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Giorgio Napolitano: o 1º presidente a ser eleito por 2 vezes

'Rei Giorgio' governou Itália entre 2006 e 2015

22 set 2023 - 15h38
(atualizado às 15h44)
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Por Fabrizio Finzi - Foi o homem das reformas a qualquer custo, napolitano de grande classe, elegante e "meticuloso", como ele mesmo se definiu.

Giorgio Napolitano, que morreu às 19h45 (horário local) desta sexta-feira (23), foi o primeiro na história da República a ser presidente duas vezes, reeleito no Quirinal em 2013 após a primeira vez em 2006.

Atento a cada detalhe, trabalhador incansável, profundo conhecedor da vida parlamentar e das dinâmicas políticas de toda a história republicana.

Sempre discretamente acompanhado pela esposa, Clio, iniciou o primeiro mandato de sete anos, em 2006, celebrando a vitória da Itália na Copa do Mundo de futebol em Berlim e encerrou os quase dois anos do segundo mandato com algum pesar por não ter conseguido ver completamente realizadas as mudanças institucionais pelas quais tanto se esforçou.

Mas, acima de tudo, o "rei Giorgio" teve que enfrentar o que muitos consideram o período mais sombrio dos últimos 50 anos, navegando entre os recifes de uma crise econômica duríssima.

E o fez com convicção inabalável, porque a Itália precisava de estabilidade política. Em nome desse princípio, sempre tentou evitar dissoluções antecipadas da legislatura.

Certamente o pior momento, que combinou amargura pessoal e preocupação institucional, foi seu envolvimento indireto no processo Estado-máfia (sobre supostas relações entre o Estado e a máfia, que mobilizou o país por envolver políticos, militares e integrantes da Cosa Nostra), com o depoimento excepcional no Tribunal de Palermo.

A presidência de Napolitano de fato não foi leve nem fácil.

Mas ele sempre manteve o compromisso assumido em 15 de maio de 2006, quando prometeu que nunca seria o chefe de Estado da maioria que o havia eleito, mas que sempre defenderia o interesse geral do país.

E assim foi, já que depois de subir ao posto mais alto da política italiana, só com os votos da centro-esquerda, encerrou o primeiro mandato com o apoio aberto do centro-direita.

Um apoio que foi esfriando ao longo do histórico segundo mandato em 2013 no Quirinal, que viu Silvio Berlusconi condenado e seus apoiadores frequentemente atacando politicamente o presidente.

A eleição de 2006 não foi de forma alguma garantida. Sua origem no PCI (Partido Comunista Italiano) o tornava suspeito para a centro-direita de Berlusconi.

Mas o fato de ser o primeiro dirigente comunista a se tornar presidente da República não impediu o Cavaliere de elogiá-lo publicamente pouco depois.

Até a solicitação para que ele permanecesse no Quirinal para superar essa turbulenta fase política.

Um Parlamento desanimado entregou-lhe novamente o cetro do poder, inundando-o de aplausos enquanto Napolitano fazia um discurso contundente contra toda a classe política no plenário de Montecitorio.

Suas habilidades de resiliência psicológica e mediação foram unanimemente reconhecidas ao longo dos anos.

Até a Liga teve que reconhecer inicialmente seu compromisso com o federalismo, apesar de muitas vezes o chefe de Estado ter repreendido o Carroccio (apelido da sigla) sobre a questão da unidade nacional.

Deixando com pesar a amada casa no bairro Monti, ele dedicou grande atenção às relações internacionais. Foi inegável o respeito de que ele desfrutou no exterior: Washington, por exemplo, sempre o considerou um dos interlocutores mais confiáveis e com autoridade.

Europeísta convicto, Napolitano sempre defendeu a indispensabilidade da União Europeia, convencendo-se gradualmente de que, assim como na Itália, apenas decididas reformas da euroburocracia poderiam conter a crescente distância dos cidadãos e esfriar o populismo em ascensão.

Afável e cortês, com um tom sempre medido, ele se viu enfrentando um impasse apenas com Grillo e seu movimento (Beppe Grillo, então líder do partido antissistema italiano Movimento 5 Estrelas), encarado pelo chefe de Estado, pelo menos em em seus componentes mais extremistas, como o germe da antipolítica.

Um dos elementos característicos de seu mandato foi a tentativa de falar para toda a Itália, acalmar o confronto entre as correntes (começando com as do Partido Democrático), promover o diálogo entre as forças políticas no interesse do país.

Uma tarefa nada fácil durante os turbulentos anos de seus mandatos. Os dois primeiros dos quais foram passados monitorando as arritmias que mantinham o governo Prodi constantemente no fio da navalha. Até a queda e o retorno do Cavaliere ao Palácio Chigi.

Os três anos seguintes foram dedicados ao esforço de conter o ativismo de Berlusconi, evitando que, primeiro as furiosas controvérsias sobre as leis ad personam (vistas como feitas para beneficiá-lo), e depois os escândalos sexuais minassem a solidez das instituições.

O que fez tentando não fazer concessões à centro-direita, mas preferindo a arma da persuasão moral ante a muito mais disruptiva possibilidade de devolver os assuntos ao Parlamento.

Mas o momento que o colocará na história como "rei Giorgio" (como o New York Times o coroou) foi aquele quando, em novembro de 2011, Mario Monti foi levado para o palácio Chigi.

Evitando o default, a Itália, no entanto, não consegue evitar a recessão. A imagem do governo técnico do presidente fica prejudicada.

Os resultados eleitorais que não deram uma maioria clara, e os vetos cruzados dos partidos levaram Napolitano a nomear Enrico Letta com base em um amplo acordo.

Então veio a ascensão imparável de Renzi, com quem, apesar da diferença de idade, soube construir uma relação sincera e pragmática.

Napolitano renunciou em 14 de janeiro de 2015. Tornou-se então senador vitalício como presidente emérito da República. .

Ansa - Brasil   
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