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Na pandemia, buscas por meditação no Google batem recorde

Impacto da pandemia nas rotinas, aumentando o estresse e a ansiedade, faz procura de técnicas como mindfulness crescer até 4.000%

24 out 2020 - 23h01
(atualizado em 25/10/2020 às 12h13)
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Em meio à pandemia da covid-19, que levou a uma situação de isolamento social e mudanças no ritmo de vida, as buscas pelos termos meditação e mindfulness (ou atenção plena) atingiram o recorde dos últimos 16 anos, segundo levantamento do Google. Em relação ao ano passado, a pergunta "como fazer meditação para ansiedade" cresceu 4.000% e o aumento de "benefícios da meditação" chegou aos 200%.

Especialistas nas práticas ouvidos pelo Estadão afirmam que as pessoas estão procurando formas para lidar com as aflições que têm surgido no período e encontram, nos métodos, técnicas para tentar manter a calma, diminuir o estresse e focar nas atividades que precisam ser realizadas.

"Há uma sensação de necessidade de buscar alguma ferramenta para lidar com esse momento que é estressante para todos, porque houve mudança de padrão de vida. Aqueles que já conheciam e não estavam fazendo com regularidade, voltaram. E muitas pessoas foram buscar informação. Acho que a curva é ascendente", diz o médico especialista em mindfulness Marcelo Demarzo, coordenador do Centro Mente Aberta, ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

De acordo com o Google, as buscas por "como ser uma pessoa mais calma" tiveram um aumento de 3.250% em relação ao ano passado. "Espairecer a mente" cresceu 400%. "Muitos temas dispararam nas buscas durante a pandemia, e o bem-estar físico e mental foi umas das verticais em que esse salto ficou bem claro. As medidas de distanciamento social criaram uma nova rotina na vida das pessoas e elas precisaram se acostumar a novos hábitos, horários e precisaram encontrar novas maneiras de executar determinadas atividades", avalia Marco Túlio Pires, diretor do Google News Lab no Brasil.

Cursos online

Ante a necessidade de distanciamento por causa da covid-19, também cresceu um movimento de cursos online e lives, que atraíram pessoas interessadas em saber mais sobre o tema. "Com a pandemia, as pessoas viram outras possibilidades. Ao mesmo tempo, há uma melhor compreensão sobre o assunto, de entender mindfulness ou atenção plena como estado psicológico". Segundo ele, o estado de mindfulness não é concentração, é um estado de estar consciente do que está acontecendo neste momento. De acordo com o médico, o aumento de buscas pelo curso online de oito semanas foi de 50% no período.

Líder de marketing de uma empresa de tecnologia, Michelle Ito, de 35 anos, já tinha familiaridade com a meditação, mas tinha dificuldade de praticar. "Trabalhando em casa, o nível de ansiedade aumentou. Faço ioga há três anos e a professora começou a fazer meditações guiadas aos domingos logo no começo da pandemia. Isso já ajuda a começar a semana bem."

As técnicas também foram incorporadas no dia a dia. "Antes, tinha como dar uma pausa para o café. Quando tinha outras distrações, como sair de casa, a gente se obrigava a manter rotinas para manter a sanidade. Agora, faço técnicas de respiração. Três respirações profundas, principalmente no horário de trabalho."

Ela conta que pesquisou vídeos no YouTube e páginas de personalidades, como a Monja Coen. "A gente pode buscar formas de meditar e de vibrar diferentes, cada um tem a sua jornada. Eu faço tudo que me ajuda a me trazer para este momento presente, porque é o que tenho agora, e a segurar a emoção."

A assistente administrativa Jessica Braga, de 27 anos, descobriu o mindfulness enquanto enfrentava crises de ansiedade e começou a praticar em junho. "Sempre fui de trabalhar, sair, ir ao cinema, sair com meus filhos. Quando veio a pandemia, fiquei trancada e surtando dentro de casa. Tentava treinar e não focava." Ela diz que se adaptou às técnicas e passou a praticar antes de dormir e após acordar. "A ansiedade caiu muito."

A advogada Patrícia Machado, de 44 anos, fez buscas no Google e no Instagram e se deparou com um curso online de mindfulness na quarentena no final de julho. Desde então, tem praticado diariamente.

"Já tinha lido sobre, mas nunca tinha tentado. O mundo parou, não pude mais ver meus pais, fiquei muito ansiosa e deprimida vendo as notícias. Nos primeiros dez dias, vi diferença na minha ansiedade, dormi melhor e fiquei sem a angústia que eu tinha durante o dia."

Ela pretende continuar após a pandemia. "Com a prática, você vai se tornando melhor. Quero ficar mais serena e me livrar desse piloto-automático. Com 44 anos, estou começando a viver o presente, porque só vivia no futuro ou no passado.

Fazer atividades com presença

Instrutora sênior de mindfulness pelo Mindfulness Trainings International (MTI), Luiza Bittencourt diz que, com a pandemia, estímulos externos foram retirados das pessoas e, em casa, elas passaram a observar seus problemas e a lidar com questões como a ansiedade.

"As pessoas procuraram a prática de autocuidado, porque estavam no limite. O ser humano tem a tendência a ficar com a mente no passado, com uma mente ruminativa ou nostálgica, ou está no futuro, com a mente ansiosa. Mas a nossa vida só está acontecendo agora."

Luiza explica que, no caso da atenção plena, não é necessário acrescentar uma tarefa no dia, mas adotar as técnicas para realizar as atividades com presença.

"Não é só meditação, porque não adianta meditar e não se lembrar o que comeu ontem, o que falou com as pessoas, onde deixou as coisas em casa, não ter empatia e gratidão. É, na hora de comer, tirar um momento para curtir o sabor e não ficar respondendo mensagens. Sentir sua respiração, perceber o corpo, ver o que está tensionado e soltar. Sentir as sensações no banho, escolher o que vai usar de acordo com o aroma. Por isso que o mindfulness se encaixou bem. Ninguém quer mais uma tarefa, mas uma forma de alívio e de autoconhecimento."

Entre os benefícios, Demarzo destaca regulação das emoções e redução da ansiedade. "Na área da educação, melhora a atenção, memória e a aprendizagem. Para empresas, diminui o esgotamento profissional e melhora a liderança. Mais consciente, mais humanizado." "A pessoa pode optar por meditar no campo da religião e da espiritualidade, dentro de um contexto filosófico do que ela se identifica. A proposta moderna é no contexto acadêmico. É uma técnica para qualidade de vida", explica Demarzo.

As técnicas podem ser praticadas independentemente de religião, segundo os especialistas. E essa é uma dúvida frequente entre quem pesquisa sobre o tema: "O que é meditar na palavra de Deus" e "O que a bíblia diz sobre meditação" foram perguntas que apareceram nas buscas.

"A pessoa pode optar por meditar no campo da religião e da espiritualidade, dentro de um contexto filosófico do que ela se identifica. A proposta moderna é no contexto acadêmico. É uma técnica para qualidade de vida", diz Demarzo.

Como praticar meditação

  1. Pratique a autocompaixão e saiba que você não estará focado o tempo todo. Quando se distrair, traga a atenção de volta. Mindfulness é estado de atenção plena.
  2. Procure estar presente na atividade que está realizando e nas sensações que ela causa.
  3. É possível encontrar vídeos e playlists com técnicas de meditação e mindfulness online com diferentes durações.
Estadão
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