Bulgária enfrenta turbulência após protestos derrubarem governo às vésperas da entrada na zona do euro
A renúncia do governo da Bulgária nesta quinta-feira põe fim a uma coalizão cada vez mais impopular, mas é provável que dê início a um período de instabilidade política prolongada às vésperas da entrada da nação do Mar Negro na zona do euro.
O estado-membro da União Europeia e da Otan realizou sete eleições nacionais nos últimos quatro anos, já que governos consecutivos não conseguiram manter o controle de um Parlamento fragmentado.
O último governo, no poder desde janeiro, parecia pronto para supervisionar a transição para o euro em 1º de janeiro, mas o primeiro-ministro Rosen Zhelyazkov apresentou sua renúncia após semanas de protestos nas ruas contra a corrupção do Estado e um novo orçamento que aumentaria os impostos.
Até mesmo o chefe de Estado da Bulgária, o presidente Rumen Radev, que tem um caráter predominantemente cerimonial, pediu a renúncia de Zhelyazkov.
A reação foi silenciosa nas ruas de Sófia após a renúncia, mas alguns estavam tranquilamente otimistas em um ponto: o governo havia ouvido os manifestantes.
"Já estava na hora. Há muito tempo. Com certeza há pessoas inteligentes e sensatas (no Parlamento) que podem propor algo significativo e acabar com os abusos que temos visto", disse o especialista em TI Hristiyan Marinov.
Ainda assim, a Bulgária enfrentará mais eleições nos próximos meses se nenhum novo governo for formado.
"Há um grande risco de acabarmos com outra série de eleições", disse Dimitar Markov, diretor do Programa de Direito do Centro de Estudos da Democracia em Sófia.
PROTESTOS FORÇAM A SAÍDA DE UM GOVERNO IMPOPULAR
Os protestos começaram no final de novembro, quando o governo de Zhelyazkov, composto por três partidos, propôs um projeto de orçamento que incluía um aumento nas contribuições para a seguridade social e nos impostos sobre dividendos para financiar maiores gastos do Estado.
Alguns desses gastos foram destinados à polícia, aos serviços de segurança e ao Judiciário - os mesmos órgãos que muitos búlgaros passaram a desprezar ao longo dos anos em que a Bulgária foi classificada como um dos países mais corruptos da UE. O projeto do orçamento foi retirado, mas a indignação popular persistiu.
Muitos já estavam chateados com outras ações do governo, incluindo uma suposta repressão à oposição liberal e pró-UE, que levou Blagomir Kotsev, prefeito do balneário litorâneo de Varna, à prisão por meses sob alegação de corrupção, o que ele nega veementemente.
Os protestos aumentaram e, na quarta-feira, dezenas de milhares de pessoas estavam nas ruas de cidades e vilarejos da Bulgária pedindo a renúncia do governo.
Eles representaram alguns dos maiores protestos contra um governo desde o fim do comunismo em 1989 e a ampla demografia e política dos manifestantes os diferenciou de outras manifestações recentes, segundo analistas políticos.
"Isso foi um acúmulo de coisas. A tensão vem crescendo ao longo do tempo, e o orçamento foi o ponto de inflexão", disse Markov.
Muitos dos manifestantes eram profissionais urbanos que apoiam a adoção do euro pela Bulgária e querem que o país se junte à corrente principal da Europa após uma difícil transição para a democracia, marcada por redes criminosas organizadas e políticos corruptos.
Mas os manifestantes também incluíam aqueles que temem que a adesão ao euro aumente a inflação ou que se opõem à posição oficial pró-ocidental da Bulgária em questões como a guerra na Ucrânia, preferindo estreitar os laços com Moscou, aliado histórico de Sófia.
Alguns analistas disseram que os protestos poderiam levar a uma mudança real.
"As pessoas percebem que sua vontade, quando a expressam, é importante", disse Vessela Tcherneva, vice-diretora do Conselho Europeu de Relações Exteriores em Sófia. "Quem quer que seja o próximo governo estará mais consciente e precisará ser mais responsável."
INCERTEZA POLÍTICA À MEDIDA QUE A ADESÃO AO EURO SE APROXIMA
O presidente agora dará ao maior partido no Parlamento, o GERB, o mandato para formar um novo governo, mas é provável que ele tenha dificuldades para encontrar um apoio mais amplo em um Parlamento fragmentado com cerca de nove partidos, alguns deles muito pequenos.
Se o GERB fracassar ou rejeitar o mandato, dois outros partidos terão a oportunidade. Se eles falharem ou recusarem, o presidente Radev nomeará um governo interino e convocará uma eleição antecipada, o que poderá levar a Bulgária de volta a um ciclo de repetidas eleições, caso ninguém consiga formar uma coalizão que funcione.
Os búlgaros continuam divididos em relação ao euro, segundo as pesquisas, e há certa preocupação de que, sem uma supervisão rigorosa do governo, os varejistas aproveitem a confusão do público em relação à conversão para aumentar os preços.
"O Estado tem um papel fundamental para garantir que não haja grandes choques no sistema", disse Mario Bikarski, analista sênior para a Europa da consultoria de risco Verisk Maplecroft.
"Na ausência de um orçamento e na ausência de um governo, os riscos para o sistema estão aumentando bastante."