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Holanda 1967: após esta prova, a F1 nunca mais foi a mesma

Há 54 anos, Zandvoort foi palco da estreia do motor que mudou a história da F1, o Ford Cosworth V8

1 set 2021 - 17h00
(atualizado às 17h36)
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Keith Duckworth (segundo, a partir da esq.) junto de seu motor em um teste de dinamômetro.
Keith Duckworth (segundo, a partir da esq.) junto de seu motor em um teste de dinamômetro.
Foto: Cosworth / Divulgação

A Fórmula 1 volta para a Holanda após 36 anos. Fica um pouco estranho ver as estatísticas que apontam como último vencedor Niki Lauda na McLaren. Mas como não podemos nos prender a detalhes, vamos em frente. Para marcar este retorno a Zandvoort, cabe ir um pouco mais atrás para registrar um dos momentos épicos da categoria.

Tudo tem origem em 1965. A CSI (Comissão Esportiva Internacional, braço esportivo da FIA, que posteriormente tornou-se a FISA, com a qual se uniu em 1993) decidiu que a F1 adotaria novos motores a partir de 1966. Dos 1,5 litro, passariam a usar unidades aspiradas de 3 litros. Naquele momento, boa parte do grid era atendida pelos simples e confiáveis Coventry/Climax. Estes motores eram originalmente concebidos para uso em empilhadeiras e outras máquinas pesadas, não para corridas. Em meados da década, a fábrica anunciou que não se envolveria mais em competições, pois elas não proporcionavam retorno financeiro e não tinham nada a ver com suas atividades.

Várias equipes se viram apertadas para esta mudança. Uma delas era a Lotus, de Colin Chapman. Entre as opções na mesa, além de buscar uma unidade já existente, seria desenvolver uma própria.

Chapman procurou seus antigos engenheiros, Frank Costin e Keith Duckworth, que apesar de terem criado sua própria empresa, a Cosworth (a união de parte de seus sobrenomes), ainda prestavam alguns serviços para a Lotus. Quando perguntados se poderiam construir um motor competitivo dentro das novas especificações, a resposta foi sim e que custaria cerca de 100.000 libras esterlinas para desenvolver.

Lotus 49 com motor Ford Cosworth marcou o início de uma nova era na F1.
Lotus 49 com motor Ford Cosworth marcou o início de uma nova era na F1.
Foto: Wikipedia Commons / Divulgação

Para a época, o valor era uma pequena fortuna. Embora a Lotus fosse uma empresa promissora nas pistas e na venda de carros especiais, era um grande investimento. Assim, Chapman bateu na porta da Aston Martin e da Ford para “vender” o projeto, sem obter sucesso. Mas ele não se deu por vencido e foi procurar seu amigo Walter Hayes, então chefe de relações públicas da Ford britânica. Ambos desenvolveram uma ótima relação graças a projetos desenvolvidos pelas empresas (o Ford Cortina foi um deles).

Hayes conseguiu marcar um jantar para Chapman se reunir com Harley Copp, um americano que trabalhava na Ford britânica e que tinha sido um dos responsáveis pelo envolvimento da fábrica na Nascar na década de 1950. Copp topou a ideia e trabalhou em um plano com Hayes. O chefão da Ford britânica apoiou e levou para aprovação da sede nos Estados Unidos. A cúpula aprovou.

Inicialmente, a Cosworth seria contratada para desenvolver um motor para a F2 e, posteriormente, faria o motor para a F1. O cronograma previa que a unidade ficaria pronta para a temporada de 1967. Isso fez Chapman adotar uma solução provisória: reformar o velho modelo 33 e preparar o 43, que teria o ousado projeto de 16 cilindros em H da BRM (que nada mais era do que dois blocos de oito cilindros usinados).

Para 1966, a Cosworth fez um motor de quatro cilindros para a F2, baseado no bloco do Ford Cortina de rua, já adotando alguns dos conceitos que viriam depois, como o duplo comando no cabeçote. O FVA provou seu valor e a união dos dois blocos de quatro cilindros deu origem ao V8. Era um motor leve, compacto e simples.

Enquanto sofria, Chapman desenvolvia juntamente com Maurice Phillipe o modelo 49. Este foi pensado já considerando o motor que a Cosworth estava desenvolvendo. A base veio do Lotus 38, que venceu a Indy 500 com Jim Clark em 1965. Agora, o carro seria mais baixo e mais compacto. E traria uma inovação que os carros adotariam dali em diante: o motor seria parte estrutural do carro, ligado ao chassi, com a suspensão traseira e o câmbio separados. Isso deu maior rigidez ao conjunto, melhorando a dinâmica.

A Ford exigiu a contratação de Graham Hill para 1967. A intenção era formar um supertime com Jim Clark e ajudar no desenvolvimento. Afinal, aquele motor seria dado em regime de exclusividade para a Lotus. Mesmo com o trabalho sendo feito, o motor só ficaria pronto a tempo do terceiro GP da temporada, na Holanda.

Os primeiros testes foram promissores, embora tenha havido dificuldade para acertar a curva de potência. O Cosworth DFV (Double Four Valve – Quatro Válvulas Duplas) não era tão potente como os V12 de Honda e Ferrari, mas era mais leve e econômico. Hill e Clark esfregaram as mãos com o potencial que o carro apresentou.

E assim o foi: a estreia na Holanda foi um domínio das Lotus. Hill ficou na frente, mas justamente o motor quebrou e a vitória ficou com Jim Clark. Primeira corrida, primeira vitória. O conjunto Lotus 49/Cosworth se mostrou forte, porém ainda sofreu de juventude e o título daquele ano foi para Danny Hulme.

Para o bem da F1, a Ford conseguiu convencer Chapman a abrir mão da exclusividade do motor e assim, uma nova era começou. As equipes puderam ter acesso a um motor simples, confiável, econômico e barato. E assim foi até 1985, sem grandes alterações. Ele serviu como base de motores para a F-Indy e para a nova geração de propulsores aspirados que voltou a partir de 1987. Se a F1 é o que é hoje, deve muito ao Cosworth V8 DFV.

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