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Análise: Reverendo, não se pode reverenciar grupos de interesse

Novo ministro tem uma dupla tarefa: acertar o passo e tentar avançar com mais vigor rumo a uma educação pública de qualidade para todos

11 jul 2020 - 05h11
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Não conheço o Reverendo Milton Ribeiro, mas seja quem for o próximo ministro terá de enfrentar o acúmulo de problemas deixados por seus antecessores, bem como os efeitos colaterais do processo de escolha de um nome.

Reverendo pastor Milton Ribeiro, da Igreja Presbiteriana Jardim Oração, de Santos, nomeado para ser o 4.º ministro da Educação de Jair Bolsonaro
Reverendo pastor Milton Ribeiro, da Igreja Presbiteriana Jardim Oração, de Santos, nomeado para ser o 4.º ministro da Educação de Jair Bolsonaro
Foto: Mackenzie/ Divulgação - 18/10/2018 / Estadão

A atuação do MEC, que já era ruim, tem sido um fracasso vexaminoso na pandemia. Há uma crise, a maior da história da educação brasileira, que exige ação forte de todos os entes da federação, em regime de colaboração, e o que tivemos até agora foi omissão e falta de articulação com Estados e municípios por parte do governo federal. O negacionismo do MEC - da gravidade da situação e da sua atribuição legal inscrita na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - já está fortemente gravado na realidade de milhões de estudantes e professores de todo o País. Assim, o novo ministro tem uma dupla tarefa: acertar o passo e tentar avançar com mais vigor rumo a uma educação pública de qualidade para todos.

Digo tentar, porque os obstáculos são muitos.

O primeiro é o subproduto do processo de escolha do novo ministro. A quais senhores essa indicação quis atender? E mais relevante ainda: a quais não atendeu? Será o novo ministro capaz de navegar o MEC com sabedoria e serenidade em ambiente não pacificado?

Outro foi a escolha dos novos membros do Conselho Nacional de Educação, a maioria de perfil ideológico, pouco antes do anúncio do novo ministro. Ele não teve voz e ainda terá de lidar com o aumento do esgarçamento das relações federativas na educação: nenhuma indicação feita ao CNE pelos Estados e municípios foi acolhida pelo governo federal. Nenhuma.

Será o novo ministro capaz de inaugurar uma nova e mais promissora fase - mais técnica e voltada a resultados - ou apenas tentará compatibilizar gestão séria com a guerra ideológica defendida por influentes desse governo?

A disposição de conduzir uma agenda técnica será revelada, também, na montagem da sua equipe, com o afastamento dos quadros ligados ao olavismo e ao reacionarismo.

A ver os primeiros passos que dará.

* É PRESIDENTE EXECUTIVA DO TODOS PELA EDUCAÇÃO

Estadão
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