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América Latina

Argentina mantém mistério sobre funeral do ex-ditador Jorge Videla

Videla foi encontrado morto em sua cela na última sexta-feira

19 mai 2013 - 15h55
(atualizado às 16h09)
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A hora, o dia e o local do funeral do ex-ditador argentino Jorge Videla, falecido na sexta-feira aos 87 anos em uma cela onde cumpria pena por crimes contra a humanidade, eram mantidos em segredo este domingo.

"Não temos nenhuma informação", declarou à AFP uma fonte do Poder Judiciário, que pediu para ter sua identidade preservada, e familiares e amigos do falecido tampouco deram quaisquer detalhes.

Segundo a imprensa local, o hermetismo é resultado de um acordo de intimidade acertado com a Justiça pela família do militar, que cumpria duas penas de prisão perpétua e outra de 50 anos por terrorismo de Estado. O corpo tinha sido levado ao Necrotério Judicial para fazer a autópsia, sem que tenham sido informados oficialmente os resultados nem tampouco se continua depositado no local.

Videla foi encontrado sem vida na sexta-feira às 8h25 locais (mesmo horário em Brasília) "sentado no sanitário de sua cela" na prisão de Marcos Paz, 50 km a oeste de Buenos Aires, segundo um comunicado do Serviço Penitenciário Nacional, ao qual a AFP teve acesso.

O general, destituído no Julgamento aos Comandantes em 1985, foi o líder do golpe de Estado que depôs a presidente Isabel Perón (1974-1976). Durante a ditadura, dezenas de milhares de pessoas desapareceram, foram assassinadas e exiladas, foi implantada a censura em rádio e TV, suspendeu-se a liberdade de imprensa, os partidos políticos foram proibidos, o Parlamento, dissolvido, e se ordenou a queima de milhões de livros considerados "subversivos", como o Pequeno Príncipe, do francês Antoine de Saint Exupery, os romances do colombiano Gabriel García Márquez e os poemas do chileno Pablo Neruda.

Os restos mortais não receberão quaisquer honras militares em seu funeral, pois desde 2009 rege uma disposição do Ministério da Defesa que os proíbe em casos de militares condenados por violações aos direitos humanos.

Neste domingo, a imprensa argentina especulou que o enterro poderia ser realizado na cidade de Mercedes, terra natal do ex-ditador, 110 km a oeste da capital.

Videla foi indultado em 1990 pelo ex-presidente Carlos Menem (1989-1999), mas a reabertura dos julgamentos o levou novamente ao banco dos réus, onde uma das condenações foi pelo roubo de bebês. Cerca de 500 filhos de presos políticos desaparecidos foram apropriados e tiveram a identidade alterada, mas a organização humanitária Avós da Praça de Maio conseguiu restituir a identidade de 108 deles.

O ex-general, um integrista católico, carecia atualmente de apoio, salvo minúsculos grupos de ex-militares e sua família. Ele exerceu o poder nos piores anos da repressão, que foi ilegal e exercida em centros clandestinos, até 1981, quando foi substituído pelo chefe do Exército Roberto Viola.

A ditadura se estendeu até dezembro de 1983, quando foram convocadas eleições após o ex-ditador Leopoldo Galtieri ser derrotado na guerra contra a Grã-Bretanha pelas ilhas Malvinas, em 1982.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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