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O que você precisa saber sobre as eleições que vão decidir o futuro da Catalunha

Catalães vão escolher seu novo governo nesta quinta-feira; decisão pode determinar os rumos da região pelos próximos anos.

21 dez 2017 - 06h39
(atualizado às 08h04)
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O impasse espanhol em torno do separatismo catalão, que ocupou as manchetes em outubro, volta ao noticiário nesta quinta-feira, quando a região semiautônoma realiza eleições regionais.

Os catalães vão escolher seu novo governo regional - decisão que pode determinar os rumos da Catalunha pelos próximos anos.

Estão no páreo tanto políticos pró-separatismo quanto outros que defendem a Espanha unificada, e pesquisas de opinião afirmam que não está claro qual lado receberá a maioria dos votos dos eleitores, que devem comparecer em massa às urnas.

A eleição foi convocada pelo governo central de Madri após a destituição da liderança catalã, que havia declarado a independência em outubro.

O processo eleitoral está sendo observado de perto pela União Europeia, que atualmente negocia os termos de separação com o Reino Unido e teme uma eventual cisão também na Espanha, a quarta maior economia da zona do euro.

A seguir, seis perguntas e respostas com as informações cruciais desse pleito:

Eleição pode determinar futuro da Catalunha
Eleição pode determinar futuro da Catalunha
Foto: Reuters / BBC News Brasil

1. Por que haverá uma eleição na Catalunha?

Anos de pressão separatista eclodiram em 1º de outubro, quando, desafiando a polícia e a Justiça espanholas, as autoridades catalãs realizaram um referendo considerado ilegal pelo governo central.

Segundo os organizadores, 90% dos eleitores se posicionaram a favor da independência, mas só metade do eleitorado catalão participou do pleito - o que causa incertezas quanto ao real apoio popular ao separatismo.

Após o referendo, o então presidente catalão, Carles Puigdemont, declarou a independência da região, gerando reação por parte do governo espanhol.

O premiê Mariano Rajoy demitiu a liderança catalã, dissolveu o Parlamento regional e convocou eleições antecipadas - estas que serão realizadas nesta quinta.

A aposta de Madri é capitalizar em cima do desencanto de parte dos catalães com o separatismo, com a expectativa de que a eventual eleição de líderes pró-Espanha voltem a ancorar a Catalunha ao país.

Por outro lado, ainda há bastante ressentimento catalão com relação ao governo central, em especial depois da forte repressão policial ocorrida durante o referendo de outubro.

Os especialistas se dividem em suas análises.

"A independência acabou; o chamado 'procés' (movimento separatista) está acabado", afirma Manuel Arias Maldonado, professor de Ciências Políticas da Universidade de Málaga.

No entanto, para Oriol Bartomeus, cientista político da Universidade Autônoma de Barcelona, a votação desta quinta é uma espécie de "Referendo 4.0" - a quarta manifestação do eleitorado catalão sobre o assunto, após um referendo informal em 2014, uma eleição regional de 2015 e o polêmico referendo de outubro passado.

Carles Riera lidera o partido radical Candidatura de Unidade Popular
Carles Riera lidera o partido radical Candidatura de Unidade Popular
Foto: EPA / BBC News Brasil

2. Por que os separatistas decidiram participar do pleito?

Após a declaração de independência catalã, o governo espanhol reagiu limando parte da autonomia da região e com a prisão temporária de alguns líderes, que se disseram vítimas de ações antidemocráticas por parte de Madri. Carles Puidgemont, por sua vez, decidiu viajar à Bélgica.

Por isso, causou surpresa a decisão dos grupos separatistas de participar do pleito desta quinta. Após inicialmente rejeitarem a votação, eles decidiram concorrer, usando slogans como "Puidgemont é nosso presidente" e "democracia sempre vence".

Para o eleitor Josep Jaume Rey, que é pró-independência, "é uma segunda rodada do referendo que não pudemos realizar legalmente".

Carme Forcadell, presidente do Parlamento dissolvido, milita pela Esquerda Republicana da Catalunha
Carme Forcadell, presidente do Parlamento dissolvido, milita pela Esquerda Republicana da Catalunha
Foto: EPA / BBC News Brasil

3. Há unidade no bloco separatista?

A questão principal em jogo nesta quinta-feira é se os partidos pró-independência conseguirão maioria no Parlamento catalão - algo colocado em dúvida pelas pesquisas de opinião. Se conseguirem, o ímpeto separatista dificilmente será contido.

