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Política

Bancada do PMDB na Câmara decide não participar de reforma ministerial

5 fev 2014 - 19h11
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A bancada do PMDB na Câmara dos Deputados decidiu nesta quarta-feira abrir mão de indicar nomes para o gabinete da presidente Dilma Rousseff, em uma clara demonstração da insatisfação do partido com os rumos da reforma ministerial.

A decisão não implica um rompimento com o governo "independentemente da ocupação de qualquer cargo, em função da responsabilidade que temos para com o país, principalmente em relação ao desempenho da economia", segundo uma nota aprovada por unanimidade pelos deputados peemedebistas.

A promessa foi reforçada pelo líder da bancada, deputado Eduardo Cunha (RJ), após a reunião.

"Eu assinei o pacto que foi feito pelos líderes da base aliada e os presidentes dos partidos que nós não votaríamos matérias que impliquem aumento de despesa. Não há nenhuma alteração e não haverá da parte do PMDB sobre esse aspecto", disse Cunha a jornalistas.

Ele se referia ao pacto assinado no ano passado a pedido de Dilma para demonstrar o compromisso do governo com a austeridade fiscal.

A reação ocorreu depois que a presidente disse em uma reunião na segunda-feira com o vice-presidente, Michel Temer, que o partido não ampliaria seu espaço na Esplanada dos Ministérios, disse à Reuters uma fonte do Palácio do Planalto.

Dilma teria sugerido ainda que a bancada na Câmara teria que abrir mão de uma de suas indicações para que o senador Eunício Oliveira (CE) ocupasse a pasta da Integração Nacional, segundo a fonte.

O pedido de Dilma irritou ainda mais os deputados, que viram neste movimento uma manobra para atender aos interesses do PT no Ceará, que quer Oliveira fora da disputa para construir uma aliança com o nome indicado pelo governador cearense, Cid Gomes.

Atualmente, o PMDB comanda os ministérios da Previdência, da Aviação Civil, de Minas e Energia, do Turismo e da Agricultura, esses dois últimos com indicações dos deputados.

"A razão desta decisão deve-se a disputas políticas públicas por cargos, em que preferimos deixar a presidente à vontade para contemplar outros partidos em função das suas conveniências políticas e/ou eleitorais", segundo a nota.

Cunha disse que é melhor não estar representado do que subrepresentado.

"Nesse momento o que nós decidimos é que a bancada do PMDB na Câmara cansou desse processo de cargos que tem que indicar, que não tem que indicar", disse. Ele afirmou, porém, que se houver uma nova rodada de negociações com a presidente, a bancada pode discutir o tema novamente.

O clima da reunião foi bastante tenso e parte dos parlamentares chegou a sugerir que o partido rompesse com Dilma e entregasse todos os cargos que ocupa no governo.

O deputado Danilo Forte (CE) afirmou durante a discussão que ser aliado atualmente "traz prejuízo para a imagem do PMDB". Fora da reunião, questionado pelos jornalistas se a bancada deixaria a base aliada, ele respondeu: "O PMDB continua no governo, ninguém pode enforcar o Michel Temer."

O presidente em exercício do partido, senador Valdir Raupp (RO), disse à Reuters que a nota e a posição da bancada ficaram mais brandas após várias reuniões que ocorreram desde segunda-feira.

"Já era esperada (no partido essa decisão da bancada). Conversamos bastante (antes), por isso saiu uma nota mais branda", afirmou.

Raupp disse que conversou com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que pediu que ele dissesse aos deputados que a presidente não havia fechado nenhuma decisão sobre a reforma e que ainda haveria mais negociação com o partido.

"O que o país menos precisa nesse momento é de uma crise política", disse.

A Reuters procurou o Palácio do Planalto para comentar a decisão dos peemedebistas, mas não obteve resposta.

NOVELA DA REFORMA

As conversas entre Dilma e o PMDB sobre a reforma ministerial já duram meses. No ano passado, assim que o PSB deixou o governo e as duas pastas que comandava (Portos e Integração Nacional), os peemedebistas pressionaram pela nomeação do senador Vital do Rêgo (PB) para a Integração Nacional, mas o pedido foi rejeitado pela presidente.

À época, ela argumentou que aguardaria para fazer as mudanças no primeiro escalão no começo de 2014.

O PMDB aceitou o argumento, mas continuou com a esperança de herdar uma das pastas que eram comandadas pelos socialistas e que conseguiria fazer Vital ministro.

Desde dezembro, porém, Dilma oscila nas negociações que mantém com o maior partido da sua base aliada no Congresso, ora indicando que dará mais uma pasta ao PMDB, ora sugerindo que não poderá atender ao pedido porque precisa incluir mais legendas aliadas para formar uma aliança eleitoral mais forte para a reeleição.

No começo do ano, Dilma deu duas informações contraditórias na mesma semana a Temer. Na primeira reunião, disse que não teria como acatar a vontade do PMDB. Dois dias depois, com a reação negativa dos parlamentares do partido, indicou que poderia ampliar de cinco para seis o número de ministérios sob o comando peemedebista, mas não daria a Integração Nacional.

No novo capítulo da novela nesta semana, Dilma surpreendeu os peemedebistas novamente. Ofereceu o comando da pasta de Integração Nacional, mas pediu que o partido indicasse o líder da bancada no Senado, Eunício Oliveira (CE).

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