Em 'Eternidade', o amor é uma escolha diária: 'Não há resposta errada, mas algumas são bem ruins'

Nova comédia romântica traz Elizabeth Olsen em dilema ao precisar escolher com qual de seus grandes amores gostaria viver após a morte

6 dez 2025 - 12h12

O cinema e a TV já imaginaram muitas vezes como seria a vida após a morte. Na série The Good Place, os personagens vão para uma espécie de vila, onde passam o pós-vida no conforto de uma cidade pequena. Em Viva - A Vida é uma Festa (2017), o mundo dos mortos é um lugar vibrante com muita música e festividade. Mas em Eternidade, novo filme estrelado por Elizabeth Olsen, cada um precisa escolher o mundo perfeito em que gostaria de morar para sempre. E com quem deseja ir para lá.

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O longa, estreia desta quinta-feira, 4, nos cinemas brasileiros, conta a história de Joan (Olsen), uma mulher que, após a morte, tem uma semana para decidir onde quer passar a eternidade. Esperando por ela há duas pessoas na esperança de acompanhá-la: Larry (Miles Teller), seu marido com quem construiu uma vida e teve filhos e netos, e Luke (Callum Turner), seu primeiro amor, que morreu jovem e passou 60 anos esperando por sua chegada.

Vestido como uma comédia romântica, o filme dirigido por David Freyne partiu de um roteiro de Pat Cunnane (Designated Survivor) que em 2022 ficou em primeiro lugar na Black List - um ranking dos melhores roteiros feitos em Hollywood que ainda não haviam sido produzidos. Nas mãos do diretor, o projeto ganhou um ar retrô, com cenários coloridos pintados a mão, propondo à protagonista um dilema existencial complexo em meio a uma estrutura clássica de um triângulo amoroso.

"A maioria de nós tem mais de um relacionamento em nossas vidas, e cada um deles reflete traços diferentes para nós mesmos. Foi legal examinar isso em um filme. Poder criar um grande pós-vida ao redor deste conceito foi uma alegria", confessa, ao Estadão, o diretor.

Elizabeth Olsen, Callum Turner e Miles Teller em 'Eternidade'
Elizabeth Olsen, Callum Turner e Miles Teller em 'Eternidade'
Foto: Leah Gallo/A24/Divulgação / Estadão

No filme, uma alma desencarnada chega à eternidade em uma grande estação de trem. Neste lugar, a Junção, cada um tem uma semana para passear entre centenas de estandes e escolher para qual mundo gostaria de ir. A única condição é que as escolhas são irreversíveis. Se você decidir embarcar para o mundo do surfe, por exemplo, nunca mais poderá sair de lá.

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Para ajudar nesta escolha, as novas almas são designadas a coordenadores do pós-vida, outras almas mais experientes responsáveis por ajudar os novatos em uma escolha verdadeira e decisiva.

"Para mim, a mensagem do filme é 'faça escolhas, não tenha medo de fazer escolhas'. Há muitos peixes no oceano. Não quero dizer que não há resposta errada, mas algumas são bem ruins", reflete Da'Vine Joy Randolph, vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante por Os Rejeitados, sobre o significado do filme. "Não existe amor perfeito."

John Early e Da'Vine Joy Randolph interpretam coordenadores do pós-vida na comédia 'Eternidade'
Foto: Leah Gallo/A24/Divulgação / Estadão

"Algumas são ruins, mas todas, até mesmo as boas escolhas, vêm com concessões", complementa o comediante John Early. Os dois interpretam os coordenadores no filme, e vivem em uma relação de amor e ódio que alivia o peso conceitual da premissa do filme. "Então você não vai encontrar uma resposta perfeita. O único amor perfeito é o nosso próprio. Uma coisa que eu gosto nesse filme é que ele mostra como o amor comum, às vezes até mesmo irritante, pode ser muito profundo quando você olha para a sua vida."

O dilema da escolha

Embora estruturado como uma comédia de triângulo amoroso, Eternidade se recusa a entregar de bandeja qual é a escolha correta a ser feita por Joan. Tanto Luke quanto Larry aparecem como candidatos prováveis, e possíveis escolhas que vêm com consequências boas e ruins.

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No sentido de não haver uma resposta correta, Freyne acredita que parte do mérito cabe ao elenco, que não teve medo de deixar o ego de lado para explorar as partes bonitas e feias de seus personagens. Mas também há nisso a parte que cabe ao roteiro, coescrito pelo diretor.

"Era muito importante para mim que os dois homens fossem tridimensionais, que ambos tivessem falhas e pontos positivos e negativos", explica David.

"E era importante que não caíssemos naquele lugar comum de um ser o vilão e o outro ser perfeito. Ambas as escolhas precisavam soar válidas, e isso era vital, porque não importava qual escolha Joan fizesse, alguém teria seu coração partido. Os dois podem ser amáveis de muitas formas, e eu adoro quando o público sai do cinema debatendo se ela fez ou não a escolha certa."

Independente das opiniões, o diretor admite, a escolha final do filme é a que ele sempre idealizou para Joan, embora a forma para se chegar até lá tenha mudado algumas vezes. Para ele, nunca ouve outra opção, embora nem todos concordem.

"O que eu acho engraçado é a quantidade de jovens que ficam tipo, 'por que ela simplesmente não escolhe os dois?' E eu acho que isso tem sido muito interessante e divertido de ver. Mas a realidade é que um trisal dá muito trabalho, ninguém tem energia para isso. Quando os mais novos envelhecerem, eles vão perceber o quanto um trisal é exaustivo", brinca Freyne, entre risos. "Mas, no fim das contas, são reações sinceras e comoventes."

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Para John Early, a variedade de reações ao filme é condizente com a mensagem de que não há uma única escolha correta quando o assunto é um relacionamento amoroso.

"As pessoas hoje em dia não têm mais tanta esperança, não estamos almejando um futuro longo e brilhante. Mas há muito a ser dito sobre um relacionamento duradouro. O filme explora o tipo de profundidade que só existe em um relacionamento de longo prazo", opina o ator.

Da'Vine, no entanto, acredita que as múltiplas possibilidades trazidas pela história mostram o quanto, muitas vezes, as pessoas podem buscar o "amor eterno" nos lugares errados. "Às vezes, a vitória é a permanência, é o fato de aquela pessoa ter podido viver com você por tanto tempo", completa. "Algumas vezes o grande amor não é aquele amor dramático, é o amor curto. Aquele que passou rápido e vai ser bom para você para sempre."

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