TFFF: entenda o que é o fundo criado por Lula, que receberá 1 bilhão de euros da Alemanha
Anúncio foi feito pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante coletiva de imprensa na COP30
O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês) é um fundo internacional proposto pelo Brasil durante a 30ª Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP30), com o objetivo de pagar aos países em desenvolvimento para que eles protejam e conservem suas florestas.
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O governo federal confirmou na quarta-feira, 19, que a Alemanha fará um aporte de 1 bilhão de euros (cerca de R$ 6,1 bilhões) no fundo, juntando-se às contribuições feitas pela Noruega (US$ 3 bilhões), Indonésia (US$ 1 bilhão), França (US$ 500 milhões), além do próprio Brasil, que anunciou o investimento de US$ 1 bilhão durante a 80ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, em setembro deste ano.
O anúncio foi feito pela ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, durante uma coletiva de imprensa na conferência, em Belém (PA), onde estavam presentes também o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, o embaixador e presidente da COP30, André Corrêa do Lago, a CEO da COP30, Ana Toni, e o secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, Maurício Lyrio.
Na prática, o fundo é um incentivo financeiro climático para que países que abrigam florestas tropicais, como Brasil e Indonésia, trabalhem para a preservação dos seus biomas. A seguir, entenda os principais pontos do TFFF e de que forma ele deve impactar a economia global nos próximos anos e a conservação das florestas tropicais.
O que é o TFFF?
O TFFF foi lançado oficialmente no dia 6 de novembro de 2025 durante a Cúpula de Líderes, em Belém (PA). A proposta do Brasil é levantar US$ 125 bilhões (aproximadamente R$ 625 bilhões) para o fundo, tendo como meta inicial a capitalização de US$ 25 bilhões durante a COP30.
De acordo com o governo federal, o novo modelo de financiamento climático quer que os países preservem suas florestas tropicais e, para isso, eles devem ser recompensados financeiramente por meio do fundo. O Brasil lidera os esforços pela criação do TFFF desde 2023, quando o presidente Lula abordou o tema publicamente pela primeira vez durante a COP28, em Dubai.
Ao Terra, o pesquisador Carlos Nobre explicou que a expectativa é de que o setor privado contribua com US$ 100 bilhões para chegar aos US$ 125 bilhões esperados. "Não é doação, é investimento em ações de sustentabilidade. Esse recurso não poderá ser usado para financiar combustíveis fósseis ou desmatamento, então isso é muito bom", destacou.
Como funcionará?
O fundo global se compromete a oferecer juros reduzidos como um ativo de baixo risco para quem investir. Com isso, esses recursos serão reinvestidos em projetos com maior taxa de retorno, gerando lucro. A diferença deve ser repassada aos países com florestas tropicais, proporcionalmente à área preservada, ou seja, quanto mais hectares de floresta forem preservados, mais o país recebe de incentivo financeiro. Pela lógica, caso ocorra desmatamento ou degradação, os países terão seus recursos reduzidos.
Enquanto isso, o dinheiro que foi emprestado será devolvido aos investidores com lucro. Segundo o governo federal, o monitoramento será feito via satélite, com padronização internacional, dados públicos e de fácil acesso. Além disso, o fundo não concorre com o mercado de créditos de carbono ou com o REDD+, atuando apenas de forma complementar.
"Vai beneficiar demais a Amazônia esses US$ 4 (cerca de R$ 21) por hectare por ano. Isso pode trazer para a Amazônia mais de US$ 1 bilhão, ou seja, quase US$ 200 milhões por ano para os indígenas. É a primeira vez que se vai recompensar os serviços ecossistêmicos das florestas", acrescentou Carlos Nobre.
Quem daria o dinheiro e quem seria beneficiado?
Mais de 70 países em desenvolvimento com florestas tropicais poderão ser beneficiados com os recursos do fundo, tendo em vista que eles seriam compensados por manter a floresta em pé, independentemente do bioma. Entre os países que podem ser beneficiados com os recursos estão Brasil, Colômbia, Peru, Indonésia, República Democrática do Congo e Gana.
O mecanismo climático também propõe destinar ao menos 20% dos pagamentos às populações indígenas e comunidades tradicionais, que são essenciais para a preservação da fauna e da flora. O rendimento anual previsto é de até US$ 4 bilhões (R$ 21,32 bi), ou seja, o valor seria destinado aos países que mantiveram suas florestas em pé.
Qual a contrapartida?
Os países que forem beneficiados com o TFFF deverão apresentar relatórios anuais ao conselho do fundo que comprovem a conservação das florestas, com base no monitoramento via satélite. No Brasil, por exemplo, este monitoramento é feito por meio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Os repasses poderão ser cortados ou sofrer deduções a depender do nível de desmatamento e degradação florestal, ou seja, o país precisa ter uma taxa de desmatamento de no máximo 0,5% ao ano. Ainda assim, se o desmatamento for inferior a 0,5%, ainda haverá descontos no pagamento. Já os países beneficiários terão autonomia para definir o destino final dos recursos.
Os países que desejam aderir ao fundo global devem ter sistemas de gestão financeira transparentes e concordar em separar 20% dos recursos para os povos indígenas e comunidades tradicionais de suas regiões. A aplicação do fundo em projetos que envolvam combustíveis fósseis é proibida, sendo necessário optar por ações e títulos de governos e companhias de países emergentes, ou produtos considerados verdes, segundo o governo federal.
*Essa reportagem foi produzida como parte da Climate Change Media Partnership 2025, uma bolsa de jornalismo organizada pela Earth Journalism Network, da Internews, e pelo Stanley Center for Peace and Security.

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