Braga Netto chega ao STF para acareação com Mauro Cid
Esta é a primeira vez que os dois militares se encontram pessoalmente desde a prisão do ex-ministro da Defesa
Braga Netto participa de acareação no STF com Mauro Cid para esclarecer divergências sobre uma suposta entrega de dinheiro em caixa de vinho e planos de golpe de Estado, negando as acusações feitas pelo delator.
O ex-ministro da Defesa e general Walter Braga Netto chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) por volta das 9h30 desta terça-feira, 24, para uma acareação com o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid. Após Cid citá-lo em sua delação premiada, os dois militares ficarão frente a frente para esclarecer divergências no que falaram sobre a tentativa de golpe de Estado.
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Esta é a primeira vez que os dois militares se encontram pessoalmente desde a prisão de Braga Netto. A acareação, solicitada pela defesa do general, ocorre na sala da Primeira Turma do STF. Anteriormente, por estar preso no Rio de Janeiro, Braga Netto havia participado apenas por videoconferência dos interrogatórios.
O ex-ministro da Defesa chegou ao STF acompanhado de seus advogados e, obedecendo à determinação do ministro Alexandre de Moraes, com o uso de tornozeleira eletrônica. Também por ordem do magistrado, ele não deu declarações à imprensa durante sua chegada.
Divergências em depoimentos
A acareação é um procedimento previsto tanto no Código de Processo Civil quanto no Código de Processo Penal, com o objetivo de apurar a verdade por meio do confronto entre partes, testemunhas ou outros participantes do processo judicial que tenham prestado versões divergentes.
O principal ponto de contradição entre Cid e Braga Netto diz respeito a uma suposta caixa de vinho repleta de dinheiro, que teria sido entregue pelo militar ao ex-ajudante de ordens para custear iniciativas do suposto golpe.
O delator afirmou que Braga Netto lhe deu o valor em espécie dentro de uma “caixa de vinho” no Palácio da Alvorada. Segundo Cid, a embalagem estava fechada, mas ele tinha ciência de que continha dinheiro e alega que provavelmente repassou o item no mesmo dia ao major Rafael de Oliveira, acusado de orquestrar o plano Punhal Verde e Amarelo, que visava assassinar autoridades, entre elas o ministro Alexandre de Moraes.
O tenente-coronel declarou que ocultou o valor próximo à sua mesa no Alvorada e que a entrega do dinheiro poderia ter acontecido na garagem ou em um dos corredores.
Por outro lado, o ex-ministro da Defesa e da Casa Civil desmentiu ter fornecido qualquer quantia a Mauro Cid em uma “sacola de vinho” ou por outro meio. Braga Netto sustentou que Cid o abordou questionando se o PL poderia arrecadar fundos para a “campanha”, conforme teria dito o ajudante, e que ele encaminhou o pedido ao tesoureiro do partido.
O tesoureiro, no entanto, comunicou que não havia respaldo para atender à solicitação de Cid. Diante da recusa, Braga Netto relatou que respondeu: “então morre o assunto”.
Em depoimento no começo do mês, Cid também mencionou um encontro em 12 de novembro de 2022 na residência do general, do qual participou por até 15 minutos.
A acusação da Procuradoria-Geral da República (PGR) alega que, na ocasião, foi debatido o atentado contra figuras como o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice Geraldo Alckmin (PSB). O ex-assessor relatou que, ao se despedir, Braga Netto lhe disse que “seriam tomadas medidas operacionais” e, por sua proximidade com Bolsonaro, seria melhor que ele não se envolvesse.
Sobre o episódio, o ex-comandante do Exército descreveu o evento como uma “visita”, na qual Cid compareceu com “dois forças” que desejavam conhecê-lo: o coronel Hélio Ferreira Lima e o tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira, “kids pretos” atualmente em prisão preventiva.
Braga Netto ressaltou que não costumava receber pessoas em sua residência, mas que, após as eleições de 2022, passou a atender apoiadores.