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Chega ao País projeto de aprendizado por autoconhecimento

Nascido nos Estados Unidos, o UnCollege defende que a universidade não é o único caminho para o sucesso

16 set 2014 - 10h52
(atualizado às 10h52)
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Sabe quando alguém vai prestar vestibular, escolhe o curso e pensa “é exatamente o que eu quero fazer da vida”? Não? Tudo bem, é normal. Lucas Coelho, por exemplo, não sentiu isso ao escolher uma graduação, mas sim quando descobriu o UnCollege. O movimento, lançado em 2011 nos Estados Unidos, prega que os jovens devem desenvolver a capacidade de autoaprendizado de maneira livre e independente e defende que a universidade não é o único caminho para o sucesso. A proposta é que os estudantes aprendam a “hackear” a própria educação, tendo total controle de suas trajetórias acadêmicas sem serem absorvidos por conceitos pré-estabelecidos. Decidiu, então, trazer isso para a realidade brasileira, e em setembro o UnCollege chegou ao Brasil.

<p>Na foto, Lucas Coelho (na frente, à direita), cofundador do movimento no Brasil, e parte da turma do programa Gap Year</p>
Na foto, Lucas Coelho (na frente, à direita), cofundador do movimento no Brasil, e parte da turma do programa Gap Year
Foto: UnCollege Brasil / Divulgação

Hoje com 24 anos, Coelho rompeu com o ensino tradicional em 2010, quando abandonou o curso de engenharia de produção na Universidade Federal de Santa Catarina e decidiu hackear sua educação. Foi buscando ideias inovadoras no setor que ele descobriu o UnCollege. Escreveu para Dale Stephens, fundador do movimento nos Estados Unidos, e moldaram, juntos, um plano de expansão para outros países - e o Brasil foi o primeiro deles.

“O Brasil, além de ter um potencial gigantesco, está iniciando uma microrrevolução na educação. Queríamos que o UnCollege fizesse parte desse movimento, afinal, nosso objetivo não é só promover o programa de Gap Year, mas fomentar a revolução educacional”, diz Coelho, que tornou-se cofundador do movimento no Brasil. “O País está mudando muito, e espero que criar pessoas que sejam autodirecionadas o coloque no caminho para formar cidadãos mais criativos e inovadores”, complementa Stephens. Segundo ele, os próximos candidatos para receber o UnCollege são a Cidade do Cabo, na África do Sul, e Vancouver, no Canadá.

O Gap Year, que pode ser traduzido como "ano de intervalo", é um dos programas do UnCollege que foi importado para terras brasileiras. Ele é dividido em quatro fases. Primeiro, um programa residencial de 10 semanas, chamado The Launch (O Lançamento). Nesse tempo, os participantes convivem entre eles e com um especialista do movimento. No Brasil, isso acontece em uma casa em Ilhabela (SP). Lá, participam de workshops, desafios e outras atividades para ajudar a desenvolver habilidades de autoaprendizagem. Também conhecem a rede de mentores do UnCollege, formada por especialistas de diferentes áreas que ajudam a criar um plano próprio de aprendizado e a planejar e viabilizar as etapas seguintes do programa.

Na segunda fase, o aluno passa três meses morando em um país no qual nunca tenha morado antes, fazendo coisas também inéditas para ele. O UnCollege ajuda a organizar a viagem e disponibiliza R$ 2 mil para despesas. Na etapa seguinte, é a hora de estagiar por três meses em uma organização que tenha a ver com os objetivos do participante, em qualquer cidade do mundo, usando a rede de contatos do movimento. A última fase consiste em criar um projeto independente que possa ser colocado em prática e, posteriormente, apresentado a investidores.

Para participar, é preciso ter entre 18 e 28 anos, e o programa tem custo total de R$ 15 mil. A ideia é que, em edições futuras, seja possível financiar esse valor pelo Pave, que reúne pessoas dispostas a investir em jovens talentos. O financiado pode pagar quando estiver trabalhando, em parcelas com juros menores do que nos bancos. Também é possível negociar planos de pagamentos com o UnCollege pelo e-mail dindin@uncollege.org. A primeira turma, composta por nove pessoas vindas do Brasil, da China, dos Estados Unidos e da África do Sul, já está fechada e trabalhando desde 8 de setembro. O próximo time deve ser definido até novembro e conta com 12 vagas, mas oito já estão preenchidas. Para saber mais ou se inscrever, acesse brazil.uncollege.org.

O programa é praticamente o mesmo da versão americana, com algumas adaptações para a realidade brasileira, explorando mais o contato com a natureza e o estudo de negócios sociais, apesar de manter forte o ensino empreendedor e tecnológico, como nos Estados Unidos. Coelho acredita que iniciativas como o UnCollege são essenciais, pois, para ele, o mercado de trabalho exige mais do que as universidades podem entregar - em quantidade e qualidade.

O empreendedor crê que a maioria dos cursos têm conteúdos ultrapassados e descolados da realidade, o que acaba frustrando o jovem universitário. “Educação e vida não são coisas separadas, e é um erro tratar esses dois conceitos como coisas distintas. Não quero dizer que todas as universidades são ruins e não há nada a se ganhar, mas é importante ajudar o jovem a se autoconhecer”, diz.

Inspiração e mentoria

Diretor de marketing e novos negócios do Grupo WTW, Estevão Rizzo é um dos mentores do programa no Brasil e se considera um exemplo de como o sistema tradicional de ensino pode falhar. Biólogo de formação, hoje trabalha com marketing, o que, para ele, mostra que não sabia o que estava fazendo ao escolher o curso. “Antes de decidir uma profissão, as pessoas deveriam fazer escolhas melhores, e o UnCollege ensina a aprender. Com profissionais mais felizes, a vida é melhor”, afirma.

Rafaela Cappai, fundadora da Espaçonave, plataforma que compartilha conteúdo para inspirar a empreender, também aprendeu a hackear a própria educação. Atriz, bailarina e comunicadora, decidiu adicionar o empreendedorismo à lista de atividades. “Precisei descobrir o que aprender para ser capaz de continuar fazendo aquilo que eu amo, que é criar. E descobri. Hoje ensino esse mesmo processo para outras pessoas”, conta, enfatizando que o momento é de testar novos meios de ensinar e aprender, focados na realidade de quem aprende e ensina. 

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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