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Arte e psicanálise se unem em exposição de artista brasileiro

O pintor Egas Francisco criou mais de 150 desenhos durante sessões de terapia

5 out 2019 - 09h14
(atualizado em 7/10/2019 às 09h32)
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O artista plástico brasileiro Egas Francisco.
O artista plástico brasileiro Egas Francisco.
Foto: Cedida por assessoria de imprensa para divulgação / Estadão

A pintura, mais do que algo para se apreciar, é uma forma de expressão de muitos artistas antigos e contemporâneos. Ela pode ser objetiva ou abstrata, retratar um momento, uma pessoa ou um sentimento. Pensando que esse tipo de arte pode deixar transparecer o mais íntimo de quem a cria, também pode ser uma aliada na psicanálise, que busca compreender a subjetividade e o inconsciente das pessoas.

Foi por meio da junção dessas duas áreas aparentemente distantes que a exposição Palimpsesto Mágico nasceu. A mostra, exibida em São Paulo desde o dia 30 de setembro, é composta por mais de 150 esboços criados pelo artista plástico brasileiro Egas Francisco, de 80 anos, durante as sessões de terapia que ele fez com o psiquiatra Isac Karniol por quase dois anos. Segundo o médico, a expressão por meio da arte foi fundamental para o processo terapêutico.

"Ele não queria mais pintar, estava deprimido, mas voltou a pintar e expor. No caso dele, por questões clínicas, não era possível usar muito medicamento. E ele sem arte não vive. E os medicamentos interferem na criatividade. Era necessário achar uma forma de comunicação do inconsciente, não só por palavras", contou Karniol ao E+.

Um dos esboços de Egas Francisco que foram produzidos durante sessões de psicanálise com Isac Karniol.
Um dos esboços de Egas Francisco que foram produzidos durante sessões de psicanálise com Isac Karniol.
Foto: Cedida por assessoria de imprensa para divulgação / Estadão

A terapia não serviu apenas como tratamento para o pintor, mas também para o psiquiatra. "Concordamos com Egas que nós nos tratamos, pois aspectos mais profundos e vivos dos nossos seres estavam em comunicação", declara o médico na introdução do livro Palimpsesto Mágico, que reúne as obras da exposição e interpretações analíticas delas assinadas por Karniol e sua mulher Patrícia, também psicanalista.

Segundo o especialista, é a primeira vez que esse tipo de produção é feita por um artista durante as sessões de terapia. "Eu e Patrícia procuramos várias formas de arte para comunicar com os pacientes: música, desenhos; e eles se expressam. Mas é a primeira vez em toda literatura [da psicanálise] que um artista se expressa também por pintura." A mostra dos esboços fica aberta até o dia 11 de outubro (mais detalhes abaixo).

Arte e psicanálise

Sigmund Freud, criador da psicanálise, usava a arte como referência em seus trabalhos. O mais conhecido, talvez, seja o complexo de Édipo, baseado na peça de teatro grego Édipo Rei, escrita por Sófocles. A história foi utilizada pelo psiquiatra para elucidar as questões mais fundamentais da sexualidade humana.

Karniol explica que a arte, e neste caso a pintura, não é comumente utilizada como ferramenta terapêutica na psicanálise. No entanto, pode ser e é usada em casos específicos, quando a pessoa analisada não consegue se expressar por palavras. Crianças e quem tem esquizofrenia, por exemplo, poderiam fazer uso da técnica.

Os esboços que Egas Francisco criou durante as sessões de psicanálise foram importantes para o processo terapêutico.
Os esboços que Egas Francisco criou durante as sessões de psicanálise foram importantes para o processo terapêutico.
Foto: Cedida por assessoria de imprensa para divulgação / Estadão

Esse não é o caso de Egas, mas continuar criando durante as sessões de terapia foi algo que ocorreu naturalmente. "Na primeira sessão, ele trouxe alguns desenhos. A partir do momento que ele se expressa tão bem pelos esboços, isso espontaneamente surgiu como possibilidade. A subjetividade dele, o aspecto mais instintivo, vinha [nas obras] e era essencial na psicanálise', conta Karniol.

Além das palavras e dos desenhos, Egas Francisco também levava poemas para as sessões, outra forma de arte. O psiquiatra explica que, no funcionamento mental, existe a subjetividade, que envolve emoções e sentimentos e precisa ser levada em conta na terapia. "Essa subjetividade e elementos inconscientes se expressam por outras formas, inclusive por imagens. É uma forma de comunicação e essa subjetividade é o mais íntimo, transparece de forma mais evidente", diz.

Em casos específicos, a arte pode servir como ferramenta terapêutica na psicanálise.
Em casos específicos, a arte pode servir como ferramenta terapêutica na psicanálise.
Foto: Cedida por assessoria de imprensa para divulgação / Estadão

Segundo Karniol, o inconsciente influencia mais o nosso consciente do que a razão. Assim, os esboços de Egas Francisco expressavam aquilo que podia não ser dito em palavras, uma ferramenta a mais para que o psicanalista pudesse compreender as demandas do paciente. "Essa possibilidade de comunicação do Egas tem aproximação entre arte e ciência. Esta [a ciência] não conseguiu aprofundar nesse inconsciente, mas Egas penetra nesse inconsciente", afirma.

A exposição Palimpsesto Mágico fica aberta até o dia 11 de outubro na Joh Mabe Espaço Arte & Cultura, em São Paulo. O espaço está localizado na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 4.225, e abre de segunda-feira a sexta-feira, das 10h às 18h, e aos sábados, das 10h às 14h.

Estadão
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