Americanos da NBB apoiam protestos no esporte, mas divergem sobre eleição

20 out 2016 - 10h06

A pré-temporada na NBA vem sendo marcada por protestos de diversos jogadores contra a violência policial nos Estados Unidos. Às vésperas da eleição presidencial do país, os dois maiores nomes do basquete atual, Stephen Curry e LeBron James, também se pronunciaram sobre o tema e manifestaram apoio à candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton.

Mesmo atuando no Novo Basquete Brasil (NBB), Shamell Stallworth e Tyrone Curnell (Mogi das Cruzes) e Kenny Dawkins (Vitória) admitiram, em entrevista à Gazeta Esportiva, que temem pela atual situação político-social de seu país natal e, assim como os astros da liga norte-americana, comentaram sobre o cenário político.

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"Eu votei na Hilary antes de vir para o Brasil (nos EUA, cidadãos que estão fora de seu local podem deixar um absentee vote, algo como um voto por correspondência, válido para as eleições) gostei muito do que ela propôs para o meu país. Concordo com a manifestação dos jogadores, essa violência tem que parar um dia. Cada um precisa fazer sua parte para acabar com o racismo ou qualquer outra coisa que nos impeça de ser nós mesmos", afirmou Kenny.

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Nascido em Holly Springs, no estado do Mississippi, o armador de 29 anos nunca atuou na NBA, sendo contratado pela Liga Sorocabana em 2011. No Brasil, Kenny ainda defendeu a camisa do Paulistano por três anos antes de chegar ao Mogi nesta temporada.

No início de outubro, antes de suas partidas, os elencos de Boston Celtics, New York Knicks e Houston Rockets se mobilizaram contra a morte de negros pelas mãos da polícia estadunidense, assim como o do Toronto Raptors.

Segundo matéria publicada no jornal The Guardian, 1.134 jovens negros foram mortos por policiais nos Estados Unidos em 2015. Ainda segundo o jornal, negros norte-americanos entre 15 e 34 anos tem nove vezes mais chances de serem mortos do que qualquer outro norte-americano.

"É muito difícil, me deixa triste, porque agora você não confia mais na polícia. Eu sou negro e a maioria das pessoas que estão morrendo também. Não sei o que acontece, talvez eles tenham mais medo da gente do que nós temos deles", declarou Shamell, que chegou a jogar no basquete universitário dos EUA, mas não foi draftado por nenhuma equipe e veio para o Brasil em 2004, contratado pelo Uniara de Araraquara.

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Hoje, já naturalizado brasileiro, o jogador afirmou que mantém contato com familiares e amigos nos Estados Unidos e contou que a preocupação e o medo se intensificaram nos últimos meses. "Esse negócio de racismo, negro, branco, mexicano, sempre existiu, é tenso. Mas agora, nos últimos três, quatro meses aconteceram coisas absurdas. Homicídios contra negros pela polícia e ninguém foi preso. Não teve julgamento e a maioria dos caras já foram liberados", acrescentou o ala de 36 anos.

Os protestos dos atletas americanos ganharam força após o quarterback do San Francisco 49ers, Colin Kaepernick, se ajoelhar durante a execução do hino nacional dos Estados Unidos em um amistoso do dia 26 de agosto. "Acho bom (essa movimentação), porque os profissionais, não só da NBA, mas do futebol americano, beisebol, têm muita influência, se eles falam isso para o mundo, as pessoas abrirão os olhos", comentou o também ala Tyrone, nova-iorquino que defende o Mogi desde 2014.

My Brother! United as One! @e_reid35

Uma foto publicada por colin kaepernick (@kaepernick7) em Set 3, 2016 às 10:13 PDT

Falando sobre as eleições, Tyrone se posicionou com mais criticidade e descrença. "Eu acho o (Donald) Trump uma sacanagem, piada. Acho a Hillary mentirosa também. Eu não vou escolher ninguém.  Obama foi meu primeiro voto na vida e, por enquanto, o último", afirmou. Seu companheiro de equipe, Shamell, contudo, acredita que a maioria dos jogadores da NBA, assim como ele, irão apoiar Hillary na corrida presidencial.

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"É triste, tenso, mas é o mundo que moramos hoje em dia. Tenho um filho de 9 anos, o Tyrone tem filho, o Larry (Taylor) também. Isso deixa a gente preocupado. Se continuar nesse caminho vai ser muito perigoso. Eu falo para o Larry que talvez seja melhor para gente ficar aqui no Brasil para sempre mesmo", concluiu Shamell.

* Especial para a Gazeta Esportiva

Gazeta Esportiva
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