O show da cantora Ana Carolina no evento Natal Encantado, realizado no último domingo (21) em Feira de Santana, gerou forte repercussão nas redes sociais, não pela apresentação musical, mas por uma denúncia envolvendo acessibilidade. Internautas acusam a equipe da artista de ter impedido que a intérprete de Libras Julia Alves permanecesse no palco, o que teria resultado em sua realocação para um local improvisado e com visibilidade limitada para o público.
Após a repercussão do caso, a Associação de Surdos de Feira de Santana (ASFS) divulgou uma nota de repúdio contra o tratamento dado à profissional, que também compartilhou o posicionamento em suas redes sociais. Um vídeo publicado pelo perfil Feira 24 Horas mostra a intérprete posicionada sobre uma estrutura improvisada, semelhante a um cavalete. Segundo a página, em todas as demais atrações do evento os intérpretes permaneceram no palco, o que causou indignação entre pessoas presentes.
"Pessoas que estavam no local ficaram decepcionadas com tal atitude de retirar a intérprete do local apropriado para outro com visão mais complicada. Pessoas com deficiência merecem respeito. A organização do evento improvisou um local para a intérprete ficar", publicou o perfil.
Nos comentários, a situação foi amplamente criticada. "Extremamente revoltante e inaceitável. Uma enorme falta de respeito. Estive no show e fui embora logo em seguida. Negar a presença das intérpretes no palco é desrespeitar a comunidade surda e desvalorizar o trabalho dos profissionais intérpretes de Libras", escreveu um internauta. "Toda vez que ela vem aqui é um babado diferente kkkkkkkk", comentou outro. "Ana Carolina é cansativa com tantas imposições aff", disse uma terceira usuária.
Nota de repúdio
Em nota oficial, a ASFS classificou o episódio como grave cerceamento de acessibilidade. "A Associação de Surdos de Feira de Santana (ASFS), por intermédio de sua assessoria jurídica, vem a público manifestar seu veemente repúdio ao grave cerceamento de acessibilidade ocorrido durante o show da cantora Ana Carolina, no evento Natal Encantado, na noite de 21 de dezembro de 2025, em Feira de Santana-BA", inicia o comunicado.
Segundo a entidade, "as intérpretes de Libras foram impedidas de atuar no palco sob a justificativa de que a cenografia e os equipamentos da artista ocupavam a totalidade do espaço". A associação destacou que "a estética cenográfica jamais deve sobrepor-se à acessibilidade comunicacional" e que a realocação das profissionais "configura uma barreira atitudinal e arquitetônica, violando frontalmente a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015) e a Lei nº 10.436/2002".
A nota ainda afirma que "retirar as intérpretes do campo visual principal do espectador surdo inviabiliza o consumo equânime do bem cultural", além de promover segregação e esvaziar o conceito de inclusão previsto na Constituição Federal. A entidade reforça que "a presença de intérpretes de Libras em eventos financiados ou apoiados pelo poder público não é uma concessão ou 'detalhe estético', mas uma condição de validade do próprio evento".
Por fim, a ASFS informou que já está adotando medidas legais. "A acessibilidade não é um acessório opcional, mas um direito inalienável. Não admitiremos que a inclusão seja tratada como um detalhe secundário às exigências técnicas ou caprichos artísticos. Exigimos respeito à dignidade da pessoa surda e ao exercício profissional dos tradutores e intérpretes", conclui o texto, assinado por Elaine Figueiredo Lima Vasconcelos, presidente da entidade, e Patrícia Lavini, advogada (OAB/BA).