Em uma rápida pesquisa online por pacotes de viagem na Europa, os turistas têm grandes chances de deparar com mais de um roteiro que reúna destinos como Alemanha ou Rússia e as chamadas Cidades Imperiais. Localizadas na região central do continente, as capitais são herdeiras do antigo Império Austro-Húngaro, que se desintegrou com a Primeira Guerra Mundial e hoje está subdividido em 13 países. Quem não poderia faltar no tour é a pequena Hungria, um dos membros mais ilustres do velho estado soberano: sem saída para o mar, mas cortado pelo Rio Danúbio - o que confere à capital Budapeste o status de Paris oriental -, o país tem no Brasil seu segundo parceiro comercial mais importante da América Latina, perdendo apenas para o México, e está inclusive recebendo estudantes intercambistas pelo programa Ciência Sem Fronteiras, do governo federal.
Desde o fim da Segunda Guerra, em 1946, a Hungria esteve sob forte influência da União Soviética e só efetuou a transição para a economia de mercado após a queda do Muro de Berlim. Entretanto, o país já ensaiava uma reforma econômica desde a década de 60, com a implementação do que ficou conhecido como "comunismo goulash", em referência ao prato sortido típico: com práticas de economias de livre mercado e histórico evoluído em matéria de direitos humanos, o regime húngaro já não tinha mais a mesma cara do stalinismo que vigorava em outros pontos do Bloco Socialista. Esses antecedentes permitiram que a Hungria se tornasse um dos países que melhor se recuperou do fim da União Soviética: somando US$ 195 bilhões de Produto Interno Bruto (PIB) em 2011, segundo a cotação da época, tem hoje renda per capita próxima dos US$ 20 mil (R$ 40 mil), superior à da Ucrânia (US$ 7,20 mil), da própria Rússia (R$ 16,70 mil) e do Brasil (US$ 11,80 mil).
O professor de Macroeconomia e Finanças Internacionais da Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas (EBAPE-FGV), István Kasznar, conta que a Hungria também é um dos ex-membros da Cortina de Ferro que mais tem evoluído no âmbito de investimentos diretos estrangeiros, o que pode ser interpretado como uma demonstração de confiança: em 2011, foram cerca de US$ 20 bilhões recebidos - quase a metade do que foi destinado ao Brasil -, além do ritmo de entrada de recursos externos ser regular. "É um país que, embora tenha tido um crescimento relativamente módico, com taxas à beira dos 3% e 4%, conseguiu administrar a própria economia em um regime de estabilidade melhor e até superior aos vizinhos de inflação controlada", afirma Kasznar.
Mesmo mantendo a inflação mais baixa, a 3,9%, o país não escapou dos efeitos da crise do euro e compartilha com o Brasil o problema da lentidão no crescimento econômico devido ao pouco investimento total sobre o PIB, o alto nível de endividamento e a redução da atividade econômica por conta da crise internacional. "As exportações húngaras estão razoavelmente concentradas em países europeus, acima de 55%, e as novas oportunidades não se abrem porque está todo mundo duro", explica o professor. Quem optar pela Hungria como destino de intercâmbio também pode embarcar sem a pretensão de trabalhar, pois a região também sofre com o fardo do desemprego entre os jovens.
Aproveite mais durante a alta temporada
Segundo Marli Sanchez, gerente de produtos internacionais da Intravel, a procura por pacotes para o Leste Europeu tem crescido bastante desde o ano passado, em especial por parte de turistas mais maduros e experientes interessados na história, no artesanato e na culinária da região. Budapeste é o destino mais divulgado no mercado brasileiro, e ainda é rara a oferta de pacotes exclusivos para a Hungria. Para aproveitar as belas paisagens e arquitetura da cidade, a executiva recomenda aos turistas visitar o país durante a primavera e o verão, de maio a outubro. "Em dezembro, janeiro e fevereiro, as temperaturas são bem baixas. Não que isso seja um empecilho, mas nesta época, tem-se uma visão diferente da região", justifica.
No bolso, notas e cartão pré-pago com créditos em euro, por se tratar de um integrante da União Europeia - ainda que a transição monetária venha sendo adiada e a moeda corrente permaneça o forint, cotado a apenas um centavo de real e tão desvalorizado que os fíller, os "centavos" húngaros, já saíram de circulação.