Na eleição regional de 2015, a maioria dos partidos separatistas se uniu sob a coalizão Juntos pelo Sim, instando a população a apoiar a realização do referendo e o voto por independência.

A aliança aglomerou a Convergência Democrática da Catalunha (partido de centro-direita de Puidgemont), a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC, social-democrata) e dois partidos menores.

Com a ajuda de um quinto partido, o radical Candidatura de Unidade Popular (CUP, conhecido por sua posição anti-UE), a coalizão conseguiu apoio parlamentar suficiente para convocar o referendo de outubro.

Xavier Garcia Albiol (à esq.) lidera o braço catalão do PP, do premiê Mariano Rajoy
Xavier Garcia Albiol (à esq.) lidera o braço catalão do PP, do premiê Mariano Rajoy
Foto: EPA / BBC News Brasil

Na eleição desta quinta, em contraste, não houve acordo entre os partidos separatistas, que além disso acusam o governo espanhol de processar judicialmente os líderes independentistas com fins políticos. O cenário ficou o seguinte:

- Ante a prisão de seu líder Oriol Junqueras, o ERC optou por não se aliar com Puidgemont;

- O grupo de Puidgemont, por sua vez, relançou-se como Partido Democrático Catalão Europeu e aliou-se a candidatos independentes na união Juntos pela Catalunha (JxC);

- O CUP volta a disputar o pleito por conta própria.

Prefeita de Barcelona, Ada Colau faz parte de coalizão de esquerda
Prefeita de Barcelona, Ada Colau faz parte de coalizão de esquerda
Foto: EPA / BBC News Brasil

4. E quanto aos partidos unionistas?

Do lado unionista, os partidos Ciudadanos, o Socialista e o PP (do premiê Rajoy) fizeram campanha sob o argumento de que o processo de independência levaria a Catalunha "ao precipício".

Também há dúvidas quanto a se essas três legendas conseguirão, juntas, a maioria do Parlamento. Mas o Ciudadanos pode acabar se tornando o maior partido da Casa - algo que mudaria drasticamente o cenário político catalão.

5. Há opções intermediárias?

No meio termo, está a coalizão de esquerda Em Comum Podem, que criticou o separatismo, mas também as ações do governo central de Madri. É endossada pela carismática prefeita de Barcelona, Ada Colau, e liderada por Xavier Domenech.

O grupo prega o aumento da autonomia catalã e reformas que levem a um referendo legal.

Eles devem ganhar menos cadeiras do que seus antecessoras anti-capitalistas em 2015, mas ainda têm um papel importante nas negociações de coalizão.

Miquel Iceta lidera o Partido dos Socialistas da Catalunha
Miquel Iceta lidera o Partido dos Socialistas da Catalunha
Foto: EPA / BBC News Brasil
Carles Puigdemont vem arregimentando apoiadores do exílio, em Bruxelas
Carles Puigdemont vem arregimentando apoiadores do exílio, em Bruxelas
Foto: EPA / BBC News Brasil

6. A eleição será livre e imparcial?

O eleitor catalão Juli Morató diz que os separatistas temem a "manipulação dos resultados".

Houve erros durante o registro dos votos - mas nada, ao que parece, em uma escala que justifiquem suspeitas de fraude eleitoral.

Pedidos para a presença de observadores internacionais foram considerados "inapropriados" e rejeitados pela Comissão Central Eleitoral da Espanha.

A campanha não esteve livre de censura, no entanto.

As autoridades centrais baniram a exibição de fitas amarelas em Barcelona, que são usadas para mostrar solidariedade aos líderes catalães presos.

Enquanto isso, políticos separatistas como Junqueras foram forçados a disputar a eleição da prisão.

Não se sabe se a Justiça espanhola vai retirar as acusações que pesam contra eles - ou contra Puigdemont - se eles vencerem.

"Tem sido uma campanha muito estranha, mais polarizada do que nunca", diz o cientista político Bartomeus. "A imprensa tomou lados, até as emissoras públicas. A imparcialidade está baixa", conclui.

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