Quem tem perto de 40 anos ou mais ainda se lembra da época em que era essencial andar com dinheiro vivo, quando cartão não era aceito em todo lugar e ainda não existia Pix. Apesar de ter mudado sua própria relação com o dinheiro, muitos pais e responsáveis ainda pagam mesada como antigamente, em dinheiro. Se depender dos bancos e fintechs, isso vai mudar: as instituições já oferecem opções de conta para os menores com cartão de débito e funções para monitoramento dos pais.
As iniciativas são positivas, avalia a educadora financeira Anna Luisa Carvalho: “São contas que permitem ao menor de idade aprender a lidar com bancos na prática e ao mesmo tempo vinculam o uso a um responsável legal, que é notificado de todas as transações”, afirmou.
Um exemplo é a fintech Mozper, aplicativo com cartão de débito bandeira Visa que, em dez meses de operação no Brasil, já emitiu 50 mil cartões físicos e teve 400 mil downloads.
A empresa alega como foco principal a educação financeira. O app tem funcionalidades como tarefas remuneradas, metas de poupança, categorias de gastos, entre outras.
“Basicamente, oferecemos uma interação mais saudável sobre dinheiro na dinâmica familiar”, resumiu a cofundadora e CFO da companhia, Yael Israeli.
O aplicativo pode ter a funcionalidade do Pix, por exemplo, mas isso depende da autorização dos pais: “Se os pais confiam na criança e querem dar autonomia a ela, podem habilitar o Pix. É uma autorização feita por criança, e não por família, então uma família com dois filhos pode ter um com autorização e outro não. Se a criança não for responsável, por exemplo, os pais podem desabilitar a função”, afirmou o CEO da Mozper, Gabriel Roizner.
Segundo Roizner, o cartão da Mozper é outro diferencial, pois dá autonomia em um ambiente mais seguro, sendo o único na América Latina que não pode ser usado em pornografia, OnlyFans e em sites de apostas, ressaltou.
Diversos bancos também oferecem contas para menores com cartão de débito, como a conta Yellow, do C6 Bank, que manda um SMS dos gastos dos menores para os responsáveis e o Nubank, que oferece a conta com acesso às caixinhas de investimento.
Como incluir as crianças no mundo financeiro? Quais os cuidados?
Anna Luisa Carvalho orienta sobre a introdução às finanças: “Crianças muito novas precisam de algo concreto, então o cofrinho com moedas ainda é o ideal. Conforme a criança cresce, começa a lidar com valores um pouco maiores, aí entram as cédulas. Ao amadurecer, começa a entender conceitos mais abstratos e a família deve, sim, incentivar o contato com outras formas de dinheiro, como o cartão de débito e a conta corrente”, afirmou.
Mas ela lista os pontos que devem ser avaliados antes de abrir uma conta para um menor:
• Vantagens:
- - criança e adolescente conhece e aprende a lidar com serviços bancários;
- - tem acesso a alguns investimentos;
- - tem contato com riscos (risco dos investimentos, risco de fazer um PIX errado, etc.), o que é importante para ir ganhando maturidade;
- - ganha autonomia para tomar decisões.
• Desvantagens:
- - exposição a possíveis fraudes e golpes;
- - a facilidade de usar o “dinheiro de plástico” às vezes incentiva um consumo ruim;
- - se os pais descuidarem da supervisão, o menor pode cometer um erro ou contratar um serviço indevido, por exemplo.
Outro ponto importante, segundo Carvalho: “Ensinar a usar bem o dinheiro é diferente de ensinar a usar serviços bancários. Ambos são importantes, mas são coisas diferentes: os serviços bancários e os investimentos são ferramentas que usamos para gerir melhor nosso dinheiro”.
“Se usada com real supervisão dos pais, combinado com conversas sobre serviços financeiros, orientação sobre fraudes e golpes e ensino sobre planejamento financeiro, a conta de menor de idade é um excelente caminho”, concluiu Carvalho.