A ofensa verbalizada pelo presidente do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, contra a comentarista Renata Mendonça, da Globo e SporTV, foi mais do que grosseria e arrogância de um homem que provavelmente se considera blindado por uma posição de poder.
Ao se referir à jornalista como “nariguda” diante das câmeras, o dirigente transmitiu a impressão de querer desqualificá-la e expôs em público o machismo enfrentado por mulheres no jornalismo esportivo, especialmente no futebol.
Não faltam relatos de assédio moral, assédio sexual, intimidação física e tentativa de descredibilização.
Alguns episódios se tornaram simbólicos: Bruna Dealtry, do Esporte Interativo, foi beijada à força num estádio; Renata de Medeiros, da Rádio Gaúcha, xingada de “puta” e agredida fisicamente numa arquibancada; Alinne Fanelli, da Rádio BandNews, recebeu resposta com viés machista do técnico Abel Ferreira.
O problema está enraizado numa cultura de supremacia masculina onde a presença feminina é vista como intrusa ou decorativa. Jornalistas mulheres são constantemente submetidas a constrangimentos e testes de credibilidade que seus colegas homens jamais enfrentam.
Elas precisam provar conhecimento técnico o tempo todo, lidar com recorrentes interrupções nas entrevistas, driblar ironias, reagir quando são tratadas como invisíveis e conviver com a suspeita permanente de que estão ali por ‘cota’, aparência ou estratégia de marketing — nunca por mérito profissional.
Aliás, a questão estética sempre é usada de maneira pejorativa, seja a jornalista explicitamente bonita ou não. Alguns homens se sentem no direito de disparar olhar invasivo, cantadas vulgares ou rebaixar a mulher citando uma característica física. Se a comunicadora for lésbica, dá-lhe homofobia.
Homens e mulheres no jornalismo esportivo não precisam viver uma guerra entre sexos. Mas alguns clubes, dirigentes, atletas e até colegas de profissão frequentemente minimizam episódios de violência, tratando como deslizes aceitáveis “no calor do futebol”.
A falta de posicionamentos firmes e punição pedagógica reforça a sensação de impunidade e a mensagem de que o ataque a uma jornalista faz parte do jogo. Quando isso acontece, todos saem de campo derrotados.
A mulher na cobertura esportiva não precisa ter privilégios, ser tratada com luvas nem bajulada, basta que a respeitem.