Por que o símbolo de coração não tem nada a ver com o órgão?

Cientistas investigam origem do símbolo do coração, que é bem diferente do órgão; nova hipótese busca explicação científica para sua popularização no mundo

23 abr 2024 - 20h52
(atualizado em 24/4/2024 às 12h18)

O mais popular símbolo do coração humano não lembra em nada o verdadeiro órgão, mesmo assim é onipresente na cultura popular e nas mensagens trocadas no dia a dia. Tanta popularidade fez com que pesquisadores do Hospital San Raffaele, na Itália, revirassem documentos e artigos científicos, em busca da origem deste desenho. Os achados surpreendem pela possibilidade de uma suposta explicação científica para a imagem.

Foto: Brett Jordan/Unsplash / Canaltech

O curioso é que, desde os tempos mais remotos, como o Egito Antigo, as necropsias já eram realizadas. Durante o renascimento italiano, inúmeros artistas dissecaram cadáveres, buscando aprimorar as suas habilidades no desenho da anatomia humana, como Leonardo da Vinci e Michelangelo. Tudo isso torna ainda mais absurda a ascensão do símbolo "fake" do coração.

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Se olharmos o coração de verdade, o que veremos é um músculo assimétrico e com a aparência um pouco "retorcida". Isso faz do símbolo do coração um modelo anatomicamente incorreto — hoje, os puristas podem expressar amor e afeto usando um símbolo mais "correto" nas trocas de mensagens, após a inclusão de um emoji (pictograma) bastante próximo do que seria o órgão humano no WhatsApp, por exemplo.

Origem do símbolo do coração

Em artigo na revista The Journal of Visual Communication in Medicine (JVisComm), os pesquisadores sugerem algumas possíveis inspirações para a criação do símbolo do coração. 

Símbolo universal do coração não se parece anatomicamente com o órgão humano (Imagem: Fragasso et al., 2024/JVisComm)
Foto: Canaltech

Entre elas, está a folha de uma planta conhecida como sílfio, que crescia na costa norte da África. No reino dos vegetais, as folhas de nenúfar e da hera também poderiam ter inspirado a criação da imagem.

Fora da análise das folhas das mais variadas espécies, os pesquisadores contam que "há especulações de que ele tenha sido modelado a partir da anatomia humana dos seios ou das nádegas". No entanto, não é possível cravar uma resposta correta.

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O que se sabe é que a forma começou a se popularizar, de fato, na Idade Média, por volta do século XIII. Nos séculos XV e XVI, tornou-se ainda mais popular até a onipresença nos nossos dias — no teclado padrão do sistema operacional Android, são pelo menos 24 emojis diferentes para representar um coração, com os mais diferentes significados.

Existe alguma verdade no símbolo?

Numa reviravolta histórica, a ciência do século XX descobriu que a forma do coração pode ter se baseado não em plantas e nem em partes do corpo, mas no resultado de um experimento anatômico. Entretanto, esta é apenas uma suspeita, ainda pouco provável.

A partir da injeção de contrastes nas artérias, durante uma angiografia coronária (cateterismo cardíaco), é possível obter, em alguns casos, uma imagem semelhante ao símbolo do coração, com os equipamentos de imagens atuais. Veja esta imagem:

Exame moderno permite ver imagem próxima ao símbolo do coração (Imagem: Fragasso et al., 2024/JVisComm)
Foto: Canaltech

"No entanto, é difícil supor a possibilidade de que a evidência desta forma cardíaca podia ser visível aos olhos das pessoas que viviam na época das primeiras aparições icônicas da imagem do coração", explicam os pesquisadores. 

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Segundo os autores, "os padrões anatômicos do sistema arterial coronariano foram investigados e relatados, pela primeira vez, através de injeção post mortem e modelos [científicos], em meados da década de 1950". Então, como seria possível saber estes resultados em séculos anteriores?

No campo das suposições, anatomistas, cientistas e artistas podem ter realizado algum procedimento semelhante, com materiais menos sofisticados, e obtido a forma do coração que se tornou tão popular ao longo dos anos.

"A hipótese é que cientistas mais antigos já tivessem obtido a forma semelhante [do símbolo do coração], provavelmente injetando gesso nas artérias coronárias durante autópsias e depois transpondo a estrutura obtida para desenhos", sugerem os pesquisadores. No entanto, mais provas ainda precisam ser coletadas para apoiar a ideia.

Fonte: JVisComm  

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