos que cometeram irregularidades graves.

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“Ninguém é contra festa. Todos sabíamos que a Copa ia atrair um grande número de pessoas, e que a Cidade Baixa é um local procurado. Nós somos compreensivos nesse ponto, só que o poder público não fez a sua parte, que era garantir o respeito ao nosso descanso”, reclama Marcelo Oliveira da Silva, coordenador da página SOS Cidade Baixa, que reúne relatos de moradores insatisfeitos com a falta de fiscalização em bares do bairro. Segundo Marcelo, as principais queixas dos moradores são de desrespeito à lei do silêncio, acúmulo de lixo nas calçadas e o forte odor de urina e fezes na rua, além dos constantes bloqueios no trânsito.

“A Copa foi um inferno para moradores. A prefeitura permitiu que se trancasse o trecho da Lima e Silva entre a rua da República e a Luiz Afonso. Em nenhum momento fomos avisados, nem houve cadastramento de moradores para ir e vir, se houvesse necessidade”, afirma Daniele Peducia, que se diz surpresa com a falta de planejamento da prefeitura. “Eu não acredito que a prefeitura não soubesse que as pessoas viessem para a Cidade Baixa, porque já no aeroporto era dito para os turistas que o bairro era ponto de encontro. Não houve nenhuma reunião com moradores, nenhum credenciamento. A prefeitura mandava fechar a Lima e Silva, porque as pessoas tomavam conta da rua, e não tinha como sair, como chegar. Se alguém precisava trabalhar até mais tarde, não tinha como entrar em casa”, disse.

“Minha filha de 4 anos estava com febre alta e não tínhamos como sair de casa, pois trancam a rua. E aí? O carro, a gente, todos presos. Ou sai com a criança nos braços, com febre e tenta conseguir achar um táxi – que, claro, não tinha, pois nem queriam entrar no engarrafamento”, afirma Luciana Souza, uma das moradoras da esquina das ruas Lima e Silva e República.

Segundo Daniele, as festas na rua invadiam a madrugada, e o som alto de bares prejudicava o seu sono até por volta das 5h da manhã. Devido ao cansaço, Daniele tomou uma medida drástica: decidiu dormir fora de casa em dias de jogos. “Aconteceu em quatro jogos de a gente sair de casa e ir para um hotel. Não havia condições. Era 4h, 5h30, quando está quase tocando o relógio para acordar, e a festa ainda estava rolando. A gente passou duas noites em um hotel. Como dinheiro não dá em árvore, as outras duas a gente teve a sorte de dormir na casa de amigos”, relata.

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Morador flagra irregularidades

Morador de um apartamento localizado no “epicentro da festa”, Sérgio Peducia decidiu registrar em vídeo os transtornos provocados pelo Carnaval fora de época na Cidade Baixa. Segundo Sérgio, a prefeitura e o governo do Estado fizeram vista grossa para evitar conflitos durante a Copa, diante do olhar de milhares de turistas estrangeiros.

Colocação de banheiros químicos em frente a prédios residenciais também gerou queixas de moradores
Foto: Facebook / Reprodução

“O que acontece com a Cidade Baixa, a meu ver, é o que acontece com a Vila Madalena (em São Paulo) e com outros bairros boêmios das grandes cidades brasileiras: os bairros costumam ser zonas mistas e não há um zoneamento urbano adequado que delimite atividades comerciais e de lazer dos lugares residenciais. E como a Cidade Baixa é um dos cartões-postais de Porto Alegre, em eventos esportivos grandes como a Copa do Mundo, jamais será interessante ao poder público mostrar a cidade do cotidiano, quanto menos atender às reivindicações e aos direitos dos seus moradores. Afinal de contas, somos um país com mais deveres e obrigações do que com direitos”, atesta.

