Em meio a crises, vaquinhas e falta de investimento, as diretorias do Corinthians e do São Paulo decidiram encerrar as atividades de ambos times de basquete para a temporada de 2026.
As decisões chocaram os torcedores e a comunidade nacional do basquete, já que os clubes possuem tradição no esporte. O motivo por trás do encerramento é similar nos dois casos: escassez de investimento monetário.
Em entrevista ao Estadão, o ex-jogador do Corinthians e atual comentarista da ESPN Gustavinho Lima lamentou a nova situação do clube e falou sobre os impactos que os congelamentos das equipes têm na categoria.
"Como todo mundo diz, não importa o esporte que você for acompanhar sempre vai ter um corintiano ali para te apoiar. E mais do que isso, o Corinthians sempre foi visto como um clube formador, dizendo ter orgulho dos 'garotos formados no terrão' e lançando bons jogadores. É muito triste a modalidade estar nessa situação", declarou o ex-atleta.
Corinthians fechas as portas do basquete; futsal pode ser o próximo
Fundada há quase 100 anos e com mais de 15 títulos, a modalidade do clube da zona leste passou por altos e baixos. Nas décadas de 1950 e 1960, o basquete do Corinthians viveu seu auge na conquista de títulos comandado em quadra pelas lendas Wlamir Marques e Amaury Pasos. Passando por alguns períodos de inatividade, o time se reergueu em 2017 e menos de uma década depois entrará em inatividade novamente.
O anúncio da pausa dos times profissionais e da base foi divulgado primeiramente pelo podcast Café Belgrado em setembro deste ano. Em meio a dificuldades para lidar com as crises e dívidas do time de futebol, a gestão de Osmar Stabile resolveu congelar as atividades do basquete justificando que a "operação financeira pela manutenção das equipes não se paga". O mesmo deveria se aplicar ao futsal, mas quase um mês após as declarações da diretoria, o clube resolveu voltar atrás e manter os elencos na próxima temporada.
"O basquete vai até um período do ano que vem e vamos buscar patrocínios e parceiros para que a gente não interrompa o esporte. A ideia é buscar patrocínio e dinheiro", informou Stabile na Mercado Livre Arena Pacaembu durante evento de lançamento da Copinha 2026.
Durante o mesmo evento, o dirigente completou a decisão afirmando que "o dinheiro do futebol ficará no futebol" e que o esporte não "paga mais nenhuma despesa do clube". Atualmente, o elenco masculino ocupa a primeira parte da tabela do campeonato da Novo Basquete Brasil (NBB), se classificando entre os sete primeiros, já a equipe feminina disputa a final do Campeonato Paulista.
"Eu gostaria e acredito que o esporte deveria ser enxergado como prioridade, que nós tivéssemos mais políticas de investimento públicas para promove-lo. O esporte é uma ferramenta de transformação social e essa é sua principal função. Esse é o ponto que mais choca, porque o Corinthians está abrindo mão desse desenvolvimento de tantos jovens, principalmente nas categorias de base", completou Gustavinho.
Até o momento, atletas e comissão técnica não se pronunciaram sobre o congelamento da modalidade no próximo ano e o funcionamento da base continua incerto para a próxima temporada. Em reposta à reportagem, o clube disse acreditar não ser "o momento mais apropriado para falarmos a respeito".
São Paulo coloca determinação para volta da modalidade
Alguns meses antes da decisão do Corinthians se tornar pública, o São Paulo também divulgou o encerramento das atividades da equipe de basquete profissional. Na nota oficial, a gestão enaltece o ex-diretor Carlos Belmonte e outros grandes nomes que passaram pela equipe.
"O São Paulo agradece a dedicação de todos atletas, profissionais e dirigentes que contribuíram durante estes anos em que as cores do Tricolor foram defendidas com honra, garra e empenho dentro das quadras", escreveram.
A homenagem e os agradecimentos, porém, foram finalizados com a confirmação de que a modalidade amada pelos torcedores estaria suspensa por tempo indeterminado. A diretoria afirmou que "futuros projetos" que não envolvem o futebol, "modalidade que é motivo da existência do São Paulo Futebol Clube", só serão realizados se houver "obtenção prévia de recursos novos para a manutenção".
Mesmo com as críticas da torcida, a gestão não se pronunciou mais sobre o caso. Em resposta à reportagem, a assessoria do clube afirmou que ainda não há um porta-voz oficial sobre a questão, já que é "incerto como o basquete vai funcionar ano que vem e quem vai estar à frente".
Embora a situação não seja promissora para o basquete nacional, a NBB continua crescendo anualmente - incluindo aumento de visibilidade, torcida e investimento.
"O basquete vive um bom momento e sem dúvida nunca deixou de mudar muitas das vidas desses jovens que têm um sonho de ser jogador e que através do esporte conseguem ser pessoas melhores. Mesmo com esse 'fim' dos times, é dessa maneira que a gente tem que enxergar o esporte", finalizou o ídolo do Corinthians.