Enxaqueca vestibular pode vir sem dor de cabeça, mas causa vertigem
A enxaqueca vestibular caracteriza-se pela ocorrência de vertigens que podem durar de cinco minutos a até três dias
A enxaqueca vestibular, que afeta cerca de 1% da população, pode causar vertigens com ou sem dor de cabeça, dificultando o diagnóstico, e exige tratamento multimodal com medicamentos, reabilitação vestibular e mudanças no estilo de vida.
A enxaqueca é uma condição neurológica que afeta aproximadamente 30 milhões de brasileiros, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cefaleia. Embora seja frequentemente associada a dores de cabeça intensas, nem todas as manifestações dessa doença incluem esse sintoma.
“Um exemplo notável é a enxaqueca vestibular, na qual os pacientes podem experimentar episódios de tontura e vertigem sem a presença concomitante da dor de cabeça. Muitos desses pacientes acreditam que sofrem com labirintite, com uma tontura de mareamento, e isso pode atrasar o diagnóstico e o tratamento da Enxaqueca Vestibular”, explica Tiago de Paula, neurologista especialista em Cefaleia pela Escova Paulista de Medicina (EPM/UNIFESP), membro da International Headache Society (IHS) e da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC).
Estudos indicam que cerca de 50% das pessoas com enxaqueca apresentam tonturas associadas às crises. Além disso, estima-se que a enxaqueca vestibular afete 1% da população, sendo mais prevalente entre as mulheres.
“A enxaqueca vestibular caracteriza-se pela ocorrência de vertigens que podem durar de cinco minutos a até três dias, frequentemente acompanhadas por sintomas típicos da enxaqueca, como sensibilidade à luz e ao som. Curiosamente, essas vertigens podem ocorrer sem a presença de dor de cabeça, o que pode dificultar o diagnóstico correto”, explica o médico.
“A origem desses sintomas está relacionada a uma hipersensibilidade do cérebro a estímulos ambientais, como movimentos, luzes e sons. Durante uma crise, alterações na circulação sanguínea cerebral podem afetar o sistema vestibular, responsável pelo equilíbrio, resultando em sensações de vertigem ou instabilidade. Essa sensibilidade exacerbada pode levar a uma percepção intensificada dos movimentos, provocando tonturas e desequilíbrio”, comenta Tiago de Paula.
O desafiador diagnóstico da enxaqueca vestibular requer ajuda médica especializada, especialmente porque os sintomas podem ser confundidos com outras condições, como a Doença de Ménière ou labirintite. “No entanto, diferentemente da labirintite, que é uma infecção do ouvido interno e geralmente apresenta sintomas auditivos marcantes, a enxaqueca vestibular não é causada por uma doença do labirinto e tende a não alterar os exames auditivos”, comenta.
Como muitas pessoas têm dúvidas sobre esse tipo de Enxaqueca, o médico explica algumas particularidades:
• Sem padrão uniforme: “A Enxaqueca Vestibular não segue um padrão uniforme para todos os indivíduos. A maioria das pessoas, porém, experimenta melhora nos sintomas ao longo do tempo quando seguem o tratamento adequadamente e mantém as mudanças no estilo de vida.”
• Alterações hormonais: “As alterações hormonais em geral podem influenciar a frequência e a severidade das crises. Nas mulheres, é comum os sintomas piorarem próximo à menstruação, por exemplo, ou no período perimenopausal.”
• Atividade física: “Se o paciente estiver em meio a uma crise de Enxaqueca Vestibular, a atividade física intensa pode piorar os sintomas. Por isso, é importante medicar o paciente de forma adequada para que ele possa retornar às atividades.”
• Diagnóstico adequado: “A Enxaqueca Vestibular pode ser confundida com outros quadros, como a Doença de Ménière, por isso é importante realizar uma investigação ampla e descartar possibilidades. O diagnóstico, porém, só pode ser feito por um médico especialista, que levará em conta, principalmente, a história clínica do paciente.”
• Ansiedade e depressão: “Situações estressantes ou distúrbios do humor, como ansiedade e depressão, podem desencadear crises de Enxaqueca Vestibular e dificultar o controle da doença. Essa relação, porém, é complexa, se apresenta de maneiras variadas e deve ser levada em conta na avaliação do paciente.”
O tratamento profilático da migrânea vestibular envolve o uso de medicamentos que visam reduzir a frequência e a intensidade das crises, segundo o médico. “Os betabloqueadores, como o propranolol, e os bloqueadores dos canais de cálcio, como a flunarizina, são frequentemente utilizados no manejo da doença, assim como anticonvulsivantes, como o topiramato e o ácido valpróico. Quando esses medicamentos forem eficazes, outras opções terapêuticas podem ser consideradas. A toxina botulínica e os anticorpos monoclonais contra o CGRP (peptídeo relacionado ao gene da calcitonina), como o galcanezumabe, têm se mostrado eficazes na redução tanto da dor da enxaqueca quanto dos sintomas vestibulares. Pacientes que não respondem a tratamentos iniciais, como propranolol ou topiramato, podem se beneficiar significativamente da toxina botulínica, com melhora nas crises de cefaleia e nos sintomas de vertigem e desequilíbrio. Estudos indicam que pacientes que falham no tratamento convencional apresentam maior chance de benefício com a toxina botulínica, o que torna essa abordagem uma alternativa importante”, diz o médico.
“Além dos medicamentos, a reabilitação vestibular é uma abordagem terapêutica complementar valiosa, que foca na melhora do equilíbrio e redução dos sintomas de vertigem. A combinação da reabilitação vestibular com o tratamento medicamentoso profilático tem mostrado resultados superiores no controle global dos sintomas da enxaqueca vestibular, proporcionando uma melhora significativa na qualidade de vida dos pacientes”, comenta.
“O manejo da enxaqueca vestibular é multimodal, envolvendo tanto o uso de medicamentos profiláticos, como a toxina botulínica e os anti-CGRPs, quanto terapias complementares, como a reabilitação vestibular, para garantir um controle eficaz dos sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Além disso, mudanças no estilo de vida, como evitar alimentos desencadeantes, controlar o estresse, manter uma rotina de sono adequada e praticar atividades físicas regularmente, são recomendadas para prevenir novas crises”, finaliza o especialista.
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