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Política

Estado civil é maior diferença entre candidatas e candidatos

As solteiras têm maior disponibilidade de tempo para dedicar à política; entre homens, casados são maioria

24 ago 2018 - 07h00
(atualizado às 10h59)
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Entre as pessoas que disputam ou tentaram disputar as eleições de 2018, o mais comum é ser homem, branco, ter 49 anos na época da possível posse, ser casado e ter ensino superior completo. É provável, ainda, ser filiado ao PSL. O partido do presidenciável Jair Bolsonaro foi a legenda que mais registrou candidaturas no geral.

Entre as mulheres, também é mais comum ser branca e ter terminado o ensino superior. Elas, porém, se candidatam mais cedo. A idade mais recorrente entre as postulantes a cargo eletivo neste pleito é de 44 anos –a média dos candidatos é 48,5 anos e das candidatas, 46,4.

Mas a grande diferença entre homens e mulheres que decidiram disputar essas eleições é o estado civil. Enquanto dos 19.327 homens que registraram candidatura 61,1% são casados, o número de solteiras empata com o de casadas como maior parcela do grupo.

Foto: Terra / Dados do TSE
Foto: Terra / Dados do TSE

Dos 8.560 registros de candidaturas de mulheres, 40,6% são de solteiras (o número de casadas é exatamente o mesmo). Além de diferentes das candidaturas masculinas, as cifras também são distintas das próprias candidaturas femininas em 2006.

Aquelas foram as últimas eleições estaduais e nacional antes de ser mudada a redação da lei que determina cota de 30% das candidaturas para mulheres. Depois da alteração, os partidos passaram a se esforçar mais no cumprimento da regra.

Naquele pleito, houve 2.983 registros de candidaturas de mulheres. A diferença entre os percentuais de casadas e solteiras era de 13 pontos: 45,5% de casadas e 32,5%, solteiras.

O principal motivo para a prevalência de homens casados entre os candidatos e a maior participação de mulheres solteiras observada em 2018 é a disponibilidade de tempo, de acordo com as especialistas ouvidas pelo Terra. Muitas esposas, além de trabalhar fora, cuidam sozinhas de suas casas. Dessa forma, não conseguem participar ativamente da política.

Única ministra casada

Há 48 anos com o mesmo cônjuge, a tucana Solange Jurema diz ser uma exceção no meio político. Ela é presidente de honra do PSDB-Mulher e esteve à frente da Secretaria de Estado dos Direitos da Mulher de FHC. “Quando eu era ministra do Fernando Henrique, era a única casada com o mesmo marido há muito tempo”.

Ela afirma que é difícil esposas bem sucedidas manterem seus relacionamentos. “Ao contrário das mulheres, que se sentem até envaidecidas com o sucesso de seus companheiros, colaboram e são solidárias, com os homens é exatamente no sentido contrário”, diz.

Um motivo secundário para o aumento da quantidade de candidatas solteiras seria a desvalorização que o casamento sofreu nas últimas décadas. “Existia inclusive a figura da solteirona, que não existe mais”, conta a ex-ministra.

Segundo ela, não há relação entre a vigência da regra dos 30% e o aumento de mulheres solteiras que se candidatam.

"Tem alguns estudos que mostram que as mulheres que entram na política, se casadas, muitas se separam", explica a professora da Fundação Getulio Vargas Luciana Ramos. Ela também não vê relação direta da mudança com a cota. Na sua análise, é mais provável que as candidatas estejam acompanhando uma tendência geral de maior independência feminina.

Ela tem restrições à ideia de que o casamento está menos importante para o eleitorado. “A gente tem visto um conservadorismo maior na sociedade, vide as últimas pesquisas eleitorais”. A defesa da família tradicional está bastante presente na campanha.

Devido a essa característica da atual corrida eleitoral, a professora evita fazer afirmações categóricas. Colocou, porém, uma hipótese: 

“Ainda pode ser arriscado uma mulher talvez divorciada se candidatar por não ter essa coisa da família por trás, que é o que se espera do papel da mulher na sociedade ainda hoje.”

Aquelas que já têm uma carreira política consolidada são bem menos afetadas. Além disso, em eleições proporcionais como as disputas por cadeiras na Câmara, não é necessário agradar à maioria. Basta um nicho grande suficiente. Ser solteira ou divorciada pode eventualmente se tornar uma vantagem.

Os números

Os partidos com mais mulheres no páreo são Psol (439) e PSL (417), os mesmos que têm maior número geral de candidatura – 1.474 o PSL e 1.319 o Psol. Em termos relativos, o Partido da Mulher Brasileira (PMB) é o que tem maior representação feminina, com 39,4% de candidatas.

O Terra usou os dados disponíveis no repositório do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Incluem todas as candidaturas registradas, de presidente a deputado estadual, sem descartar vices e suplentes de senador.

Quem teve a candidatura indeferida também foi computado. Os números foram colhidos no site da Corte entre os dias 20 e 22 de agosto. Como a atualização dos dados é recorrente, pode haver modificação. A ocupação dos candidatos não foi incluída no levantamento porque a maior parte, tanto de mulheres quanto de homens, foi categorizada genericamente como "outros", o que não diz muito sobre o postulante a cargo público.

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Fonte: Redação Terra
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