Lua virou de dentro para fora há 4,22 bilhões de anos

Novo estudo indica que o manto da Lua foi invertido quando ela era jovem; o que estava na superfície desceu, e o que estava abaixo, subiu

10 abr 2024 - 13h48
(atualizado às 17h18)

Parece que a Lua virou de dentro para fora no passado. Pode parecer confuso, mas segundo um estudo liderado pelos cientistas planetários Weigang Liang e Adrien Broquet, da Universidade do Arizona, o que aconteceu é que o manto lunar sofreu uma espécie de inversão quando nosso satélite natural era jovem. Assim, o que estava na superfície desceu, e o que estava abaixo dela, subiu. 

Foto: NASA / Canaltech

Muito do que se sabe sobre a formação da Lua e suas origens vem da análise de amostras de rochas coletadas nas missões Apollo, há mais de 50 anos, e de modelos teóricos. As amostras de rochas basálticas de lava indicaram altas concentrações de titânio, e observações de satélite mostraram que rochas do tipo ficam, principalmente, no lado lunar voltado para a Terra.

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Mas, afinal, como estas rochas foram parar ali? É aqui que entra o novo estudo. Através de simulações, os autores mostraram que as anomalias gravitacionais no lado da Lua voltado para a Terra são consistentes com a presença e localização de rochas com minerais densos, preservados desde a formação da Lua.

Quando se formou, a Lua parecia ser coberta por um oceano global de magma que, depois que esfriou e se solidificou, formou o manto e crosta. Modelos indicam que, abaixo da superfície, os restos do oceano de magma se solidificaram e formaram ilmenita, um mineral denso composto por titânio e ferro.

Os astronautas das missões Apollo coletaram rochas de lava basáltica, que apresentam alta quantidade de titânio (Imagem: Reprodução/NASA)
Foto: Canaltech

O mais intrigante é que as rochas abaixo da ilmenita têm menor densidade, ou seja, o esperado era que as rochas com ilmenita afundassem na Lua, enquanto as de menor densidade deveriam subir à superfície. 

Em um estudo anterior, o coautor Nan Zhang e outros pesquisadores trabalharam comum modelo que previu que a camada densa de material, que é rica em titânio, migrou para o lado da Lua voltado para a Terra. Depois, os compostos teriam afundado até o interior lunar, mas deixaram para trás restos em uma espécie de padrão magnético. 

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Agora, eles compararam simulações de como a camada de ilmenita afundaria, com aquelas de anomalias gravitacionais detectadas ao redor de um grande mar lunar (região escura na Lua coberta por fluxos de lava). "Os materiais de ilmenita migraram para o lado próximo e afundaram para o interior [da Lua] como cascatas, deixando para trás um vestígio que causa anomalias no campo gravitacional da Lua", disse Liang.

Segundo os autores, tal mudança aconteceu há 4,22 bilhões de anos — que, aliás, foi quando a Lua foi formada. A teoria mais aceita atualmente descreve que nosso satélite natural veio de um pedaço da Terra que foi arrancado após uma colisão violenta entre nosso planeta e um objeto do tamanho de Marte.

Ilustração dos minerais ricos em ilmenita afundando, e dos padrões gravitacionais na superfície lunar (Imagem: Reprodução/Adrien Broquet, LPL/Audrey Lasbordes)
Foto: Canaltech

Já o coautor Andrews-Hanna conclui que a Lua é desigual em todos os aspectos. Ele observa que o lado lunar voltado para a Terra tem elevação mais baixa e crosta mais espessa, coberto por grandes fluxos de lava; o lado afastado, por sua vez, tem características diferentes. Portanto, a inversão do manto lunar parece estar relacionada à estrutura única observada em Oceanus Procellarum, região escura no lado próximo da Lua.

O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Nature Geoscience.

Fonte: Nature Geoscience; Via: University of Arizona

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