‘Tremembé’ é mais comentada do que novelas da Globo ao erotizar celebridades do crime

Fascínio do público por personagens reais associados ao perigo virou um lucrativo filão do audiovisual

6 nov 2025 - 10h51
(atualizado às 10h51)

“Tudo é sobre sexo. Exceto o sexo. Sexo é sobre poder.”

A frase do psicopata Frank Underwood (Kevin Space) em ‘House of Cards’ (Netflix) se aplica à série ‘Tremembé’, do Prime Time.

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A produção de streaming mais comentada do momento explora os afetos e, principalmente, a sexualidade de criminosos brasileiros transformados em ‘lendas vivas’ pela mídia nas últimas décadas.

Em qualquer presídio, o sexo é mesmo uma moeda, vale tanto ou mais que o dinheiro de verdade. Está ligado ao poder territorial e à influência sobre os demais condenados.

Até aí, nada de errado: um retrato fiel do sistema prisional.

O problema começa quando há uma ‘novelização’ das relações íntimas, gerando símbolos sexuais e casais por quem o espectador se afeiçoa a ponto de torcer por um final feliz.

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Esse fenômeno parte do desligamento moral. O crime do personagem real passa a ter menos importância —  ou até fica aceitável. 

Quem assiste, absolve o detento em nome do entretenimento ou da projeção, ou seja, quando a pessoa vê nesses indivíduos aspectos de si mesma (desejos, traumas, impulsos reprimidos) e, inconscientemente, se identifica a ponto de perdoá-los ou até os admirar.

Representações de Suzane von Richthofen (Marina Ruy Barbosa), Cristian Cravinhos (Kelner Macêdo) e Elize Matsunaga (Carol Garcia) se destacam em 'Tremembé'
Representações de Suzane von Richthofen (Marina Ruy Barbosa), Cristian Cravinhos (Kelner Macêdo) e Elize Matsunaga (Carol Garcia) se destacam em 'Tremembé'
Foto: Prime Video

Perigosos e irresistíveis

Sob tal prisma, Suzane von Richthofen vira uma anti-heroína carismática. Cristian Cravinhos se torna um galã num triângulo amoroso. Elize Matsunaga é mostrada de uma maneira que desperta empatia e piedade.

Algo que vimos também em ‘Dahmer: Um Canibal Americano’ (Netflix), em que o serial killer de gays Jeffrey Dahmer (Evan Peters) foi tão humanizado e erotizado no roteiro que acabou sendo ‘crush’ de parcela numerosa do público. 

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Inconscientemente ou não, muitos espectadores deste tipo de abordagem dramatúrgica manifestam o interesse pelo amor bandido e a excitação sexual de se colocar em situações de risco extremo.

O sucesso da série expõe não apenas o fascínio pelo proibido, mas uma sociedade que já não distingue mais culpa de carisma desde que a história seja bem contada e o vilão tenha apelo suficiente para gerar engajamento.

A cultura da fama digital, somada à curiosidade mórbida da audiência, transforma assassinos em ídolos e vítimas em notas de rodapé. 

Não podemos esquecer que, por trás daqueles condenados interessantes a ponto de serem fetichizados, há inocentes mortos e famílias emocionalmente destroçadas.

Globo x Prime

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Desde a estreia, em 31 de outubro, ‘Tremembé’ ofuscou as novelas da Globo nas redes sociais. A trama sobre os remédios falsos que enriquecem os vilões em ‘Três Graças’ parece quase ingênua perto da concentração de maldade e luxúria da série-sensação.

Cabe aqui outra frase de personagem. “No fim das contas, tudo se resume a quem tem o poder — e quem o faz se sentir desejado”, disse a manipuladora e sexy Olivia Pope (Kerry Washington) em ‘Scandal’.

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