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Quem é Tareck El Assaimi, superministro de Maduro preso por corrupção na estatal petroleira da Venezuela

Ex-ministro do Petróleo, que renunciou ao cargo há um ano, era considerado uma das principais figuras do governo de Nicolás Maduro.

10 abr 2024 - 10h24
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O ex-ministro Tareck El Aissami foi preso acusado de participar de esquema de corrupção na petroleira estatal PDVSA
O ex-ministro Tareck El Aissami foi preso acusado de participar de esquema de corrupção na petroleira estatal PDVSA
Foto: Fiscalía de Venezuela / BBC News Brasil

Durante muito tempo, ele foi considerado um dos nomes de peso do governo do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, mas agora está atrás das grades.

Tareck El Aissami, ex-ministro do Petróleo e ex-presidente da PDVSA, foi preso na terça-feira (9/4), acusado de participar de um esquema de corrupção na petroleira estatal venezuelana, informou o procurador-geral do país, Tarek William Saab.

Ele anunciou ainda que o ex-ministro das Finanças, Simón Zerpa, também está preso. Os dois são acusados de liderar uma vasta rede de corrupção dentro de entidades estatais venezuelanas.

O procurador-geral acrescentou que ambos serão levados à Justiça, acusados de "crimes graves".

El Aissami desapareceu da cena pública há pouco mais de um ano, depois de renunciar ao cargo de ministro em meio ao escândalo de corrupção na PDVSA, denunciado pelas autoridades em março de 2023.

Até aquele momento, ele era considerado uma das principais figuras do governo de Nicolás Maduro.

Quem é Tareck El Aissami

El Aissami é acusado de tráfico de drogas pelos Estados Unidos
El Aissami é acusado de tráfico de drogas pelos Estados Unidos
Foto: Carolina Cabral / Getty / BBC News Brasil

Maduro nomeou El Aissami vice-presidente da Venezuela em 2017 para cuidar da gestão econômica, quando o país entrava na grave crise que se alastrou nos últimos anos.

Sua nomeação foi vista por analistas como uma guinada radical do presidente em direção a uma política mais dura, num momento em que enfrentava fortes protestos nas ruas e perseguição da oposição, então liderada por Henrique Capriles.

El Aissami logo deu sinais de que linha seguiria — e não hesitou em chamar Capriles de "assassino" e rotular os opositores de Maduro como "direita terrorista e criminosa".

Desde então, ele foi se consolidando como uma das figuras mais proeminentes na estrutura pouco transparente do poder venezuelano.

El Aissami foi ministro das Relações Interiores no governo de Hugo Chávez entre 2008 e 2012, quando se tornou governador do Estado de Aragua. Sua subsequente ascensão a vice-presidente foi interpretada como mais um passo na tentativa de Maduro de se cercar de líderes mais próximos dele do que do falecido presidente Hugo Chávez.

Este venezuelano de ascendência síria foi ganhando cada vez mais poder e influência. Em 2018, foi nomeado ministro das Indústrias e Produção Nacional; e, em 2020, ministro do Petróleo, cargo a partir do qual teria o controle da estratégica PDVSA, que havia sido abalada por vários escândalos de corrupção durante os governos Chávez e Maduro.

El Aissami era visto como um dos integrantes do governo mais próximos de Maduro
El Aissami era visto como um dos integrantes do governo mais próximos de Maduro
Foto: Carolina Cabral / Getty / BBC News Brasil

A imagem de El Aissami como um dos homens-chave do governo Maduro também se consolidou em Washington, e o governo do então presidente Donald Trump incluiu o nome dele em sua lista de pessoas ligadas ao tráfico internacional de drogas em 2017.

"Tareck Zaidan El Aissami Maddah ocupou posições estratégicas no governo da Venezuela (...). Usou sua posição de poder para se envolver no tráfico internacional de drogas, o que valeu a ele a designação de Narcotraficante Especialmente Designado, junto a seu sócio Samark López Bello", afirmou, na época, o Departamento de Justiça em comunicado.

López Bello é um empresário considerado testa de ferro de El Aissami pelo Departamento do Tesouro americano — e, conforme o procurador-geral anunciou na terça-feira, ele também foi preso na Venezuela.

Em 2019, o Serviço de Imigração e Controle Alfandegário dos EUA (ICE, na sigla em inglês) incluiu El Aissami na lista dos 10 mais procurados, sob a acusação de "tráfico internacional de drogas".

Mas sua prisão não aconteceria nos Estados Unidos — e, sim, na própria Venezuela.

No 'núcleo duro' do chavismo

El Aissami não chegou o poder da noite para o dia.

Uma vez, ele se definiu como um "chavista radical", e seu pai foi um dos presos em 4 de fevereiro de 1992, após a tentativa de golpe fracassada de Hugo Chávez.

Advogado e criminologista, El Aissami confraternizava com Adán Chávez, irmão do falecido presidente, quando era estudante.

Com o chavismo no poder, ele foi deputado, vice-ministro, ministro e posteriormente governador do Estado de Aragua, simbolicamente importante para os chavistas porque foi a partir dali que Chávez lançou sua intentona de 1992.

Durante seu mandato como ministro das Relações Interiores de Chávez, líderes proeminentes do narcotráfico foram presos, mas a Venezuela continuou a ser assolada por crimes violentos, com uma das taxas de homicídios mais altas do mundo.

Sua rápida ascensão fez com que muitos vissem El Aissami como um potencial futuro líder do chavismo.

As acusações contra El Aissami

Tareck El Aissami renunciou ao cargo de ministro em março de 2023
Tareck El Aissami renunciou ao cargo de ministro em março de 2023
Foto: Yuri Cortez / Getty / BBC News Brasil

Mas a ascensão de El Aissami pelos meandros do poder venezuelano foi interrompida bruscamente em março de 2023.

Na ocasião, ele anunciou sua renúncia por meio de uma mensagem nas redes sociais, em decorrência das "investigações que foram abertas sobre graves atos de corrupção na PDVSA".

O Ministério Público havia anunciado mais de cinquenta prisões relacionadas a uma suposta rede de corrupção dentro da petroleira estatal — um escândalo que ficou conhecido como 'PDVSA cripto'.

El Aissami desapareceu da cena pública, e vieram à tona uma série de rumores e especulações sobre o seu destino. Muitos na Venezuela acreditam que ele esteve sob custódia do governo durante esse tempo todo.

Ele é acusado de traição à pátria, apropriação ou desvio de patrimônio público, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e associação criminosa — por, de acordo com o procurador-geral, burlar os controles administrativos da venda de petróleo e combustível das companhias estatais venezuelanas, ocultando suas negociações por meio de operações com criptomoedas.

Saab disse que a delação feita por outros detidos possibilitou a prisão de El Aissami, Zerpa e López Bello, a quem acusou de ter causado "um prejuízo incalculável de milhões de dólares" aos cofres públicos venezuelanos e de ter perpetrado "terrorismo econômico" contra a Venezuela.

O anúncio da prisão do ex-ministro esclarece uma questão que gerava inquietação nos venezuelanos há mais de um ano: onde estava El Aissami? Embora ainda não se saiba onde ele esteve esse tempo todo nem em que condições.

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