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Política

Opinião: militares voltam à tona contra negacionismo

Até integrantes das Forças Armadas estão perdendo a paciência com o capitão insubordinado Jair Bolsonaro

11 jan 2022 - 03h10
(atualizado às 08h03)
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Bolsonaro cumprimenta militares durante cerimônia em Brasília
25/08/2021
REUTERS/Adriano Machado
Bolsonaro cumprimenta militares durante cerimônia em Brasília 25/08/2021 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

Depois de um mergulho temerário no bolsonarismo, dos solavancos que levaram à demissão de toda a sua cúpula e dos vexames do general Eduardo Pazuello e seus coronéis na Saúde, as Forças Armadas submergiram e saíram do foco e do noticiário por um bom tempo. Voltam à tona agora afirmativas e sob aplausos de boa parte da opinião pública que andava ressabiada com os militares.

Não é trivial que na mesma semana um contra-almirante da Marinha reaja a acusações levianas do presidente e o Exército emita diretrizes em perfeita discordância com o que o presidente prega o tempo todo na pandemia. Até os militares estão perdendo a paciência com o capitão insubordinado Jair Bolsonaro.

A comparação é inevitável e leva a uma reflexão: o que se espera dos nossos militares? Agir com a sabujice do general da ativa Pazuello a favor do chefe e contra a saúde, ou com a altivez e responsabilidade do contra-almirante da reserva Antônio Barra Torres a favor da ciência?

Pazuello desmereceu o Exército ao fazer papel de bobo na Saúde, enquanto Bolsonaro e seu gabinete paralelo é que mandavam e coronéis da pasta se metiam em escândalos. "É simples assim: um manda, o outro obedece", disse o general.

Já Barra Torres, que também é médico, preside a Anvisa e teve um mau momento sem máscara numa aglomeração com Bolsonaro. Sua lealdade, porém, é à ciência e à agência, seus quadros e decisões técnicas. Lá atrás, já advertia contra a cloroquina. Depois, disse a verdade na CPI da Covid. Agora, é firme contra insinuações inaceitáveis.

Bolsonaro não deixou alternativa a ele ao dizer que há "interesses" (econômicos?) da Anvisa na vacinação das crianças. Já o almirante deu duas alternativas ao acusador: ou se retrata ou prova que teve corrupção, sob risco de prevaricação.

Já o Exército incomodou o presidente com diretrizes de combate à pandemia. Nada demais. Só a atualização da condenação a mentiras (hoje fake news) já prevista no Código Penal Militar e das regras anticovid adotadas pelo general Paulo Sérgio Oliveira antes mesmo de assumir o Comando da Força.

O presidente queria um desmentido quanto às fake news e à exigência de vacinas, mas o comandante explicou a ele num café da manhã que apenas alinhou suas medidas com as da Defesa. Está tudo lá. Bolsonaro iria bater de frente com mais um ministro, o general Braga Netto, seu apoiador?

O que continua nebuloso para civis, até do Centrão, e militares, até bolsonaristas, é o que Bolsonaro ganha, ou acha que ganha, com seu negacionismo absurdo.

Estadão
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