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Prisão de Lula e acampamento mudam rotina no entorno da PF

13 abr 2018 - 11h25
(atualizado às 13h45)
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Faixa identifica o acampamento de apoiadores do ex-presidente Lula em Curitiba
Faixa identifica o acampamento de apoiadores do ex-presidente Lula em Curitiba
Foto: Mariana Franco Ramos / Especial para Terra
Barracas foram montadas em calçadas nas proximidades da Polícia Federal em Curitiba
Barracas foram montadas em calçadas nas proximidades da Polícia Federal em Curitiba
Foto: Mariana Franco Ramos / Especial para Terra

A prisão de Luiz Inácio lula da Silva (PT) mudou a rotina de quem mora ou trabalha nos arredores da Superintendência da Polícia Federal (PF) do Paraná, no bairro Santa Cândida, em Curitiba. Desde que o helicóptero trazendo o petista chegou ao local, no último sábado (7), militantes, sindicalistas e membros de movimentos sociais favoráveis ao ex-presidente se concentram na região, numa espécie de vigília.

Como um interdito concedido pela Justiça Estadual impede a passagem de veículos e pessoas não autorizadas, o acampamento "Lula Livre" foi montado a algumas quadras dali. Em frente ao cordão de isolamento, os participantes realizam uma série de atividades políticas e culturais, que começam pela manhã e se encerram por volta das 20 horas. O local tem recebido visitas de artistas, intelectuais, juristas, governadores, parlamentares e outras lideranças da esquerda de todo o País. 

Nos arredores há uma concentração de ambulantes, que aproveitam a deixa para vender salgadinhos, refrigerante, sanduíche de pernil, cachorro quente, pipoca e ainda camisetas com estampas alusivas a Lula. O faturamento, contam, tem superado as expecrativas. Em algumas barraquinhas, militantes recolhem assinaturas de novos filiados. Em outra, recebem cartas para serem destinadas ao ex-presidente. Também foi montada uma pequena biblioteca da ocupação, com livros que são doados.

Para a vendedora Marinalva Santana Barbosa de Aguiar, de 48 anos, o movimento é positivo. Dona do "Brechó da Mari", que fica na Rua Guilherme Matter, ela disse ao Terra que faturou em alguns dias o equivalente ao que costuma vender num mês. "Eu levo o brechó para o meio deles [manifestantes], com o carrinho. Antes ia sozinha, mas agora arrumei amigos que me ajudam a carregar as coisas. Todos são muito organizados. São gente bem unida", afirmou. 

Marinalva Santana Barbosa de Aguiar, dona do Brechó da Mari
Marinalva Santana Barbosa de Aguiar, dona do Brechó da Mari
Foto: Mariana Franco Ramos / Especial para Terra

Tanto o brechó como a casa onde o marido de "dona Mari", que é massoterapeuta, atende seus clientes, ficam dentro do perímetro cercado pela PF e pela Polícia Militar (PM). "O movimento continua normal, porque é tudo agendado. Aí a gente avisa e deixam passar", explicou. Questionada sobre o que acha da prisão de Lula e da situação política do País, contudo, a comerciante preferiu não opinar. "Eu teria que pensar. Não acho é nada", despistou.

Em ato na noite dessa quinta-feira (12), a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, agradeceu a recepção dos moradores, que segundo ela tem sido na maioria das vezes positiva. Há quem ceda a casa para integrantes das centenas de caravanas, que chegam todos os dias, tomarem banho e carregarem os celulares.

Entretanto, Gleisi admitiu que, para alguns, a presença das caravanas acaba sim atrapalhando. Barracas chegaram a ser colocadas nas calçadas e ao lado dos portões das residências. Também há banheiros químicos por ali. "Eu  entendo. Não acharia nada agradável. Mas a gente não está aqui para deixar ninguém com raiva, infernizar. Estamos aqui por uma necessidade. Trouxeram o Lula para cá e nós viemos. Se levarem para outro lugar nós vamos atrás".

Apoiadores do ex-presidente Lula dormem em barracas nas proximidades da Polícia Federal em Curitiba
Apoiadores do ex-presidente Lula dormem em barracas nas proximidades da Polícia Federal em Curitiba
Foto: Mariana Franco Ramos / Especial para Terra

Pedido de transferência

Na quarta-feira (11), o Sindicato dos Delegados de Polícia Federal do Paraná (SinDPF/PR) solicitou a transferência do ex-presidente do prédio da PF para uma unidade das Forças Armadas, usando como justificativa o fato de que o acampamento estaria prejudicando a rotina de quem trabalha no edifício ou vive nos arredores. Além da rotina policial, a superintendência realiza atendimento ao público, o que inclui emissão de passaportes, questões relacionadas a produtos químicos, segurança privada, armas e emissão de certidões de antecedentes criminais.

“Os moradores da região estão sofrendo os impactos da permanência do condenado. E nossos servidores, que deveriam estar fazendo trabalho de investigação, são obrigados a fazer a segurança do prédio, o que para nós representa um grande prejuízo”, argumentou o presidente do SinDPF, Algacir Mikalovski. O Sindicato diz ainda que há "comprovados riscos à população que reside no entorno do prédio da PF", por conta da instalação de barracas e "determinada estrutura". Para o SinDPF, a sede não é, "sob nenhum aspecto, local apropriado para o cumprimento de sentença penal condenatória”.

A PF não se manifestou sobre a proposta. O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Luís Antônio Boudens, porém, classifica a possibilidade de transferência do ex-presidente da carceragem da PF em Curitiba para uma repartição militar como um "movimento apressado e sem respaldo dos policiais federais". De acordo com Boudens, cada deslocamento gera custos para os cofres públicos e uma enorme demanda de pessoal, além de aumentar a possibilidade de confrontos e situações de embate entre grupos de apoiadores e de contrários ao ex-presidente.

Já as organizações à frente do acampamento Lula Livre informaram, por meio de nota, que estão instaladas pacificamente em área pública. “É notória a recepção dos moradores, que ajudam diariamente com água, energia elétrica, rede de internet. Muitos participam das atividades do acampamento, prestigiam nossas cozinhas e espaços culturais. A cada dia a imprensa presente pode verificar a melhoria na organização. A relação também é boa com o comércio”, escreveram.

As entidades asseguraram ainda que cumprem os acordos coletivos de silêncio das 22h às 7h. “Cerca de 80 pessoas da equipe de limpeza recolhem o lixo e fazem a limpeza todas as manhãs. E estamos sempre apontando melhorias na estrutura de banheiros. Realizamos uma carta aos moradores, onde reafirmamos nosso pedido de desculpas pelo transtorno, mas não somos responsáveis pelas violações, pela violência de sábado, esta sim precipitada pela Polícia Federal, nem pela arbitrariedades que estão sendo cometidas contra o presidente Lula."

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Fonte: Especial para Terra
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