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ESCAPE: misturando teatro e videogames

ERA Game Studio, da Bahia, criou um novo gênero chamado por eles de Live Games

20 set 2022 - 14h24
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Atores e público em uma exibição de ESCAPE
Atores e público em uma exibição de ESCAPE
Foto: ERA Game Studio

Ali por 2013 ou 2014 surge uma organização gamedev um tanto quanto diferente. A ERA Game Studio une duas artes um tanto quanto distantes até então: videogame e teatro. Mais do que uma experiência lúdica, a ERA propõe um jogo em que controlamos atores numa peça de teatro. E controlamos mesmo, com um controle e tudo mais.

E por trás desse estúdio, temos Ana Antar, baiana, diretora e atriz de teatro formada, desenvolvedora de jogos, organizadora da Women Game Jam e mais várias coisas. Inconformada com a grade tradicional do curso de teatro, com ter que estudar sempre os mesmos autores brancos, europeus e "clássicos" da dramaturgia, com o baixo público do teatro e com a distância da academia teatral com a cultura pop, Ana queria se formar montando algo fora do eixo. Pra isso, misturou reality show, teatro, o Experimento de Millgram e um livro japonês, Battle Royale, e fez seu espetáculo de TCC em direção teatral.

Na peça, os espectadores podiam apertar um botão que dava um choque nos personagens (só nos personagens, os atores não tomavam um choque de fato) e isso mudava a narrativa e as esfolhas dos personagens, criando histórias únicas e alteradas pelo público. “Surgiu uma conexão e essa conexão veio da ideia de interação, de customizar, que é basicamente a lógica do jogar”, disse Ana no vigésimo episódio do podcast.

Na época, ainda não havia uma definição muito certa para o que estavam fazendo. Era algo a mais do que uma atividade lúdica ou um teatro interativo, mas ainda não parecia um videogame propriamente dito. Mas isso evoluiu, o espetáculo recebeu a ajuda de desenvolvedores aqui e acolá, teve muita gambiarra, e a visão de Ana finalmente tomou forma e nome mais concretos: ESCAPE.

ESCAPE coloca a plateia como jogadora principal da narrativa
ESCAPE coloca a plateia como jogadora principal da narrativa
Foto: ERA Game Studio

ESCAPE é um point and click real-virtual, em que você faz suas escolhas em uma interface digital, tipo um controle, e os atores realizam essas escolhas em tempo real. E como um point and click, a trajetória e descobrimento cabe ao jogador. Só que aqui temos um tempero a mais: a reação coletiva das pessoas sentadas em uma cadeira de teatro e a necessidade de um mínimo consenso na hora de escolher o que fazer, no meio de gritarias, discordâncias e uma boa dose de pressão no espectador responsável por ficar com o controle na mão.

O projeto foi um sucesso, não de crítica, mas sem dúvida alguma de público. Dia após dia de exibição, a plateia foi sendo preenchida por jovens estudantes de um colégio que ficava na frente do teatro, gamedevs convidados e senhoras entrando na terceira idade que viam o espetáculo como uma chance para terem suas experiências de vida ouvidas.

Foram três anos em cartaz se aperfeiçoando, roubando a cena em eventos, melhorando a interface e vez ou outra errando a dose nas mudanças de roteiro - e tendo que refazer tudo de última hora. Foram cinco versões com histórias, momentos, cenários e figurinos diferentes. Na pandemia, Escape ganhou uma versão online, lutando contra dificuldades técnicas e sem a troca humana tão especial que a obra permitia - e com o atraso de reação próprio da internet.

ESCAPE é um escape room jogado em um teatro
ESCAPE é um escape room jogado em um teatro
Foto: ERA Game Studio

Escape não será o último nem o único Live Game da ERA. O estúdio já está trabalhando em um novo projeto pros palcos e também desenvolve um jogo autoral de terror. Além de estar presente na organização de eventos de extrema importância, como a Women Game Jam e a We Game Jam, e o Sheroes in Game.

Eventos que questionam a estrutura machista de uma área que tem mulheres invisibilizadas desde os primeiros cálculos da computação e que se fazem presentes pra apoiar, evidenciar e fomentar cada vez mais devs que não homens cis-héteros e brancos. “A gente precisa se organizar enquanto grupo. A gente vem de um problema de entender que também somos classe trabalhadora”, completou.

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