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Sarampo, polio: doenças erradicadas estão voltando por baixas na imunização

Busca de vacinas além da Covid-19 está em queda desde 2016 no Brasil, que já foi exemplo mundial por excelente cobertura vacinal

9 jun 2022 - 05h00
(atualizado às 11h36)
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Baixos índices de vacinação podem causar retorno de doenças já consideradas "erradicadas" no país
Baixos índices de vacinação podem causar retorno de doenças já consideradas "erradicadas" no país
Foto: Reuters

Há pouco mais de dois anos vivemos com as consequências da Covid-19, como perdas de entes queridos, isolamento total e medidas de prevenção. A chegada da vacina, em janeiro de 2021, deu um sopro de esperança de retomada da rotina antes da pandemia.

Apesar de parte da população ainda resistir à imunização contra o coronavírus, o Brasil enfrenta baixa procura também por outras vacinas do Programa Nacional de Imunizações. A pandemia acentuou ainda mais um cenáro que preocupa desde 2016. 

Conforme o sistema DataSUS, do Ministério da Saúde, o desinteresse na imunização alcança quase todas as doenças imunopreveníveis, ou seja, que podem ser evitadas com vacina, como sarampo, coqueluche, hepatites A e B, HPV e meningite, por exemplo.

O gráfico abaixo, sobre a cobertura vacinal, evidencia que a queda mais brusca é vista na procura da segunda dose da Tríplice Viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola. Em 2015, 79% do público havia sido vacinado, mas em 2021 apenas 51% buscou a dose nos postos de saúde. 

Infogram

Retorno de doenças já erradicadas

Os índices pouco satisfatórios de cobertura vacinal para doenças imunoprevisíveis acendem um alerta em especialistas, que temem pelo reaparecimento de doenças até então controladas. O sarampo e a poliomielite justificam a preocupação.

Após um surto registrado em 2018, o Brasil perdeu a certificação de país livre do sarampo concedida pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS). Desde então, casos da doença têm sido registrados anualmente no Brasil, mesmo durante a pandemia de Covid-19.

No caso da poliomielite, desde 1994 o Brasil tinha o certificado de eliminação da doença. No entanto, com a cobertura vacinal em 69,45% em 2021, o país passou a fazer parte do grupo com alto risco de volta da doença, segundo informes divulgados pela OPAS ano passado.

De acordo com a entidade, a baixa taxa de vacinação nesses locais representa um perigo para todo o continente, que não registra nenhum único caso da doença há 30 anos.

Gravidade foi esquecida

Na avaliação do infectologista Guido Carlos Levi, referência em imunização, a vacina é vítima de seu próprio sucesso. A pandemia até piorou a situação, mas a sensação de baixo risco, devido à não ocorrência dessas doenças, e a falta de investimento em campanhas de imunização afastaram a população dos postos de saúde.

"Esse recolhimento domiciliar foi um fator, mas nesses últimos dois anos, as campanhas antivacinais foram um horror", lembra o especialista, se referindo ao movimento antivacinal no Brasil. 

Forte fora do país desde antes da pandemia, foi com a chegada das primeiras vacinas contra a Covid-19 que o movimento tomou forma e ganhou público. Na época, a eficácia dos imunizantes produzidos foi amplamente questionada, em um discurso que foi inflamado e encabeçado pelo próprio presidente, Jair Bolsonaro.

Guido Levi critica os antivacinas, principalmente após uma crise sanitária do porte que é a pandemia de Covid-19. Para ele, o coronavírus já mostrou como uma doença pode ser disseminada e causar danos irreversíveis em todo o mundo quando não é levada a sério. 

Ele conclui que não há mais doenças geograficamente localizadas.

"Com tanta tecnologia, as pessoas viajam muitas vezes incubando uma doença que só vai se manifestar e infectar outras pessoas em outro local", aponta o especialista. "Algo que está na África pode chegar aqui rapidamente, como a varíola dos macacos, que já está em dezenas de países".

O Calendário Vacinal do Ministério da Saúde pode ser acompanhado neste link.

Fonte: Redação Terra
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