Em suas filmagens (veja no vídeo abaixo), Sérgio flagrou frequentadores do bairro urinando na fachada de prédios, mesmo a poucos metros de banheiros químicos instalados pela prefeitura. Aliás, a própria instalação dos banheiros também foi alvo de reclamações. “Os banheiros químicos foram colocados indevidamente em frente aos edifícios residenciais – sendo a posição ideal próxima dos bares que promoviam essa movimentação e que lucraram bastante com elas. Esses banheiros foram implantados sem nenhuma consulta aos moradores ou aos síndicos e representes da Associação dos Moradores da Cidade Baixa, uma vez que simplesmente, quando vimos, já estavam ali.”

Sérgio também registrou em vídeo a atuação de vendedores ambulantes, que instalaram barracas improvisadas no meio da rua para comercializar bebidas alcoólicas, sem fiscalização do poder público. “No vídeo, podes ver claramente uma tenda improvisada vendendo bebidas e que ficava abaixo de um edifício residencial. Não preciso nem te descrever o transtorno dos moradores que ali residem.”

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“Acredito que a Copa do Mundo foi acima das expectativas, mas o planejamento da prefeitura e do governo do Estado deixaram muito a desejar. Se tinha Fan Fest no Gasômetro, não seria interessante ter concentrado as atividades noturnas nos seus arredores? Cadê a revitalização da orla do Guaíba, tão prometida nos anos anteriores a 2014?”, questiona o morador.

RS: vizinhos de bares reclamam de barulho durante a Copa
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Promessa de fiscalização

Além de telefonar para a Brigada Militar (a Polícia Militar gaúcha), os moradores insatisfeitos também entraram em contato com o Centro Administrativo Regional (CAR) Centro, espécie de subprefeitura que administra a região que abrange o bairro Cidade Baixa. O gestor do CAR, Rodrigo Braga Kandrik, garantiu que os bares foram monitorados durante a Copa, e justificou a ausência de interdições.

Nas manhãs seguintes às festas, muito lixo ficava acumulado nas calçadas do bairro
Foto: Luciana Souza / Terra

“A gente teve conhecimento desses fatos, só não interditamos os estabelecimentos durante a Copa porque muitos estavam com turistas, pessoas de outros lugares que não tinham conhecimento sobre as regras. A responsabilidade toda é do empresário, dono do estabelecimento, que sabe das regras e não cumpriu. E como ele não cumpriu, a partir da semana que vem nós vamos agir com autuações, multas e também interdições”, prometeu Kandrik.

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Segundo o gestor, partiu do próprio prefeito José Fortunati (PDT) a orientação de ampliar o rigor nas fiscalizações já a partir do próximo fim de semana, o primeiro após o término da Copa do Mundo. “Nós vamos intervir a pedido do prefeito Fortunati, e vamos notificar, autuar e interditar os estabelecimentos. Não vai ser um só, vão ser vários, é isso o que eu posso te adiantar”, anunciou.

Daniele Peducia, porém, não se mostra muito otimista quanto ao futuro do bairro. "A Copa nos deixou um grande legado, o legado do desrespeito. Porque domingo de novo ficou um monte de gente na rua, com som a todo volume, e era 3h da manhã e a gente não conseguia dormir. Eu telefonei para a Brigada Militar e a moça só falou ‘nós não podemos fazer nada’. É uma causa perdida, sabe? A minha família tem apartamento aqui há 15 anos. Quando meu pai comprou, ele sabia que aqui tinha bares, mas não era assim”, lamenta a moradora, que está decidida a deixar o bairro.

“Eu pretendo em agosto, no máximo, estar me mudando daqui. Nós não somos amparados. O que a prefeitura fala na verdade é um grande protocolo, mas não se é cumprido. A Cidade Baixa é terra de ninguém. A lei aqui não existe. Então, apesar de gostar muito, lamentar, eu estou me mudando, porque não quero ficar noites sem dormir e ter que ir no outro dia trabalhar cansada, irritada. Eu trabalho com saúde, sou bem calma, mas tem coisas aqui do bairro que conseguem me tirar do sério. Não é qualidade de vida. Não acredito que vá mudar, acho que a lei facilita cada vez mais a desordem.”

Procurada pelo Terra, a Brigada Militar não havia se pronunciado até esta quinta-feira sobre as reclamações dos moradores.

Fonte: Terra
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