Muitos consideraram que o Botafogo brigaria para não cair no Brasileirão. O Glorioso mostrou um repertório inimaginável para a maioria. Foi bem armado taticamente pelo português Luís Castro, que se transferiu recentemente para o Al-Nassr, da Arábia Saudita, exatamente pelos grandes resultados no Brasileiro. Ele saiu e a peteca não caiu com o interino, Cláudio Caçapa. Agora, Bruno Lage comanda o time precisando ‘apenas’ administrar e não perder pontos preciosos para ser campeão de forma antecipada. A seguir, um não-ensaio sobre as razões para o sucesso do Glorioso. Aliás, o número 7 tem ligação com Garrincha e Fogão!
1 – ENTENDIMENTO DO SISTEMA DE JOGO
Depois do fracasso no Estadual, o técnico Luís Castro conseguiu implementar a filosofia de jogo a todos os atletas. O esquema tático varia muito durante as partidas. É muito difícil marcar os atletas que formam o sistema ofensivo do Botafogo. Eles têm grande mobilidade. Por exemplo, os volantes atacam e criam jogadas sem perder força na marcação. Eduardo, o meia de ligação, e Tiquinho, o camisa 9, trocam de posição a todo momento.
Os alas Júnior Santos e, agora, Luis Henrique confundem a marcação, pois trabalham como verdadeiros pontas em determinados momentos. Em outros, atacam com vigor e velocidade pelo meio.
São seis jogadores se movimentando demais no segundo e último terços do campo.
2 – BANCO DE RESERVAS FORTE E QUASE NO MESMO NÍVEL DA EQUIPE TITULAR
No Estadual, não parecia que o elenco era forte. Ledo engano. São vários exemplos dessa força do grupo. O volante Danilo Barbosa estava bem, se machucou e Marlon Freitas entrou no lugar e mostrou até mais repertório. Júnior Santos é o titular com boas arrancadas pela direita e até pisa na área. No entanto, Mati Segovia, meia canhoto aberto pelo lado direito, o substitui quase sempre na segunda etapa e mostra habilidade/técnica. Qualidades diferentes das do titular.
O veloz e oportunista Victor Sá era o titular na ponta esquerda, mas Luis Henrique veio com um repertório, talvez, mais consistente. Tem explosão e objetividade. Na verdade, o Botafogo tem um quarteto muito forte de pontas. São eles: Júnior Santos, Luis Henrique, Mati Segovia e Victor Sá.
Outro suplente que superou expectativas foi o atacante Carlos Alberto, de 21 anos. Reserva do América-MG, foi contratado sem alarde. Passou despercebido, mas já tem ótimos desempenhos entrando no segundo tempo e marcando gols importantes.
Lucas Fernandes e Gabriel Pires são meias polivalentes e já fizeram bons e ótimos jogos no Brasileirão. O lateral Hugo melhorou muito. Já Rafael, mesmo com a experiência internacional, que ajuda, e certa força na defesa, não teve muita sorte e convive com lesões.
Gustavo Sauer não teve muitas oportunidades e não mostrou o mesmo nível dos outros atacantes, mas é um jogador com algumas qualidades técnicas, como o chute de fora da área.
3 – GOLEIRO EM ÓTIMA FASE
Lucas Perri é o milagreiro do Campeonato Brasileiro. Teve atuações fora do comum. Foram muitas defesas difíceis. O goleiro de 25 anos está no melhor momento da carreira. Deve ser convocado pelo técnico interino da seleção brasileira, Fernando Diniz.
4 – ZAGA FIRME
Adryelson e o argentino Victor Cuesta estão em fases excepcionais. Os dois têm espírito guerreiro e de liderança. No Campeonato Brasileiro, mostram mais força do que duplas como Gustavo Gómez e Murilo, do Palmeiras, David Luiz (ou Fabrício Bruno) e Léo Pereira, do Fla, Nino e Felipe Melo (apesar do currículo, sempre parece que o Pitbull tricolor está quebrando galho ali na quarta zaga do Fluminense...e, na verdade, está), ou do que trios como o do Grêmio com Bruno Alves, Kannemann e Bruno Uvini.
