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Quem é o estudante que 'previu' questões do Enem nas redes e causou anulação de parte da prova

Aluno de Medicina do Ceará diz que tem um método de 'engenharia reversa' e que conhece "os bastidores" da prova; procurado, Edcley Teixeira não respondeu. Inep diz que similaridades entre itens mostrados nas redes são 'pontuais'

23 nov 2025 - 17h46
(atualizado em 23/11/2025 às 20h41)
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Edcley Teixeira ficou famoso na última semana por "prever" questões que cairiam no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) - uma transmissão nas redes sociais dias antes da prova levaram a anulação de três perguntas do vestibular. Neste domingo, 23, ele foi alvo de mandado de busca e apreensão em operação da Polícia Federal que investiga suspeita de fraude.

Procurado pela reportagem, Teixeira não respondeu. Nas redes, Teixeira tem afirmado que não houve vazamento de informações e diz que conseguiu "antecipar" trechos da prova ao analisar edições anteriores do exame e de pré-testes, aplicados pelo Inep para medir o nível de dificuldade de itens que podem ser usados na prova.

O Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), órgão responsável pelo exame, nega vazamento e diz que estudantes podem eventualmente ter contato, em pré-testes, com itens que serão efetivamente usados na prova depois.

Como o Estadão mostrou, Edcley Teixeira até pagava outros estudantes para fazer essas provas de pré-teste e memorizar questões que depois poderiam ser usadas no Enem. Na internet, ele reúne esses conteúdos para vender monitorar de preparação para o exame, que dá acesso a vagas em universidades públicas e privadas.

Teixeira se apresenta como um fã do ministro da Educação, Camilo Santana, e diz ter entrado em 1º lugar no curso de Medicina. Ele mora em Sobral, no Ceará, cidade conhecida como exemplo de educação pública no País. Em suas postagens feitas nesta segunda-feira, 17, quando começaram a aparecer informações sobre as questões que ele teria antecipado, afirmou que o ministro da educação é "incrível" e que por "mérito dele" o Enem deste ano "discriminava muito bem os candidatos".

O estudante de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) diz que quer ser psiquiatra e vende pacotes com monitorias para candidatos do Enem. Em suas postagens nas redes sociais, mostra a semelhança entre as perguntas que afirmou que cairiam e dá explicações para seu método de estudo para antecipar o conteúdo da prova, que ele chama de "engenharia reversa".

Edcley Teixeira vende monitorias para o Enem nas redes sociais
Edcley Teixeira vende monitorias para o Enem nas redes sociais
Foto: Reprodução/@edcleyteixeira / Estadão

"Professores famosos estão falando de mim, tentando saber como previ o Enem, como um aluno hipossuficiente conseguiu democratizar o Enem", afirmou em suas redes.

Os materiais de Teixeira, em PDF ou em lives, aos quais o Estadão teve acesso, afirmam que "essas questões estarão no Enem". Em uma live (transmissão) no seu canal, no dia 11 de novembro, ele e um colega, apresentaram e resolveram 90 questões, chamadas de "minhas apostas para o Enem".

O vídeo teve 40 mil visualizações. Quem resolve as questões no vídeo é um professor contratado por Teixeira. Uma das primeiras perguntas mostradas é muito parecida com a questão 178 (prova amarela), que menciona uma compra parcelada de R$ 60 mil. Outra questão divulgada por ele fala sobre fotossíntese oxigênica e a resposta certa é "água" tanto na escrita pelo professor, quanto no Enem verdadeiro. Pelo menos quatro questões da live eram muito parecidas com o Enem de domingo.

Uma das explicações que Teixeira dá em seus posts é de que ele teria participado de uma avaliação do MEC para calouros de Medicina, chamada Prêmio Capes Talento Universitário. Segundo ele, as questões eram parecidas com o padrão do Enem. Por causa disso, ele teria memorizado algumas perguntas e, com ajuda de outros amigos que também fizeram a prova, montado questões para seus alunos estudarem. "Quando eu fiz a prova, achei aquelas questões tão similares a Enem anteriores que falei: vou me inspirar nessas questões e democratizar a educação no Brasil", afirma.

Segundo o Estadão apurou, a prova feita pela Capes, mencionada por ele, realmente utiliza algumas questões para realizar uma espécie de pré-teste do Enem. Essa é uma informação que deveria ser sigilosa, que o MEC não confirma oficialmente.

Teixeira chegou a aparecer em um post do Inep no X como um "talento" por ter se destacado na prova da Capes, feita em maio, como um estímulo para outros candidatos se inscreverem. Os melhores colocados ganham R$ 5 mil do órgão. A postagem não está mais disponível nesta terça-feira.

Edcley Teixeira aparece em post do Inep
Edcley Teixeira aparece em post do Inep
Foto: Reprodução / Estadão

"Para você ser um bom professor, tem de estar por dentro dos bastidores do Enem", afirma Teixeira. Além das questões que estavam no exame da Capes, ele conta que descobre o CPF dos professores contratados para elaborar as questões da prova e busca os trabalhos deles.

"Facilmente você descobre os artigos científicos, aí tem lá falando de endemias, você imagina que essa pessoa vai querer reciclar seu próprio artigo, aí você consegue prever Enem, seguindo os professores que fazem as questões."

Em nota, o Inep afirmou que o Enem "utiliza a Teoria da Resposta ao Item (TRI) para apuração de seus resultados". "A metodologia demanda que os itens sejam pré-testados. Os estudantes que participam de pré-testes têm contato com itens que podem vir a compor o Enem em alguma edição", diz. Segundo o órgão, "os processos envolvem rigorosos protocolos de segurança, que foram cumpridos em todas as etapas do exame".

Estadão
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