Para ele, nenhum gênero é novidade. Produtor, compositor, arranjador e multi-instrumentista, o norte-americano Marcus Miller tem quebrado as barreiras do jazz, seu berço musical, com parcerias que nem ele imaginava ter. Entre os mais de 500 discos em que já trabalhou estão nomes como Eric Clapton, Paul Simon, Mariah Carey, Aretha Franklin, Jay-Z, Snoop Dogg, Billy Idol, George Benson e (acredite se quiser) Miles Davis. O extenso repertório fez com que ele desenvolvesse um estilo único de improvisação, especialmente no baixo, seu principal instrumento, prestigiado pelo público paulista na noite dessa quarta-feira (6) no Bourbon Street, e que ainda toca em Rio das Ostras (8 e 9) e Rio de Janeiro (10).
“Minha música é uma mistura de diferentes estilos. Tem ritmos para você dançar e melodias para você apreciar. É divertido assistir (...). Estar com tantos artistas me fez aprender que meu primeiro trabalho é o de fazer a música dar uma sensação boa desde a primeira nota”, disse em entrevista exclusiva ao Terra.
Durante a conversa, Marcus adiantou como serão os shows por aqui, contou histórias de bastidores de algumas lendas do jazz e se declarou fã de Djavan, Milton Nascimento e Ivan Lins. Questionado sobre as melhores músicas de todos os tempos, mostrou novamente seu carinho pelo País e citou Desafinado, clássico da Bossa Nova eternizado na voz e no violão de João Gilberto, composta por Tom Jobim e Newton Mendonça. Confira a íntegra abaixo.
Terra - O que podemos esperar de seus shows no Brasil?
Marcus Miller - Tenho uma banda muito jovem e muito talentosa. Eles me acompanharam no meu mais recente CD, o Renaissance. Então apresentaremos algumas faixas desse álbum. Também quero tocar algumas músicas antigas que as pessoas devem estar querendo ouvir. Geralmente decido o setlist exato no palco, onde posso sentir a energia da plateia.
Terra - O jazz não é um gênero muito popular no Brasil. Mesmo assim, o público daqui parece te adorar. Por que você acha que isso acontece?
Marcus Miller - Minha música é uma mistura de diferentes estilos. Tem ritmos para você dançar e melodias para você apreciar. E, quando improviso, é divertido assistir. Talvez seja por causa disso, mas não tenho muita certeza. Pessoas diferentes gostam de coisas diferentes na música.
Terra - Você conhece música brasileira? Quais são seus artistas preferidos?
Marcus Miller - Djavan, Milton Nascimento, Ivan Lins. Estou interessado em conhecer novos nomes enquanto estiver por aqui.
Terra - Você já trabalhou com artistas bastante diferentes entre si, incluindo Miles Davis, Eric Clapton, Mariah Carrey e Snoop Doog. Como isso mudou sua relação com a música?
Marcus Miller - Aprendi que, como baixista, meu primeiro trabalho é o de fazer a música dar uma sensação boa. Desde a primeira nota!
Terra - Falando em Miles, você deve ter boas memórias dele. Pode nos contar alguma história? Como ele era nos bastidores?
Marcus Miller - No palco, ele às vezes se virava para a banda e dava as costas para o público. Isso não era muito legal para a plateia, mas era divertido para nós. Ele conversava comigo enquanto eu tocava, perguntava se eu tinha gostado de seus sapatos... Nos estúdios também tivemos ótimos momentos. Muitas vezes ficamos sozinhos. Ele me contava histórias de lendas do jazz que, para ele, não eram lendas, eram amigos. Era fascinante ouvir sobre Charlie Parker e Dizzy Gillespie.
Terra - Existe algum artista com quem você ainda tem vontade de tocar?
Marcus Miller - Espero trabalhar com Stevie Wonder um dia!
Terra - Uma curiosidade: por que você sempre usa chapéu? Quantos você tem em seu armário?
Marcus Miller - Tenho tantos... Todos no mesmo estilo. O nome é Porkpie, são esses “achatados” na parte de cima. Era muito popular nos anos 1940 durante a época de ouro do jazz. Então eu visto como homenagem aos meus heróis.
Terra - Em sua opinião, quais são as músicas mais belas de todos os tempo?
Marcus Miller - When I Fall In Love (Nat King Cole), Desafinado (Tom Jobim e Newton Mendonça) e A House Is Not A Home (Luther Vandross).
