Figura central na invasão do Iraque, ex-vice-presidente dos EUA Dick Cheney morre aos 84 anos
Cheney fez parte do governo republicano do ex-presidente George W. Bush. Ele foi uma figura central na invasão do Iraque em 2003 pelas forças americanas e aliadas.
O ex-vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, morreu aos 84 anos, segundo um comunicado de sua família divulgado nesta terça-feira (4/11).
De acordo com a família, o ex-vice-presidente americano morreu devido a complicações de uma pneumonia e de doença cardíaca e vascular.
Cheney, que foi vice-presidente entre 2001 e 2009, fez parte do governo republicano do ex-presidente George W. Bush. Ele foi uma figura central na invasão do Iraque em 2003 pelas forças americanas e aliadas.
Cheney também atuou como secretário de Defesa durante o governo de George H. W. Bush (pai de George W. Bush) entre 1989 e 1993.
Antes disso, o republicano foi chefe de gabinete do presidente Gerald Ford na Casa Branca, na década de 1970. Por mais de uma década, ele foi parlamentar na Câmara dos Representantes.
Ex-empresário, Cheney foi presidente da empresa de defesa Halliburton e tinha como hobby caçar. Em 2006, ele atirou acidentalmente em um amigo durante uma caçada.
Mais recentemente, ele causou polêmica política ao declarar seu apoio à candidata democrata à presidência, Kamala Harris, nas eleições americanas de 2024, contra o republicano Donald Trump, que venceu a disputa.
Segundo o comunicado da família, a esposa Lynne, de 61 anos, as filhas, Liz e Mary, e outros familiares estavam junto a Cheney quando ele faleceu.
"Dick Cheney foi um grande e bom homem que ensinou seus filhos e netos a amar nosso país e a viver vidas de coragem, honra, amor, bondade e pesca com mosca", diz a nota, fazendo referência a um tipo de pesca esportiva em que se utiliza uma isca artificial chamada "mosca" — uma das paixões do republicano.
Um republicano que votou em Kamala Harris
Dois meses antes da eleição presidencial dos EUA do ano passado, Cheney fez uma intervenção importante ao anunciar que votaria em Kamala Harris.
Ele disse que "nunca houve um indivíduo que representasse uma ameaça maior à nossa república do que Donald Trump", acrescentando: "Ele tentou roubar a última eleição usando mentiras e violência para se manter no poder depois de ter sido rejeitado pelos eleitores."
Em resposta, Trump chamou Cheney de "RINO irrelevante" - uma sigla em inglês que significa "Republicano apenas no nome".
A filha do ex-vice-presidente, Liz Cheney - ex-parlamentar republicana - já havia declarado seu apoio a Harris.
Ela fez parte da comissão especial da Câmara que investigou os distúrbios de 6 de janeiro no Capitólio e foi uma dos 10 republicanos que votaram pelo impeachment do ex-presidente Trump após o incidente.
As supostas armas de Saddam Hussein
Dick Cheney foi uma figura-chave na "guerra ao terror" de George W. Bush, incluindo a invasão americana do Iraque em março de 2003.
Na preparação para a invasão, Cheney afirmou que o regime de Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa. Tais armas nunca foram encontradas durante a campanha militar.
Cheney também alegou repetidamente haver ligações entre o Iraque e a Al-Qaeda, o grupo terrorista liderado por Osama bin Laden que reivindicou a autoria dos ataques de 11 de setembro. Ele disse que os terroristas sofreriam "toda a fúria" do poderio militar americano.
"O fato é que sabemos que Saddam Hussein e o Iraque estavam profundamente envolvidos com o terrorismo", disse Cheney em 2006.
Em 2005, Cheney alertou para "décadas de esforço paciente" na guerra ao terror, advertindo que "ela encontrará resistência daqueles cuja única esperança de poder reside na disseminação da violência".
Seu papel fundamental na campanha deixou-lhe um legado político controverso, depois de os EUA terem levado anos para se desvencilhar da sua custosa guerra no Iraque.
Análise: Uma figura dominante, definida por duas guerras no Iraque
Anthony Zurcher, correspondente da BBC News na América do Norte
Para um homem que nunca se tornou presidente, que nunca sequer almejou a presidência, Dick Cheney foi uma figura dominante na política americana.
Durante décadas, ele atuou nos bastidores dos círculos republicanos. Foi chefe de gabinete do presidente Gerald Ford na Casa Branca na década de 1970 e um influente membro do Congresso pelo Wyoming durante a década de 1980.
Foram seus dois papéis de destaque, no entanto - como arquiteto da Guerra do Golfo como secretário de Defesa de George H.W. Bush e como vice-presidente de George W. Bush dez anos depois - que consolidaram seu lugar na história.
Durante o governo de George W. Bush, ele, sozinho, transformou seu cargo de vice-presidente, tradicionalmente vazio e com pouco poder formal, em uma vice-presidência de fato, supervisionando a política externa americana e a segurança nacional após os ataques de 11 de setembro ao World Trade Center e ao Pentágono.
Sua disposição inabalável e sem remorso em exercer o poder o transformou em vilão para grande parte da esquerda e em herói para a direita - pelo menos por um tempo.
A dificuldade e a impopularidade da Guerra do Iraque, contudo, levaram a um desentendimento entre ele e Bush - e, anos depois, à renúncia de suas políticas internacionalistas pelo presidente republicano seguinte, Donald Trump.
Em seus últimos anos, Cheney se tornaria persona non grata em seu próprio partido, que havia sido remodelado à imagem de Trump.
Sua filha, que o seguira no Congresso, foi destituída do cargo por suas críticas a Trump. E, em uma estranha reviravolta final, suas próprias críticas a Trump - e o apoio à democrata Kamala Harris para a presidência em 2024 - lhe renderiam elogios de alguns na esquerda que o haviam denunciado décadas antes.