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Bordaberry: fim da democracia antes da chegada dos militares

17 jul 2011 - 18h06
(atualizado às 18h31)
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Conservador, católico, antiliberal e empresário rural, além de réu por delitos de lesa-humanidade, Juan María Bordaberry (1928-2011) foi o responsável por derrubar a democracia uruguaia da Presidência em 1973 e para depois ser deposto pelos militares, aos que abriu a porta do poder. Seus ideais corporativistas, de um governo de inspiração franquista e para eliminar os partidos políticos, aos que apontava de superados, não serviram para uma classe militar que só reconheceu seu poder quando foi útil e que depois terminaram destituindo-o em junho de 1976.

Bordaberry morreu aos 83 anos, enquanto cumpria prisão domiciliar
Bordaberry morreu aos 83 anos, enquanto cumpria prisão domiciliar
Foto: AFP

Por esse breve período de poder constitucional (1972-1973) e como presidente de fato (1973-1976), Bordaberry ganhou o duvidoso mérito de ser o único presidente civil condenado por atentado à Constituição, assassinato e desaparecimento forçado na história do Uruguai. Pai de nove filhos, entre eles o hoje líder do Partido Colorado Pedro Bordaberry, o ex-presidente nasceu em Montevidéu no centro de uma família de origem basca-francesa vinculada ao Partido Colorado, apesar de ter começado sua carreira política muito jovem na Liga Federal de Ação Ruralista, da qual foi presidente e pela qual representou no Senado em 1963 em aliança com o Partido Nacional.

No entanto, pouco depois incorporou sua organização ao Partido Colorado e em 1969 foi nomeado ministro de Pecuária e Agricultura pelo presidente colorado Jorge Pacheco Areco, representante do setor mais direitista do partido e impulsor das chamadas "medidas prontas de segurança" para combater à guerrilha. A impossibilidade de reeleger Pacheco Areco como líder nas eleições de 1971 levaram à candidatura de Bordaberry à Presidência, que ganhou perante o candidato do Partido Nacional Wilson Ferreira, em eleições polêmicas e nas quais houve acusações de fraude.

Com uma situação social deteriorada, e com os militares cada vez mais dispostos a tomar o poder, Bordaberry aceitou em 1973 colocar-lhe fim à democracia e decretou a suspensão do Parlamento e a ilegalização dos partidos políticos, estabelecendo um governo colegiado e corporativista. Os militares, com os tupamaros já derrotados e sua organização desmantelada, cobraram cada vez mais poder, enquanto Bordaberry propunha um novo sistema político inspirado no franquismo espanhol, que não gostou aos militares por implicar o desaparecimento total dos partidos políticos.

Afastado do poder, Bordaberry retornou a seu trabalho como produtor rural no interior do país e só voltou aos holofotes públicos quando em 2006 se reabriram as causas contra ele arquivadas até então pela Justiça. Envelhecido, o ex-ditador foi detido e posto em prisão enquanto se julgava sua responsabilidade no assassinato de opositores e seu papel na destruição da democracia uruguaia.

Um ano mais tarde, em 2007 e devido a seu precário estado de saúde, lhe foi concedido a prisão domiciliar, condição na qual recebeu em 2010 duas penas de 30 anos por esses delitos. Em aplicação de uma lei adotada em 2003 com o voto unânime do Parlamento, Bordaberry não receberá honras de Estado e será enterrado apenas na companhia de sua família e amigos 12 horas após a confirmação de sua morte.

EFE   
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