Violista premiada cria projeto de música clássica em periferias rurais do Brasil
Iniciativa oferece aperfeiçoamento musical no exterior, bolsas de estudo e formação de lideranças que democratizem o acesso à música erudita
A arte transforma vidas, mas antes é preciso que ela seja democrática. Esse é um dos objetivos do Ilumina, projeto fundado em 2015 pela violista Jennifer Stumm como um pequeno festival de música em uma fazenda de café, no interior de São Paulo. A ideia é aumentar a oportunidade e o capital criativo para diversos jovens talentos das periferias urbanas e rurais da América do Sul.
O projeto, durante todo o ano, atua diretamente com jovens bolsistas, advindos de contextos socioeconômicos críticos, e busca a formação de lideranças que ampliem e democratizem o acesso à música erudita no país. O coletivo, formado por artistas e pensadores, coloca a música como agente central de reformas sociais.
Os jovens participantes se reúnem com os melhores solistas do mundo em um festival imersivo, ensaiando e vivendo juntos na sede do festival, na Fazenda Ambiental Fortaleza, localizada em Mococa, cidade do interior paulista. Em 2023, o projeto chegou à sua 8ª edição com programação intensa de concertos gratuitos pelo estado.
O festival oferece possibilidades como o aperfeiçoamento musical no exterior, ao colocar os participantes em contato com solistas e docentes dos principais conservatórios do mundo. Nas últimas edições, foram facilitadas mais de 100 bolsas de estudo.
"Queremos que todos os talentos do mundo tenham uma chance igual, queremos mudar o processo de como as pessoas obtêm oportunidades neste mundo e como e onde esperamos que a grandeza exista. Estamos tentando iluminar o que não se vê, mas já existe", diz Jennifer.
Quem é Jennifer Stumm
Jennifer Stumm é uma premiada e reconhecida violista norte-americana, que desde a adolescência dá aulas de instrumentos de corda nas periferias de Atlanta, cidade onde nasceu. Foi na orquestra de sua escola, aos oito anos de idade, que Jennifer escolheu a viola – o som mais belo que já tinha ouvido. Estudou com Karen Tuttle no Curtis Institute of Music e na Juilliard School. Fez, ainda, uma imersão em política e astronomia na Universidade da Pensilvânia.
Atualmente, ocupa a Cadeira Internacional de Estudos de Viola (International Chair of Viola Studies) no Royal College of Music, Londres, e ministra masterclasses no mundo inteiro.
Veio ao Brasil pela primeira vez em 2004, quando trabalhou com jovens da Escola de Música do Estado de São Paulo. "Comecei a trabalhar no Brasil há 12 anos em um momento muito solitário. Estava fazendo shows importantes em todo o mundo, em grandes palcos, mas ainda sonhava com algo maior para minha vida”, conta.
“Na época eu não falava português, não fazia ideia de que o Brasil se tornaria o lar criativo que eu procurava – o lugar onde encontrei a liberdade de imaginar algo totalmente diferente, tanto para a música quanto para a minha vida. Não sabia que aqui recuperaria minha saúde, que construiria um projeto social internacional ou que se tornaria uma família que hoje chega a quase 40 países."
Jennifer acumulou diversas apresentações nos principais palcos do mundo, como o Carnegie Hall, o Concertgebouw, a Sala São Paulo e o Wigmore Hall de Londres. Sua carreira solo ganhou impulso depois de vencer três grandes competições internacionais em 2005: William Primrose, Geneva e Concert Artists Guild, na qual Jennifer se tornou a primeira violista da história a receber o prêmio.