Brasileira que fez a mesma trilha de Juliana Marins conta como é realizar trajeto
Maria Luiza Reuter diz que sofreu negligência por parte do guia, que a abandonou durante o caminho. "Um absurdo", lamenta
Maria Luiza Reuter, advogada brasileira, relatou negligência e situações arriscadas durante a perigosa trilha no Monte Rinjani, na Indonésia, em 2017, mesma onde Juliana Marins faleceu recentemente após cair de um penhasco.
A advogada Maria Luiza Reuter relembra com angústia como foi a trilha no Monte Rinjani, na Ilha de Lombok, na Indonésia. O trajeto é o mesmo feito por Juliana Marins, brasileira que morreu após cair de um penhasco na terça-feira, 24. De acordo com ela, a trilha foi vendida como “um passeio” por uma agência de turismo e que se sentiu enganada ao perceber que era mais extremo do que imaginava.
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Em entrevista ao Terra Agora, desta quinta-feira, 26, ela conta que foi ao país em 2017 acompanhada por duas amigas para surfar. Devido ao clima no país, o grupo precisou mudar de planos e decidiu fazer a trilha.
“Num box de turismo, esses box que são comuns de vendas de passeios, nos foi apresentado esse passeio. Seria uma trilha de duas noites e três dias para escalada do Monte Rinjani, que é o segundo maior vulcão da Indonésia, e nos foi vendido como se fosse uma trilha super fácil. Inclusive, chegaram a dizer até que idosos, crianças poderiam fazer, que era super seguro e não apresentaria riscos”, conta Maria Luiza.
Segundo ela, foi garantido que na base, em Lombok, elas poderiam ter acesso aos equipamentos adequados para fazer a trilha, como botas, agasalhos e entre outros. Com isso em mente, o trio foi usando roupas comuns, no entanto, ao chegarem no local não havia sequer sapatos do tamanho delas.
“Nós acreditamos. A gente acostumada a viajar, não pensamos que estaríamos ali sendo enganadas. [...] Em grupo, a gente fica um pouco pressionada a fazer as coisas lá. Acabamos indo porque o rapaz da agência de turismo falou: ‘Não, mas não se preocupe porque o guia que vai te assistir lá, vai prestar todo tipo de apoio”, relembra.
Para chegar no parque, elas precisaram pegar um barco e um carro. A partir dali, elas fizeram uma caminhada de seis horas, com subida, até o local onde passariam a primeira noite. “Chegando no lugar, a gente ficou muito nervosa. Porque era um espaço muito estreito para se acampar. Não tinha algumas barracas e dos dois lados eram despenhadeiros”, diz.
“Uma das minhas amigas ficou muito nervosa. Teve uma crise de pânico e já nesse momento a gente já percebeu que a gente estava no meio de uma furada. [...] Era um lugar realmente perigoso e questionamos o guia se a gente poderia voltar porque a gente queria desistir. O guia disse que não, que não existiria essa possibilidade. Caso quiséssemos voltar para Lombok, a gente teria que seguir por conta própria”, conta Maria Luiza.
A advogada lembra que, ao perceber as jovens aflitas, o guia debochou delas, mas não podiam fazer muito, visto que quem estava direcionando o caminho era ele. “O guia só fazia rir da nossa cara. Meio que desdenhando, como se dissesse: ‘O problema é seu’. Não existia qualquer tipo de empatia”, lamenta. “A gente estava em um país do outro lado do mundo”.
Durante a noite, o frio foi extremo e elas não possuíam proteção adequada, por isso, uma das amigas resolveu permanecer no acampamento. Na escalada, o guia informou que estava muito cansado e não iria continuar, pedindo para o grupo seguisse viagem com um outro que estava passando, abandonando as jovens.
“Eu e Ana Clara continuamos com outro grupo, com outro guia que tinha lanterna e seguindo outras pessoas porque a gente preferiu. A gente falou: ‘Olha, eu já não me sinto mais segura com esse nosso guia, se ele é capaz de fazer tudo isso’”, conta.
Apesar do sufoco, Maria Luiza conseguiu concluir a trilha e voltar a salvo. Ela conta que as condições climáticas estavam melhores do que no caso de Juliana e, ainda assim, experimentou temperaturas baixas. “Eu fiquei muito angustiada quando soube que o resgate [para Juliana] não ia chegar no mesmo dia porque eu sabia que à noite ela ia sofrer muito com o frio”, lamenta.
“Eu já viajei bastante. Já fiz outras trilhas [...] e eu achei realmente um absurdo porque a gente está acostumado a sofrer outros tipos de golpes durante viagens e tudo, atualmente é difícil a gente confiar nas pessoas, mas o momento em que você vai em um box de turismo e que é vendido um passeio para você numa configuração completamente diferente da que realmente é, e isso envolve a sua integridade física e a sua vida, isso é um completo despautério”, diz.
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Caso Juliana Marins
Juliana desapareceu no último sábado, 21, após se separar de um grupo que estava fazendo o trajeto da trilha e cair em um penhasco. Na segunda-feira, um drone registrou imagens da jovem imóvel a 500 metros do ponto da trilha.
A família da vítima chegou a se mobilizar nas redes sociais para pressionar as autoridades indonésias a enviarem um resgate mais rápido à Juliana. No entanto, levou cerca de quatro dias para que seu corpo fosse içado para o topo, que estava a 650 metros.
A morte da jovem foi confirmada pelas redes sociais pela família dela na manhã de terça-feira, 24. Mais cedo, um grupo de socorristas montou um acampamento próximo de onde ela estava.
