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Oriente Médio

Se embaixada mudar para Jerusalém, haverá boicote árabe

Recado de presidente da União das Câmaras Árabes, Khaled Hanafi, foi dado a Hamilton Mourão, e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina

29 jan 2019 - 20h58
(atualizado às 21h52)
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O presidente da União das Câmaras Árabes, Khaled Hanafi,disse que, se a embaixada brasileira em Israel for transferida para Jerusalém, haverá boicotes a todos os produtos do País por consumidores árabes e os empregos brasileiros sofrerão. O recado foi dado nesta terça-feira, 29, em reuniões com o presidente em exercício, Hamilton Mourão, e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina.

Representante das indústrias e de empresários da Liga Árabe, Hanafi veio ao Brasil depois de, na semana passada, a Arábia Saudita ter vetado a importação de frango por cinco frigoríficos brasileiros.

Jerusalém é reivindicada por israelenses e palestinos
Jerusalém é reivindicada por israelenses e palestinos
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

"As pessoas nos países árabes não se sentirão confortáveis com a mudança na embaixada, especialmente os consumidores, e isso pode prejudicar os negócios na região. Uma vez que eles recebam essas informações, ninguém poderá controlar a reação" disse, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

Se em um primeiro momento o governo brasileiro tentou desvincular o veto aos frigoríficos brasileiros da questão diplomática, o discurso do presidente da entidade árabe demonstra o contrário. Ele disse que "até agora" o embargo aos produtos brasileiros é feito por questões técnicas e que não há problemas generalizados. "Temo que essas ações técnicas possam mudar a percepção e a atitude dos consumidores. Não estamos falando apenas de frango, mas todos os produtos brasileiros", completou.

Para Hanafi, o simples anúncio de que a embaixada será transferida, mesmo que não concretizado, poderá desencadear um boicote que, uma vez iniciado, dificilmente será contido. "Tivemos experiências com assuntos semelhantes e hoje, com as mídias sociais, isso pode levar as pessoas a reagirem. Alguns produtos foram retirados do mercado por causa de coisas como essa, mesmo produtos muito conhecidos", disse, evitando citar países e produtos. Já houve boicotes de países árabes a marcas como Coca Cola e McDonald's no passado.

Nas reuniões com as autoridades brasileiras, os árabes acenaram com o aumento de investimento e do comércio bilateral. Hanafi, levou ao governo brasileiro proposta de construir centros de estocagem e distribuição das exportações brasileiras em portos estratégicos em países árabes. A ideia é criar uma espécie de hub para a distribuição de produtos do Brasil entre esses países. Também há o intuito de manufaturar os produtos na região, como soja e cana-de-açúcar. "A ideia é eliminar os intermediários e reduzir custos", afirmou. "Temos que manter e aumentar os negócios entre o Brasil e os países árabes".

Hanafi disse que há um potencial "muito grande" de aumento do comércio entre países árabes e o Brasil, assim como de investimentos e parcerias estratégicas. Ele vê oportunidades em áreas como indústria pesada e de transformação, agropecuária, logística e transporte, "A ideia de transferir a embaixada não está só afetando os negócios existentes, mas também os negócios em potencial. Estamos falando de bilhões de dólares e milhares de empregos no Brasil", acrescentou.

Questionado se existe uma tentativa dos países árabes de protegerem seus mercados, como alegam fontes do setor de carnes no Brasil, Hanafi disse que essa questão não está em jogo. "Mesmo se nós tivermos toda a abertura do governo e dos empresários, se os consumidores boicotarem os produtos, não há como eles serem vendidos nos países árabes", completou.

Estadão
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