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Relógio do Juízo Final diz que mundo está a 90 segundos do apocalipse

25 jan 2023 - 10h12
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Guerra na Ucrânia e risco de uma escalada nuclear são apontados como principais ameaças. Criado em 1947, relógio é uma metáfora de quão perto a humanidade está da autoaniquilação.O chamado Relógio do Juízo Final, que mede simbolicamente o tempo até a iminência de uma catástrofe mundial, foi adiantado e agora está a 90 segundos da meia-noite - o mais perto que já chegou do dia derradeiro. O principal motivo é a invasão da Ucrânia pela Rússia e o risco de uma escalada nuclear do conflito.

Responsáveis pelo Relógio do Juízo Final movem os ponteiros para frente ou para trás com base nos níveis de ameaça global
Responsáveis pelo Relógio do Juízo Final movem os ponteiros para frente ou para trás com base nos níveis de ameaça global
Foto: DW / Deutsche Welle

O anúncio foi feito nesta terça-feira (24/01) pelo Boletim dos Cientistas Atômicos, grupo de especialistas que gere o projeto simbólico desde 1947. Em relação à última medição, em 2022, o relógio foi adiantado em 10 segundos. O ponteiro havia permanecido a 100 segundos da meia-noite, o recorde anterior, por três anos.

"As ameaças veladas da Rússia de usar armas nucleares lembram ao mundo que uma escalada do conflito - por acidente, intenção ou erro de cálculo - é um risco terrível. As possibilidades de que o conflito possa sair do controle permanecem altas", afirmou Rachel Bronson, presidente do Boletim dos Cientistas Atômicos.

O grupo também disse que os combates na Ucrânia em torno da usina nuclear de Zaporíjia - a maior da Europa -, e da zona de exclusão em torno de Tchernobil exacerbaram os riscos atômicos.

Segundo Bronson, por essa razão, pela primeira vez, o anúncio do grupo também será traduzido para russo e ucraniano, em uma tentativa de atrair atenção para a gravidade da situação.

"O governo dos Estados Unidos, seus aliados da Otan e a Ucrânia têm uma infinidade de canais de diálogo. Exortamos os líderes a explorar todos eles em sua capacidade máxima para voltar o relógio", conclamou Bronson.

Outras ameaças

Além da guerra na Ucrânia, segundo os responsáveis pelo projeto, o horário foi adiantado devido às ameaças relacionadas à crise climática e pelo colapso de normas e instituições globais necessárias para mitigar os riscos associados ao avanço das tecnologias e ameaças biológicas, como a covid-19.

"Estamos vivendo em uma época de perigo sem precedentes, e o relógio reflete essa realidade. Noventa segundos é o mais próximo que o relógio já esteve da meia-noite, e é uma decisão que os nossos especialistas não tomam de ânimo leve", disse Bronson.

Para Sivan Kartha, membro do conselho do Boletim e cientista do Instituto Ambiental de Estocolmo, os riscos para o clima estão se tornando cada vez mais visíveis e foram alimentados pelo aumento do uso de carvão para gerar energia, à medida que os países buscam alternativas ao gás natural russo.

"Com as emissões continuando em alta, os extremos climáticos permancem e são ainda mais claramente atribuíveis às mudanças climáticas", ressaltou Kartha.

O grupo também destacou como ameaças a proliferação de armas nucleares na China, o aumento do enriquecimento de urânio pelo Irãe testes de mísseis na Coreia do Norte.

O que é o Relógio do Juízo Final?

O Relógio do Juízo Final é descrito como "uma metáfora de quão perto a humanidade está da autoaniquilação". Os responsáveis pelo projeto o movem para frente ou para trás com base nos níveis de ameaças globais.

Albert Einstein, J. Robert Oppenheimer e outros cientistas que trabalharam no Projeto Manhattan e nas primeiras armas nucleares fundaram o Boletim dos Cientistas Atômicos, uma organização sem fins lucrativos com sede em Chicago, em 1945. A ideia do Relógio do Juízo Final surgiu em 1947.

O relógio foi originalmente definido em sete minutos para a meia-noite. O mais longe que já esteve do horário derradeiro foi em 1991, após o fim da Guerra Fria, quando foi ajustado para 17 minutos para a meia-noite.

O relógio foi destaque na história em quadrinhos e no filme Watchmen, ganhando maior notoriedade.

Um grupo de cientistas nucleares e climáticos e outros especialistas, incluindo ganhadores do Prêmio Nobel, discutem eventos mundiais para decidir a que horas deixar o relógio.

A Campanha Internacional pela Abolição das Armas Nucleares, vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 2017, também chamou a atenção para a mudança do relógio.

"Já estamos fartos da inação que se segue aos avisos do Relógio do Juízo Final", disse a diretora-executiva da Campanha, Beatrice Fihn. "Os líderes dos Estados com armas nucleares devem negociar urgentemente o desarmamento nuclear, e a reunião do G7 em Hiroshima em maio de 2023 é o lugar perfeito para delinear tal plano", apelou.

Hiroshima foi a primeira cidade japonesa a ser atingida por uma bomba atômica americana, em 6 de agosto de 1945, poucos dias antes de Nagasaki.

O ex-secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também pediu aos líderes mundiais que tomem medidas. "Os líderes não deram ouvidos aos avisos do Relógio do Juízo Final em 2020", disse Ban. "Todos nós continuamos a pagar o preço. Em 2023 é vital para o nosso bem que eles ajam", concluiu.

le/lf (AP, AFP, Lusa, Reuters, ots)

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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