5 – MUITA CRIATIVIDADE EM VÁRIOS SETORES
O meio-campo é formado por jogadores criativos. Depois da decepção com Patrick de Paula, os outros volantes estão atuando muito bem. Marlon Freitas, ex-Fluminense e Atlético-GO, conseguiu se impor tecnicamente e demonstra qualidade no passe.
Tchê Tchê se firmou como um segundo homem criativo. Não fica mais revezando o meio-campo com a lateral. Isso devia atrapalhar sua carreira. Tem mobilidade e velocidade na transição do meio-de-campo para o ataque. Aliás, tem facilidade para chegar ao último terço do campo. Consegue dar passes precisos em belas arrancadas. Contra o Bragantino e o Flamengo, fez ótimas jogadas pela direita e deu grandes assistências para Eduardo e Tiquinho marcarem.
A dupla de alas-pontas (ou seriam wingers?) tem muita força ofensiva e marca muito, auxiliando os laterais. Como analisado anteriormente, o Botafogo tem um quarteto de pontas de qualidade. Júnior Santos tem mais força. Mati Segovia é mais habilidoso. Luis Henrique possui mais explosão. Victor Sá é muito veloz. Os laterais titulares Di Plácido e Marçal apoiam com qualidade.
A dupla Eduardo-Tiquinho confunde os adversários. Tiquinho Soares volta ao meio-campo e dá passes milimétricos como um Hidegkuti do escrete húngaro, de 1954, do Armando Nogueira. Ah. Como é bom lembrar do botafoguense Armando Nogueira nesse espaço.
O habilidoso Eduardo é o cérebro da equipe. Talvez, o Botafogo utilize dois atletas como os hemisférios de um cérebro superdotado: o mesmo Eduardo e Tiquinho.
A criatividade, a transição rápida e os toques precisos são divididos por quase todos os setores e jogadores do time. É muito difícil segurar um time que possui tanta inteligência tática e técnica.
6 – DUPLA EDUARDO-TIQUINHO SOARES
Eduardo é o camisa 33. Um meio-campo destro de 33 anos que não era muito conhecido do grande público. Passou por clubes de Portugal e França. Teve sucesso na Ásia. Natural de Ribeirão Preto, em São Paulo, mostra qualidades de um jogador criativo, como um meia de ligação habilidoso. O passe de calcanhar e o giro por cima da bola para frente são armas e diferenciais. Ele pisa demais na área adversária. Gosta de marcar muitos gols. Ele se sente muito mais à vontade dentro das grande e pequena áreas do que muitos outros camisas 10 mais badalados. Nessa temporada, marcou dez vezes, quatro gols no Brasileirão, e deu quatro assistências.
Eduardo ajuda a confundir os marcadores no último terço do campo. Quando Tiquinho fica fora da área ou na diagonal ao lado dessa grande área, Eduardo se transforma no número 9.
Tiquinho Soares é o grande artilheiro do Campeonato Brasileiro, com 10 gols. Um jogador que brilhou também na Europa, principalmente, no Porto. Tiquinho tem ótimo controle de bola, embora o Sofascore escreva o contrário, e excelente passe. Deu quatro assistências no Brasileiro. Na temporada, marcou 21 vezes e foi o autor de sete últimos passes. Ele está criando a posição de falso 10. Um artilheiro com muitas características de camisa 10.
7 – MUITOS JOGADORES NA MELHOR FASE DA CARREIRA
No elenco do Botafogo, muitos parecem estar no período de ouro da carreira como o goleiro Lucas Perri, os zagueiros Adryelson e, mesmo sendo destaque dos Campeonatos Brasileiros de 2018 e 2020, o argentino Victor Cuesta, além do lateral-esquerdo Marçal, do volante Tchê Tchê, do meio-campo Eduardo e do atacante Luis Henrique.
Cadê o Tiquinho? Você me pergunta. Bem, Tiquinho Soares quase sempre fez grandes temporadas.
Mais números desse pessoal? Em breve. Coming soon.