Sozinho com seu celular, Felca criou um dos fatos jornalísticos mais importantes dos últimos anos. Chacoalhou o país ao denunciar os ganhos milionários com a erotização e adultização de crianças e adolescentes nas redes sociais e mexeu no vespeiro da pedofilia on-line.
Todos os telejornais tomaram um choque de realidade e repercutiram o vídeo viral. O ‘Jornal Nacional’ dedicou 3 minutos ao assunto, a maior duração entre as matérias exibidas na segunda-feira (11).
Ontem, William Bonner anunciou o “aumento expressivo” de notificações de abuso e pornografia infantil desde a postagem do influenciador no YouTube.
Em sua cruzada individual, Felca ressalta a falha do jornalismo em não desenvolver uma pauta tão explícita e urgente.
Ele fez a Presidência e o Congresso Nacional acordarem para a necessidade de proteger os menores, identificar os exploradores para a devida punição legal e pressionar as plataformas digitais para criar um monitoramento eficiente.
A gravação do influenciador apresentou pesquisa profunda e argumentação sólida, assemelhando-se ao trabalho de um jornalista investigativo, perfil raro nas emissoras de TV por deficiência na formação e escassez da verba necessária para as grandes reportagens.
Por isso, os telejornais — cada vez mais engessados — preenchem seu ‘espelho’ (o roteiro das matérias) com notícias já destacadas pelos portais de notícias e investem pouco em conteúdo exclusivo. São raras as bancadas com comentários de âncoras e analistas especializados.
Outro problema é a insistência das redações de TV em ignorar o dia a dia das redes sociais. É lá — no X e TikTok, principalmente — onde surge a maioria dos grandes debates entre os brasileiros. Cada vez mais, influenciadores como Felca pautam a imprensa profissional.
Falta de atenção às crianças
As maiores redes de TV comerciais viraram as costas para as crianças — com exceção do SBT — após o recrudescimento de normas contra a publicidade infantil. Sem poder lucrar, encerraram a programação voltada aos menores.
Esse distanciamento do telespectador mirim pode explicar, em parte, a demora dos canais em identificar o fenômeno da exploração de meninos e meninas na internet e levar o tema aos telejornais.
Trata-se de um paradoxo já que as emissoras precisam criar uma nova geração de público. Deveriam, portanto, olhar as crianças e os adolescentes com mais cuidado.
A televisão que um dia foi a babá eletrônica em milhões de lares do Brasil deve aplicar seu poder de influência para alertar pais e responsáveis dos perigos da internet.
Os canais estatais, a exemplo da TV Brasil, pertencente ao governo federal, podem dar mais destaque às pautas sociais em seus programas jornalísticos.
A imprensa precisa fazer a sua parte contra a exploração infantil.