Secretário da ONU critica 'assédio à ONU', aponta risco de caos e defende reforma em prol da paz
Guterres foi aplaudido em seu discurso e também mencionou conflitos no Sudão e na Ucrânia
António Guterres, Secretário-Geral da ONU, destacou na Assembleia Geral a urgência de cessar-fogo em Gaza, defendeu a solução de dois Estados, abordou conflitos globais e pediu reforço à justiça, paz e sustentabilidade.
O Secretário-Geral das Nações Unidas (ONU), o português António Guterres, falou nesta terça-feira, 23, durante a abertura da Assembleia Geral da ONU sobre o genocídio em Gaza e defendeu uma solução entre os dois Estados.
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O secretário defendeu que "os princípios da ONU estão sob assédio", referindo-se ao avanço da violência, ao peso da impunidade, da desigualdade e da indiferença pelo mundo. Sobre o conflito entre Israel e a Palestina, Guterres pediu a busca pela paz imediatamente.
"Nada pode justificar a punição coletiva do povo palestino e a destruição sistemática de Gaza. Sabemos o que é necessário. Cessar-fogo permanente, agora. Todos os reféns libertados, agora. Acesso humanitário pleno agora. E não devemos ceder na única resposta viável para uma paz sustentável no Oriente Médio: a solução de dois Estados, tão eloquentemente reafirmada ontem", disse.
O secretário-Geral também afirmou que a iminente anexação dos territórios precisa ser parada em todos os lugares: "do Haiti ao Iêmen, de Mianmar ao Sahel e além, devemos escolher a paz ancorada no direito internacional."
Segundo Guterres, o ano trouxe esperança de cessar-fogo em outros países em conflito, como Camboja e Tailândia, além do acordo entre Azerbaijão e Armênia, mediado pelos Estados Unidos. Mas, como pontuou, outras crises continuam fora de controle.
“A impunidade prevalece. A ilegalidade é um contágio. Ela convida ao caos, acelera o terror e arrisca uma proliferação nuclear generalizada. Quando a responsabilização encolhe, os cemitérios crescem. Quando funcionários e instalações da ONU são atacados, em violação das obrigações legais, também é atacado o núcleo de nossa capacidade de servir e entregar”, continuou.
Guterres descreveu a Assembleia Geral como a "força para a manutenção da paz" e o "coração, o batimento cardíaco dessa verdade”. Mas reiterou a importância do multilateralismo. “A cooperação internacional não é uma ingenuidade, é um pragmatismo puro em um mundo em que o isolamento é uma ilusão”.
O secretário também defendeu uma reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas e cobrou mais ação e transparência em resposta às crises. "Devemos escolher a paz ancorada na lei internacional", pontuou. “O Conselho de Segurança deve ser mais representativo, mais transparente e mais eficaz. Além de respostas a crises, devemos combater a injustiça desses conflitos."
"Exclusão. Desigualdade. Impunidade e corrupção. A maneira mais segura de silenciar as armas é elevar a voz da justiça. A verdadeira segurança nasce da equidade e da oportunidade para todos”, destacou.
Em indireta ao presidente americano, Donald Trump, Guterres criticou os cortes no financiamento das missões da ONU feitos pelo atual governo dos EUA. "Os cortes na ajuda estão causando estragos. São uma sentença de morte para muitos, um futuro roubado para outros", reforçou ele. "Para cada dólar investido em apoiar nosso compromisso fundamental de construir a paz, o mundo gasta 750 [dólares] em armas de guerra. Isso não é apenas insustentável, é indefensável."
Durante o discurso de abertura, Guterres mencionou ainda a luta pela sustentabilidade e proteção ao meio ambiente, citando a COP30, que acontecerá no Brasil neste ano. Também falou sobre a criação de novas tecnologias e inteligência artificial, defendendo que elas possam ser criadas e usadas globalmente, e que não sejam concentradas nos países desenvolvidos.