'Motel Destino', de Karim Aïnouz, divide crítica internacional em Cannes: 'esquecível' e 'ousado'

Filme de Karim Aïnouz surpreende críticos estrangeiros com cenas quentes, em mais de um sentido

23 mai 2024 - 08h08
(atualizado às 09h20)
Foto: Divulgação / Pipoca Moderna

A crítica internacional presente no Festival de Cannes se dividiu radicalmente sobre o longa brasileiro "Motel Destino", de Karim Aïnouz, que teve sua première na Croisette na noite de quarta-feira (22/5). O diretor cearense, premiado

no festival francês por "A Vida Invisível" (vencedor da mostra Um Certo Olhar em 2019), retornou ao festival com um thriller erótico muito aguardado.

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"Esquecível"

Entretanto, a revista francesa Les Inrockuptibles mostrou-se decepcionada. "O cineasta brasileiro nos propulsa para dentro de um motel sujo e assina um exercício de estilo sem profundidade", afirmou o texto.

Para o site americano The Wrap reclamou da falta de confiança do diretor e afirmou que "mesmo quando finalmente termina, há pouca chance de você lembrar muito do que viu." A publicação ainda reforça a crítica, dizendo que o filme "é em grande parte derivado, tornando-se a pior coisa que um filme como este poderia ser: esquecível."

Outro site importante, o Deadline, chegou a se entusiasmar com o começo - "uma explosão de energia e intriga, montando um promissor thriller neo-noir ambientado no cenário vibrante do Nordeste do Brasil" - , entretanto, logo reclamou: "Apesar do início emocionante e da cinematografia exuberante, o filme acaba perdendo o rumo, atolado por um ato intermediário lento e inconsistências narrativas".

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Equipe de 'Motel Destino' no tapete vermelho de Cannes 2024
Foto: Stefefen Osburg/Divulgação

"Ousado"

Por outro lado, outras publicações viram muitas qualidades no filme, mesmo reconhecendo que ele pode não ser para todos.

A Variety concede que a projeção "pode ser frustrante para alguns". Mas ressalta: "Uma vez que você se submete à energia sensual febril do filme, ele se torna uma espécie de explosão, pulsando com som, cor e movimento, e genuinamente hilário em sua lubricidade descarada".

"'Motel Destino' é lento como mel e pesado de humor, a ponto de parecer um experimento de gênero ousado", avaliou o Guardian, antes de rasgar elogios. "O filme é maravilhosamente interpretado pelo trio central: três performances intensamente físicas e despretensiosas, nas quais seus corpos estão frequentemente em exibição, sensuais mas frágeis."

"Apesar de suas falhas, 'Motel Destino' tem humor, crueza e atmosfera de sobra", ponderou o site The Hollywood Reporter, que se impressionou com "os visuais intoxicantes de Hélène Louvart, que conferem ao filme um calor palpável, fisicalidade e perigo, lembrando o trabalho da ascendente diretora de fotografia francesa em 'Beach Rats' de Eliza Hittman. As composições marcantes filmadas em 16mm têm texturas granuladas pulsando com vitalidade e eletrificadas por arrojados toques de cor saturada. A aparência é como neon mesmo à luz do dia, adicionando consideravelmente à carga erótica do filme."

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O site ScreenDaily foi nessa linha, citando a palheta de cores da produção, mas enaltecendo mais a atmosfera sensual: "Aïnouz brinca com o conceito de erotismo, que é de longe o elemento mais interessante deste drama: lençóis laranja flamejantes, lentes infravermelhas e flashes de azul pervinca à parte. Cada quarto do Motel Destino estremece e geme com a urgência das necessidades físicas sendo expressas lá dentro."

Já o site Indiewire o considerou "sexy, perturbador, mas frio apesar do calor equatorial e da lava quente das atrações livres". O texto argumenta que "o filme irradia uma energia niilista que pode não ter sido a intenção de Aïnouz, cujo objetivo era um retrato celebratório da luxúria através do prisma do noir." E conclui que "'Motel Destino' parece quase iconoclasta em sua energia feroz e expansiva, com a aura destemida de um filme europeu dos anos 1960 cruzado com um pornô."

Realmente ousado.

A trama e o elenco

Único latino-americano da competição, o filme foca na trajetória do jovem Heraldo, interpretado pelo estreante Iago Xavier, que transforma o cotidiano do Motel Destino ao chegar no local. Ele é um jovem de 21 anos que sonha em deixar sua pequena cidade litorânea para buscar uma vida melhor em São Paulo. Ele e seu irmão Jorge trabalham para uma agiota e traficante local chamada Bambina, que exige que eles façam um último trabalho antes de partirem. A trama se complica quando Heraldo decide passar uma noite com uma desconhecida no Motel Destino, perdendo seu dinheiro e ficando preso no quarto.

Ao retornar à cidade, Heraldo descobre uma tragédia durante o trabalho que deveria ter feito e, perseguido pelos capangas de Bambina, volta a buscar refúgio no Motel Destino, onde começa a trabalhar como faz-tudo em troca de abrigo. O motel é administrado por Dayana e seu marido abusivo, Elias. Heraldo e Dayana iniciam um caso clandestino, enquanto Elias, que também se sente atraído por Heraldo, desconfia do relacionamento dos dois.

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O filme explora temas de erotismo, traição e violência, com uma atmosfera carregada de tensão sexual e um cenário sórdido, com referências ao neonoir dos anos 1980 - de filmes como "O Destino Bate à Sua Porta" e "Corpos Ardentes" (ambos de 1981). A narrativa é pontuada por cenas gráficas de sexo e momentos de perigo iminente, refletindo a luta de Heraldo para escapar de seu destino sombrio.

O elenco destaca o estreante Iago Xavier como Heraldo, Nataly Rocha ("Segunda Chamada") como Dayana, Fabio Assunção ("Onde Está Meu Coração") como Elias, Fabíola Líper ("Bacurau") como Bambina e Renan Capivara ("Cabeça de Nêgo") como Jorge.

Ainda não há previsão de estreia no Brasil.

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