Os fins justificam os meios. Esta foi uma das várias máximas cunhadas por Nicolau Maquiavel em sua obra "O Príncipe". E"teve em Helmut Marko um de seus mais dedicados aplicadores.
Não eram recentes os rumores de que Marko estaria fora da Red Bull. A última onda veio no ano passado, com a reorganização no grupo taurino, e seu contrato foi renovado até, pelo menos, o final de 2026. Mas, com o vendaval causado pela saída de Christian Horner, as conversas voltaram e, nesta terça-feira (09/12), houve a confirmação: Helmut Marko deixaria imediatamente suas funções na Red Bull.
Foi o ato derradeiro (até então) de um austríaco que atrelou seu destino à velocidade. Iniciou sua carreira como piloto após concluir seu doutorado em Direito, combinando turismo com monopostos. Foi vencedor das 24 Horas de Le Mans de 1971 com o mítico Porsche 917, mantendo por anos o recorde da etapa mais rápida da história. Foi para a F1 no mesmo ano, correndo pela BRM. E foi aí que ocorreu o acidente que transformou sua vida.
No GP da França de 1972, disputado no sinuoso circuito de Clermont-Ferrand, o carro de Ronnie Peterson, ao passar por uma parte de terra, jogou pedras para trás. Uma delas rompeu a viseira do capacete de Marko, funcionando como uma bala e fazendo-o perder a visão de um dos olhos.
Era o fim de sua carreira como piloto, mas não de sua ligação com a velocidade. Depois, montou um time para atuar nas fórmulas menores, a RSM Marko. Ali começou a desenvolver a capacidade de identificar e formar jovens pilotos.
Esse trabalho o aproximou de Dietrich Mateschitz, fundador da Red Bull. Com o envolvimento cada vez maior da marca na F1, Mateschitz queria apoiar a carreira de jovens pilotos e moldá-los com a filosofia Red Bull. Ele já dava apoio a alguns nomes, mas buscava algo estruturado. E identificou em Marko a pessoa capaz de construir esse projeto.
A RSM Marko virou o Red Bull Junior Team em 1999, e Helmut Marko tornou-se o responsável pelo desenvolvimento de pilotos, além de conselheiro de Mateschitz para assuntos do automobilismo.
Quando a Red Bull anunciou que assumiria a estrutura da Jaguar para a temporada de 2005, Marko surgiu como nome natural para comandar tudo. Mas Mateschitz optou por mantê-lo focado nos jovens, entregando a equipe principal nas mãos de Christian Horner.
Horner e Marko formaram uma dupla que levou a Red Bull ao topo. Contrataram Adrian Newey e compraram a Minardi para funcionar como “incubadora” para a equipe principal.
O esquema de formação criado por Marko era duro e impiedoso. Não à toa foi chamado tantas vezes de “máquina de moer carne”. Mas entregou nomes como Sebastian Vettel e Max Verstappen, além de Daniel Ricciardo, Alex Albon, Carlos Sainz, entre outros. Não é coincidência que a temporada 2025 contou com pelo menos sete pilotos com passagem pelas fileiras da Red Bull, 30% do grid. Não é pouca coisa.
Esse estilo direto, flertando com a crueldade e por vezes sem noção, deixou muitas marcas. Daí a percepção de que Marko tinha, sim, como lema a máxima de Maquiavel: a conquista era o objetivo final, não importando o que fosse necessário para alcançá-la.
Helmut Marko ajudou a moldar a Red Bull e a Fórmula 1 nos últimos 20 anos. O legado é enorme, embora ofuscado por falas polêmicas e métodos controversos. Ainda assim, permanecerá para sempre.