Após relutar, o recém-solteiro Michael instala no celular o aplicativo de pegação gay Grindr. Logo recebe um ‘oi’ e um pedido de nude. Ele responde que não tem foto íntima. É instantaneamente bloqueado.
A cena do seriado ‘Uncoupled’ já foi vivida por quem se aventura no universo da paquera virtual. Muitas vezes, a pessoa é tratada apenas como um órgão sexual por quem busca sexo casual aqui e agora.
Na série da Netflix, o corretor de imóveis de Nova York se vê perdido após ser abandonado pelo namorado, com quem ficou por 17 anos. Pior: o companheiro foi embora sem dar tchau nem apresentar um motivo.
Recheada de clichês do mundo gay tratados com humor saboroso, ‘Uncoupled’ acerta ao ressaltar o etarismo: as ‘bichas velhas’ (já a partir dos 40, ok?) são desprezadas por aqueles que se acham novinhos para sempre.
Desajeitado com a solteirice compulsória, Michael é confrontado com questões triviais e, ao mesmo tempo, complexas, como o sexo sem camisinha defendido por muitos homens que usam PreP (combinação de medicamentos que bloqueiam o ataque do vírus HIV).
Ao redor dele há outros gays igualmente à procura de amor e prazer, e duas mulheres divertidas: a colega de imobiliária solteirona e uma dondoca em surto por ter sido trocada por uma mulher bem mais jovem.
Outro destaque é seu vizinho de prédio, um septuagenário negro resiliente com o desprezo da comunidade gay. Com leveza, ele lança reflexões sobre a dificuldade de ser um homossexual idoso e sozinho em uma grande cidade.
Ainda que seja um privilegiado — branco, rico, bem-dotado, desejado por quase todos os caras etc. —, Michael serve como representação do sofrimento imposto pelas ditaduras da juventude e da beleza aos homens gays.
Com 8 episódios curtos, ‘Uncoupled’ termina com gancho óbvio para uma segunda temporada. Vai divertir quem busca entretenimento despretensioso (ei, hétero top, permita-se gostar da série), mas pode disparar gatilhos emocionais naqueles que já levaram um doloroso pé na bunda. Quem nunca?
A produção é assinada por Darren Star, o mesmo de ‘Sex And The City’, ‘Emily em Paris’ e ‘Younger’. Há várias cenas de sexo com bumbuns masculinos à mostra. Neil Patrick Harris encaixou o marido, David Burtka, no papel coadjuvante de um operador de teleprompter. Como é bom ser bem casado...