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Eleições legislativas de Buenos Aires viram 'plebiscito' sobre governo Milei

Histórico reduto do peronismo, disputa local na província argentina ganhou ares de trailer da eleição presidencial de 2027 em meio a escândalo de corrupção e estagnação da economia

7 set 2025 - 08h15
(atualizado às 08h18)
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O presidente da Argentina, Javier Milei, em ato, em 3 de setembro de 2025, pelas candidaturas de aliados na eleição legislativa do país
O presidente da Argentina, Javier Milei, em ato, em 3 de setembro de 2025, pelas candidaturas de aliados na eleição legislativa do país
Foto: Luciano Gonzalez/Anadolu via Getty Images

ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES - Era para ser uma eleição legislativa local, mas se transformou em um plebiscito sobre os quase dois anos de governo de Javier Milei na Argentina. Neste domingo, 7, moradores da província de Buenos Aires votam para renovar metade de suas casas legislativas locais. Até semanas atrás, os candidatos libertários davam indícios de ameaçar a histórica soberania peronista na província, até que um escândalo de corrupção, somado a uma economia estagnada e um veto a aumento a aposentados e pessoas com deficiência, chateou os argentinos.

Serão eleitos neste pleito 46 deputados e 23 senadores locais - seriam como os deputados estaduais no Brasil, mas num sistema bicameral. Não era para ser uma eleição com tanta importância, diferente do próximo pleito de 26 de outubro, quando o país todo votará para renovar metade dos assentos do Congresso e um terço do Senado. Esta última sim, uma eleição que definirá o futuro da governabilidade de Milei. Mas eventos recentes da política argentina transformaram uma disputa local em um termômetro da nacional.

"Se conseguirmos muito bons resultados nas eleições da província de Buenos Aires, poderemos estar cravando o último prego no caixão do kirchnerismo", definiu Milei em uma entrevista a Louis Sarkozy, filho do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, na semana passada.

Província na Argentina seria o correspondente a um Estado no Brasil. Em termos de eleitorado, a província de Buenos Aires - que é diferente da capital federal Buenos Aires - seria semelhante ao Estado de São Paulo, pois concentra 14 milhões de eleitores, em um país de 45 milhões de habitantes. Por isso o pleito se tornou uma disputa aberta entre Milei e o governador Axel Kicillof, um dos mais importantes kirchneristas atualmente e potencial candidato à presidência em 2027.

"A eleição da Província de Buenos Aires tornou-se uma eleição nacionalizada, onde o governo nacional, do A Liberdade Avança, passou a considerá-la não mais como uma eleição sem importância, mas como uma das datas eleitorais vitais em que seu desempenho político-eleitoral é colocado em jogo, juntamente com a eleição nacional de 26 de outubro", explica o cientista político e analista de dados do Observatório Pulsar da UBA (Universidade de Buenos Aires), Facundo Cruz.

"A eleição de outubro é a que de fato afeta diretamente a Milei. A nível institucional, esta eleição agora é algo que afeta exclusivamente o governador da província de Buenos Aires e os prefeitos, na qual se define que tipo de relação eles terão com seus poderes legislativos. Mas em um nível simbólico, em termos de peso político, a importância é muito maior", concorda o cientista político e professor da UBA e da UCA (Universidade Católica Argentina), Facundo Galván.

Este vai ser o segundo desafio à gestão Milei nestes dois anos, mas talvez seja o mais difícil. O primeiro foram as eleições da capital Buenos Aires, nas quais a bancada do A Liberdade Avança aumentou, com o então porta-voz da presidência Manuel Adorni ganhando em primeiro com 30% dos votos.

A esse cenário já ruim se soma o escândalo de corrupção que envolve a irmã do presidente, Karina Milei, também secretária-geral da presidência. Segundo áudios vazados por outro funcionário do governo, cerca de 8% dos valores de compra de medicamentos para pessoas com deficiência teriam sido destinado a pagamentos ilícitos, dos quais 3% supostamente iam para Karina.

"Geralmente, as causas de corrupção não definem uma eleição, a economia sim. Vota-se com o bolso, não com a ética do funcionário público", sublinha Cruz. "Mas se você tem uma situação econômica que parece negativa em termos do presente e do futuro, e a isso você adiciona um escândalo de corrupção, é um reforço de uma avaliação negativa da gestão do governo nacional, e isso pode pesar na hora do voto."

Milei x Kicillof, um trailer de 2027

No fim, uma disputa local se transformou em uma espécie de trailer do que pode ser a corrida eleitoral de 2027. Milei pode concorrer a um segundo mandato. Com Cristina Kirchner presa, Alberto Fernández no ostracismo desde quando ainda era presidente e Sergio Massa desaparecido da vida política, Axel Kicillof é o candidato mais óbvio do peronismo.

Kicillof foi reeleito com folga em 2023 para ser governador da província. Sua força política também contribuiu para a surpreendente vitória de Sergio Massa no primeiro turno da eleição de 2023, contra Milei, apesar dos péssimos números do governo do qual ele era ministro da Economia.

Não à toa, com a nacionalização da disputa de Buenos Aires, a imprensa argentina passou a destacar a disputa como uma batalha de Milei contra o peronista-kirchnerista.

Após o escândalo de corrupção envolvendo Karina Milei, a carreata do presidente que percorria a província de Buenos Aires foi alvo de pedradas. Depois do episódio, a presidência pediu reforço dos aparatos de segurança da província durante os atos de encerramento de campanha nas cidades onde estaria Milei. Kicillof negou.

O governador disse que não tinha capacidade de pessoal para cuidar da segurança presidencial em meio a multidões e disse que Milei seria 100% responsável por qualquer incidente. No fim do ato do presidente em Moreno, na província bonaerense, houve princípio de tumulto.

Kicillof fez questão de trazer para esta campanha os temas que em geral não movem eleições locais: disparou contra o veto de Milei aos aumentos a pessoas com deficiência, colou nele os problemas de infraestrutura da província devido ao congelamento das obras públicas, culpa a política de ajuste fiscal pela defasagem do salário dos professores e, sempre que pode, cita Karina Milei.

Milei também não perdeu a oportunidade de tentar colar em Kicillof o rótulo de casta. Sem poder rivalizar com Cristina, atualmente em prisão domiciliar, o libertário se volta ao pupilo da ex-presidente, a quem Milei já chamou de "limitado" e "burro".

Os dois, porém, têm um desafio pela frente: enfrentar a abstenção. Com a oposição peronista fragmentada após a inabilitação de Cristina e a aprovação do governo cada vez mais em queda, a tendência, segundo analistas, é o aumento da apatia. Não à toa, Milei e Kicillof fizeram apelos nos últimos dias para que seus eleitorados saiam a votar.

Estadão
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