As tarifas de Trump e tensões geopolíticas pressionaram o mercado cripto em 2025, gerando volatilidade e quedas expressivas, mas também impulsionando avanços em regulação, maturidade e uso institucional dos ativos.
O mercado de criptomoedas tem vivido um ano de fortes emoções diante do tarifaço de Donald Trump e das acirradas tensões geopolíticas entre Estados Unidos, China, Brasil e outros países. O aumento tarifário dos EUA, com alíquotas de até 50% sobre produtos importados de mais de 180 países, abalou os mercados globais e atingiu em cheio os ativos considerados de risco, incluindo as principais criptos. Desde o anúncio das medidas tarifárias, o bitcoin, por exemplo, sofreu quedas expressivas, chegando a recuar mais de 30% e atingindo sua menor cotação do ano em abril de 2025, por volta dos US$ 74.500, valor bem inferior aos mais de US$ 90.000 vistos no início do ano.
A explicação para tal movimento está na aversão ao risco dos investidores em meio à instabilidade econômica. As tarifas subiram o custo dos produtos, pressionaram a inflação, reduziram o consumo e elevaram as apostas em uma recessão global. Diante desse quadro, investidores buscaram refúgio em ativos mais tradicionais e “seguros”, como o ouro e os títulos públicos americanos, que dispararam em volume e valor, enquanto criptomoedas e bolsas caíram. No Brasil, o impacto foi sentido diretamente na cotação do real, que perdeu valor frente ao dólar e viu a bolsa recuar em mais de 2% em alguns dias críticos.
O cenário geopolítico global, já caracterizado por instabilidade e escalada de conflitos comerciais, contribuiu ainda mais para o clima pessimista. As relações entre China e Estados Unidos se deterioraram, com ameaças e contra-ameaças de tarifas adicionais, e o Brasil entrou com queixas na OMC também pressionando por respostas à proteção americana. No curto prazo, a volatilidade se disseminou: as criptomoedas aprofundaram as quedas diante da chamada “fuga para a segurança”, mas, paradoxalmente, viram um aumento no volume negociado e no uso institucional, evidenciando uma natureza dual desses ativos em períodos de instabilidade.
Apesar desse ambiente desafiador, há sinais claros de amadurecimento no mercado cripto. O setor já não parte do zero: em 2025, há base tecnológica sólida, influxo institucional inédito (mais de US$ 11 bilhões aportados em ETFs de bitcoin apenas no primeiro semestre), avanços regulatórios – com destaque para a discussão do GENIUS Act nos EUA e o fortalecimento do Drex no Brasil – e alta na tokenização de ativos do mundo real.
As criptomoedas vêm sendo usadas como instrumentos de hedge, transações cross-border e diversificação de carteira, inclusive por grandes empresas, e já apresentam reação menos irracional em momentos de crise, embora ainda sejam altamente voláteis. A busca global por maior clareza jurídica, novas regras para custódia e tributação, além do crescimento das finanças descentralizadas (DeFi) e dos tokens ligados a inteligência artificial, reforça esse quadro.
Em síntese, o tarifaço e as tensões geopolíticas provaram que, embora o mercado cripto ainda seja um ambiente de alto risco e volatilidade, ele evoluiu em maturidade, infraestrutura, regulação e diversidade de uso. O investidor hoje conta com mais opções institucionais, vê maior transparência regulatória e presencia a integração entre o mundo tradicional e o digital. Porém, crises globais profundas continuam sendo o grande teste de resiliência do setor, revelando tanto suas fragilidades conjunturais quanto a força de sua proposta de descentralização e liberdade monetária em longo prazo.
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