PUBLICIDADE

Na Alemanha, polícia interrompe e cancela conferência pró-Palestina

13 abr 2024 - 14h21
Compartilhar
Exibir comentários

Evento, que não durou mais de duas horas, foi encerrado por temor de que um dos palestrantes repetisse falas antissemitas. Homem em questão disse que "poderia ter sido um" dos que invadiram Israel em 7 de outubro.Centenas se reuniram neste sábado (13/04) em Berlim para protestar após a polícia ter encerrado, no dia anterior, uma conferência de ativistas pró-Palestina em Berlim.

Policiais encerraram congresso pró-Palestina em Berlim
Policiais encerraram congresso pró-Palestina em Berlim
Foto: DW / Deutsche Welle

O evento, que iria até o domingo mas não durou mais de duas horas, tem entre os organizadores o Movimento Democracia na Europa 2025 (DiEM25) do esquerdista e ex-ministro grego das Finanças Yanis Varoufakis.

A polícia justificou a ação afirmando haver risco de que um dos palestrantes, identificado pela organização do evento como Salman Abu Sitta, repetisse declarações antissemitas feitas no passado.

Abu Sitta participaria do evento via videoconferência. Ele é o autor de um ensaio publicado em janeiro deste ano em que expressava compreensão pelos autores do ataque terrorista contra Israel em 7 de outubro, evento que desencadeou a atual guerra entre Israel e o Hamas, grupo islamista que controla a Faixa de Gaza e que é classificado como uma organização terrorista por Israel, União Europeia, Estados Unidos e diversos países do Ocidente.

"Nada pode esconder a determinação e coragem daqueles jovens que voltaram às suas terras em 7 de outubro. Eu poderia ter sido um deles", escreveu Abu Sitta, referindo-se à Faixa de Gaza como "campo de concentração".

Sobrinho de Abu Sitta, o cirurgião britânico-palestino e reitor da Universidade de Glasgow, Ghassan Abu Sitta, que atuou como voluntário em hospitais na Faixa de Gaza nas primeiras semanas da guerra, também participaria do evento. Ele havia viajado desde Londres, mas teve a entrada na Alemanha barrada na sexta-feira.

À agência de notícias AP, Ghassan disse ter ouvido da polícia no aeroporto que a medida foi necessária pela "segurança das pessoas no evento e ordem pública".

Segundo a revista Stern, Salman também está proibido de entrar na Alemanha.

Como a polícia agiu

A polícia cortou temporariamente a luz no local quando Salman começou a falar. Depois, pediu aos cerca de 250 participantes que deixassem a área duas horas após o início do evento.

"Escalaram um palestrante que tinha tido sua atividade política banida", justificou a corporação em uma rede social. "Há o risco de que um palestrante que no passado fez comentários antissemitas e glorificou a violência seja mostrado repetidamente via vídeo. Por esse motivo, a reunião foi encerrada e proibida no sábado e domingo também."

O que dizem os ativistas

Os organizadores afirmam que queriam chamar atenção para o que chamaram de "genocídio" de Israel em Gaza, e que agora cogitam levar a interrupção do evento à Justiça.

O site do congresso denuncia o "apartheid e genocídio israelenses" e acusa a Alemanha de ser cúmplice.

Em janeiro, a Corte Internacional de Justiça considerou "plausível" que as ações de Israel em Gaza possam configurar violações da Convenção de Genocídio das Nações Unidas.

"Eles não apenas invadiram o palco: eles cortaram a luz, como se estivéssemos transmitindo violência", disse Karin de Rigo, candidata ao Parlamento Europeu pelo braço alemão do DiEM25. "A violência policial, como se fôssemos criminosos, foi insuportável para um país democrático."

"Vejam vocês mesmos que tipo de sociedade a Alemanha está se tornando quando a polícia proíbe declarações como essas", afirmou Varoufakis ao se referir a um discurso que faria no evento, e que, assim como Salman, também lhe rendeu a proibição de atuar politicamente.

Evento já estava no radar das autoridades

Mesmo antes do evento, políticos expressaram preocupação com a conferência.

Prefeito de Berlim, o conservador Kai Wegner disse que achava "intolerável" que o evento estivesse ocorrendo em Berlim.

"Berlim não tolera o antissemitismo, o ódio e a incitação contra os judeus", escreveu ele no X (antigo Twitter).

Ministra do interior, a social-democrata Nancy Faeser também se pronunciou em tom semelhante na mesma rede social: "É correto e necessário que a polícia aja de forma dura no tal congresso da Palestina. Não toleramos propaganda islamista e ódio contra judias e judeus."

Protestos crescentes

À medida em que aumenta o número de mortes de palestinos na guerra em Gaza, cresce a oposição pública na Alemanha e em outros países ocidentais à ofensiva de Israel contra o Hamas, cujo ataque em 7 de outubro matou cerca de 1.200 pessoas e resultou no sequestro de outras 253 - destas, mais de 100 continuam na Faixa de Gaza, e várias dezenas são dadas como mortas.

A Alemanha se mantém firme em seu apoio a Israel, posição que, em parte, tem relação com o passado nazista da Alemanha e sua responsabilidade pelo genocídio dos judeus europeus ocorrido naquele período.

O país é o segundo maior fornecedor de armas a Israel, depois dos Estados Unidos, o que ensejou uma ação da Nicarágua, país aliado da causa palestina, perante a Corte Internacional de Justiça.

Esse apoio do governo alemão tem levado muitos manifestantes, alguns deles ativistas judeus, a reclamar que expressões legítimas de solidariedade com os palestinos estão sendo criminalizadas por autoridades que querem reprimir qualquer sinal de antissemitismo.

As tensões aumentaram devido à numerosa e crescente comunidade muçulmana e/ou árabe na Alemanha, muitos dos quais se identificam com a causa palestina.

Segundo o Ministério da Saúde em Gaza, órgão subordinado ao Hamas, mais de 33 mil palestinos foram mortos até agora na guerra em Gaza.

ra (dpa, AFP, Reuters, AP, ots)

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Publicidade