Assédio, desrespeito, invalidação: a mulher no jornalismo esportivo vive um inferno

Episódio envolvendo comentarista da Globo reforça o machismo (e não é mimimi) que afeta a cobertura do futebol

25 dez 2025 - 18h19
(atualizado às 18h19)

A ofensa verbalizada pelo presidente do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, contra a comentarista Renata Mendonça, da Globo e SporTV, foi mais do que grosseria e arrogância de um homem que provavelmente se considera blindado por uma posição de poder.

Ao se referir à jornalista como “nariguda” diante das câmeras, o dirigente transmitiu a impressão de querer desqualificá-la e expôs em público o machismo enfrentado por mulheres no jornalismo esportivo, especialmente no futebol.

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Não faltam relatos de assédio moral, assédio sexual, intimidação física e tentativa de descredibilização.

Alguns episódios se tornaram simbólicos: Bruna Dealtry, do Esporte Interativo, foi beijada à força num estádio; Renata de Medeiros, da Rádio Gaúcha, xingada de “puta” e agredida fisicamente numa arquibancada; Alinne Fanelli, da Rádio BandNews, recebeu resposta com viés machista do técnico Abel Ferreira.

O problema está enraizado numa cultura de supremacia masculina onde a presença feminina é vista como intrusa ou decorativa. Jornalistas mulheres são constantemente submetidas a constrangimentos e testes de credibilidade que seus colegas homens jamais enfrentam.

Elas precisam provar conhecimento técnico o tempo todo, lidar com recorrentes interrupções nas entrevistas, driblar ironias, reagir quando são tratadas como invisíveis e conviver com a suspeita permanente de que estão ali por ‘cota’, aparência ou estratégia de marketing — nunca por mérito profissional.

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Renata Mendonça, do Grupo Globo, foi o novo alvo do machismo na cobertura esportiva
Renata Mendonça, do Grupo Globo, foi o novo alvo do machismo na cobertura esportiva
Foto: Reprodução/Instagram

Aliás, a questão estética sempre é usada de maneira pejorativa, seja a jornalista explicitamente bonita ou não. Alguns homens se sentem no direito de disparar olhar invasivo, cantadas vulgares ou rebaixar a mulher citando uma característica física. Se a comunicadora for lésbica, dá-lhe homofobia.

Homens e mulheres no jornalismo esportivo não precisam viver uma guerra entre sexos. Mas alguns clubes, dirigentes, atletas e até colegas de profissão frequentemente minimizam episódios de violência, tratando como deslizes aceitáveis “no calor do futebol”.

A falta de posicionamentos firmes e punição pedagógica reforça a sensação de impunidade e a mensagem de que o ataque a uma jornalista faz parte do jogo. Quando isso acontece, todos saem de campo derrotados.

A mulher na cobertura esportiva não precisa ter privilégios, ser tratada com luvas nem bajulada, basta que a respeitem.

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