Deputado do PSOL classifica Eduardo Bolsonaro como parlamentar remoto e ironiza Hugo Motta: 'Marmota gosta de toca'
Chico Alencar reage a parecer e prepara voto contra arquivamento da cassação do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)
Depois que o relator Marcelo Freitas (União-MG) recomendou o arquivamento do processo que pode levar à cassação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados virou palco de nova disputa. O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) deve apresentar nesta terça-feira, 14, voto em separado para tentar reverter o parecer e manter o caso em andamento.
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Em entrevista ao Terra, o parlamentar afirmou que a decisão de arquivar o processo compromete a imagem da Casa e da própria instituição parlamentar. “Eu vou relatá-lo durante os dez minutos a que terei direito, para que o Conselho pense na ética e no decoro parlamentar e não arquive isso, que vai pegar muito mal para a Câmara. Aquela hashtag ‘Congresso inimigo do povo’ está em alta. Isso é muito grave”, afirmou.
Para o deputado do PSOL, o relatório de Freitas “andou muito mal” e representa um enfraquecimento da função fiscalizadora do Conselho. Alencar lembrou que Eduardo Bolsonaro não apresentou defesa prévia nem contratou advogado, o que levou à nomeação de um defensor público para representá-lo. O episódio, segundo o deputado, é “inédito e inaceitável”.
“Acredite, ele não apresentou defesa prévia, o que todo mundo faz. Ele não compareceu ao julgamento e nem constituiu advogado. Tudo isso é inédito no Conselho de Ética. Estou lá desde o tempo do Mensalão, Petrolão… nunca vi isso”, argumentou.
A utilização da Defensoria Pública da União (DPU) para defender o filho do ex-presidente é questionada pelo psolista. Na avaliação dele, o uso do órgão distorce sua função constitucional.
“A Defensoria Pública, como diz o artigo 134 da Constituição, existe para orientação e defesa dos mais pobres, dos necessitados. Está explícito no texto constitucional. Quer dizer que o Eduardo Bolsonaro, que recebeu uma ajudinha do pai de 2 milhões para se manter nos Estados Unidos, está no campo dos necessitados brasileiros? Absurdo em cima de absurdo”, afirmou.
Para Alencar, Eduardo Bolsonaro se tornou um "deputado remoto": “Ele age contra o interesse nacional, e a população está percebendo. Creio que até os 700 mil eleitores dele caíram à metade. Aliás, ele já teve 1 milhão e meio de votos, agora teve 700 mil e não está exercendo mandato no Brasil. Está ganhando falta, não participa de nenhuma votação, diz que não pode voltar ao Brasil, e pode, legalmente. Apesar de estar, inclusive, como já disse, indiciado por obstrução e coação no curso do processo, no caso da tentativa de golpe.”
Anistia e o 8 de janeiro
Ao comentar o debate sobre anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro, o deputado classificou a proposta como uma tentativa de normalizar crimes contra a democracia.
“Não cabe anistia, não dá para comparar com a de 1979, que era daqueles que enfrentaram uma ditadura feroz, tortura, censura, prisão clandestina, banimento, exílio, morte. Usar essa expressão agora, quando a gente reconquistou a duras penas uma democracia, é patético. Não tem nada a ver. Aquilo foi uma anistia; agora não é passar pano para golpista.”
O Brasil vive um momento em que o perdão institucionalizado pode ser confundido com conivência, segundo análise de Alencar. “Hoje existem 141 presos apenas daqueles mais de mil indiciados. Logo serão reduzidos, vão ficar na domiciliar, vão sair dessa condição de restrição. Se der anistia, será um salvo-conduto para o golpismo continuado no Brasil. Nós repelimos qualquer expressão que venha nesse sentido.”
“A marmota gosta de tocas”
A gestão do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), foi alvo de críticas por parte do parlamentar do PSOL. Com ironia, fez um trocadilho para descrever a postura do parlamentar diante das recentes pressões políticas.
“A marmota é um bicho que não é nativo do Brasil e que gosta muito das tocas e aparentemente é muito tímido, muito assustado. Eu diria, fazendo uma analogia, que o Hugo Motta tem agido assim: com muita timidez e pouca visibilidade. Ele vai para um lado, vai para outro.”
Ao recordar a ocupação da mesa-diretora da Câmara pela oposição em setembro, para negociar a anistia e a PEC da Blindagem. “O que ele sofreu naquela tomada da presidência dos trabalhos... Hugo Mota ficou acuadíssimo. Negociaram via Arthur Lira a desocupação da mesa, desde que ele atendesse a pauta. E ele colocou isso em pauta. Já se rebaixou demais. Às vezes, falta pulso, falta decisão.”